“Peixe morre pela boca”, comenta um membro do principal partido político do Tricolor das Laranjeiras, a Flusócio, ao ser questionado sobre o que achava da exoneração da diretora social do Fluminense, Maria Alice Dias. Há cerca de duas semanas, a secretária executiva de uma firma de advocacia deixou de fazer parte do corpo de abnegados que ocupam cargos de confiança na diretoria do clube tantas vezes campeão. A derrocada veio depois do “sincericício” nas redes sociais, quando fez algumas críticas à gestão, em postagem (ver imagem abaixo), no Facebook pessoal de um dos líderes do MR21, grupo de oposição, e articuladores da campanha de Pedro Trengrouse, Antônio Gonzalez.
Encarregada de ser o braço direito do vice-presidente social do Fluminense, Marcelo Fagundes, a ex-diretora dava apoio para algumas ações, principalmente festas no clube, embora alguns dos eventos não tenham uma liderança clara. Um exemplo foi o baile de aniversário do clube, promovido pelo marketing, sem a participação do departamento social. A função de Maria pretendia, sobretudo, dar suporte na elaboração e execução de projetos que visavam a beneficiar o sócio que frequenta as Laranjeiras. Procurada pelo NETFLU, ela falou sobre a cronologia de sua destituição da pasta, sem demonstrar arrependimento pelos dizeres nas redes sociais.
– Fiz um comentário, a diretoria, o presidente não gostou, ligou para ele (o vice do departamento social, Marcelo Fagundes) dizendo que não aceitava esse tipo de crítica e pediu para me exonerar. Respondi “tudo bem”. Agora eu me sinto totalmente livre para falar. Apoio os posts que acho que traduzem o que eu penso e ponto. São críticas de todo mundo. Resumindo: o Marcelo (Fagundes) me ligou e perguntou: “o que foi que você falou na internet que o Peter está puto? Ele falou comigo e eu não tenho outra coisa a fazer a não ser te exonerar”. Eu respondi: “diga a ele que a diretora social está com a língua solta a partir de agora. A minha tramela está solta”. Não acho que falei nada que todo mundo não diga. Exoneração é uma palavra mágica. A diferença é de interpretação: eu fiz um comentário em cima de uma coisa que está clara – explicou.
Diferentemente do que Maria Alice afirmou, entretanto, Marcelo Fagundes, que também fora ouvido pelo portal número 1 da torcida tricolor, assumiu a responsabilidade pela exoneração. Conforme o dirigente, o mandatário tricolor, Peter Siemsen, não participou da decisão.
– Na tarde do último dia 28 fui informado de uma mensagem da Maria Alice numa rede social. Assim que soube do seu conteúdo, tomei a decisão de destituí-la da Diretoria Social. Ressalto que essa decisão foi tomada exclusivamente por mim, sem nenhuma interferência do presidente ou de qualquer outra pessoa. Assim que a comuniquei, informei ao conjunto do Conselho Diretor. Além de discordar do conteúdo da referida mensagem, defendo, e pratico, o ditado “roupa suja se lava em casa”, portanto se ela tivesse alguma crítica, que a fizesse internamente – verbalizou, com exclusividade.
Convidada para o cargo pelo próprio Marcelo Fagundes, entre agosto e setembro do ano passado, a então diretora social só foi homologada por volta de janeiro de 2016. Completando quase um ano, ao todo, no departamento, as mágoas são latentes. Para ela, o caso poderia ter sido conduzido de outra forma, abrindo dialogo antes, advertindo ou coisa do gênero. Reiterando críticas, ela destacou que suas queixas públicas também eram feitas no privado.
– Enquanto eu era da gestão, dizia que a gestão estava se esquecendo do social. Simples. Para a gestão, o social é um apêndice, ou seja, só percebem quando inflama. Se o social tivesse um incentivo, investimento, um olhar para pensar que o Flumiennse é um clube de futebol e tem uma sede que não pode ser abandonada, muita coisa já teria sido feita. O que eu perdi? Nada. Não estou desmerecendo o cargo, o clube, mas é uma função decorativa. Em diversas oportunidades, gastei dinheiro do meu próprio bolso com deslocamentos, estacionamento e etc. Quais projetos você consegue tocar dentro do Fluminense? Não há incentivo. Talvez, se tivesse que colocar alguma palavra para traduzir o meu sentimento sobre o que ocorreu, eu diria que foi “covardia”, no sentido mais romântico. Faltou o enfrentamento direto por parte deles (da diretoria). Eles podiam ter pego o telefone e ligado pra mim, conversado. Porém já ligaram com uma decisão tomada. Mas a comunicação não é o forte e acho que vocês (o NETFLU) já sentiram na pele como funciona (referindo-se à proibição da entrada do site na sede tricolor, sem nenhuma justificativa da direção). A gente não tem uma comunicação decente, não fala com sócio, torcedor, fico estarrecida. A gente tem uma medalha olímpica, mas quem sabe disso? Quase ninguém. Ela está lá no Fluminense. Eu soube porque uma pessoa comentou isso comigo – desabafou.
Horas antes de ser exonerada do cargo, Maria Alice havia enviado um e-mail para um dos líderes da Flusócio pedindo o seu desligamento oficial do grupo. Criticando a postura de seus antigos pares em diversos aspectos, ela revelou que nunca deixou, porém, de ser um braço da facção política no Conselho Deliberativo. Além disso, ela entendeu que o fato de sua destituição da diretoria social ter ocorrido, justamente, no mesmo dia em que pediu para deixar o grupo, fora uma coincidência.
– Pedi o desligamento oficial da Flusócio. Quando começou a questão de campanha (do Pedro Abad), eu tinha decidido que não me posicionaria, porque estava na diretoria social. Queria um presidente que se importasse. Pouca gente pensa é que daqui a pouco a gente vai para o CT da Barra da Tijuca, mas se esquecem que o social não está suscetível a gangorra do futebol, para quem o frequenta de verdade. Tem gente que escolheu aquele lugar para o divertimento. A minha saída da Flusócio, de maneira extraoficial, é anterior ao que está acontecendo agora. Já quis me desligar do grupo por não concordar com o que estava acontecendo. Isso aconteceu na mesma época que fui convidada para ser diretora social (há pouco menos de um ano). Mas sempre me mantive fiel a votar com eles. O fato de eu estar afastada por questões pessoais, não fez eu votar contra. O que aconteceu agora foram outras coisas que me deixaram de “saco cheio” de algumas posturas que o grupo tem. Quando o copo está cheio, uma gota é o suficiente para fazê-lo transbordar. A decisão de sair estava tomada, mas queria fazer um desligamento oficial. Ocorre que teve a história da exoneração, mas é que eu mandei um e-mail pedindo a minha saída do grupo à tarde e recebi minha exoneração à noite. Mas acho que não tem ligação. Não é uma punição, acredito. Eu não disse mentira nenhuma, mas não foi tolerada. Se tentativa de punição, não atendeu ao objetivo – concluiu.