Diretor executivo de futebol do Fluminense, Paulo Angioni é formado em administração e psicologia. Além disso, já trabalha há 39 anos com o esporte. Com tal experiência, ele aponta o adoecimento de muitas pessoas ligadas ao futebol e destaca a importância de se preocupar com o lado humano.
— Eu já falo isso há muitos anos: as pessoas estão adoecendo no futebol e ninguém parece se preocupar. Embrulha e joga fora. É triste. O futebol encurta a vida do ser humano. Antes, com 30 anos, já era velho. Alguns jogadores, depois, construíram longevidade maior. Mas hoje já se voltou a utilizar o rótulo. Estamos perdendo craques, mas o mais importante que isso, pessoas – afirma, complementando:
— A preocupação com o ser humano aumentou no futebol. Até porque não tem jeito. Os jogadores passaram a ter coragem e explicar seu processo de depressão. Com síndrome do pânico, por exemplo. Isso existe faz tempo. Mas não havia coragem. O sistema não permitia, por conta da pressão.
Um novo aparato é visto também por Angioni como um complicador. As redes sociais. Ele mesmo não tem nenhuma, exceto pelo WhatsApp pela necessidade de trabalhar. Num ambiente em que uma crítica ganha mais velocidade e alcance, acaba por tumultuar ainda mais a cabeça dos atletas em sua opinião.
— As mídias sociais atingem o jogador. E eles passam a ter mais preocupação. Se sentem afetados pela forma como as pessoas lidam umas com as outras. A solução é entender uma nova vida, mas, para isso, é preciso uma base que eles não tem – destacou.
Por fim, Angioni aponta a forte pressão em todos os envolvidos com o futebol como um fator complicador para a saúde dos atletas, muitas vezes negligenciada em virtude da necessidade de rendimento tanto em campo quanto fora dele.
— O mundo da pessoa muda. Para a própria saúde faz mal. Mas as pessoas no futebol gostam de rótulos. E os valores estratosféricos dificultam a controlar essas coisas. O sistema é tão forte que as pessoas não permitem se descobrir. A pressão externa é muito forte – explicou.