Nobres tricolores,
em pouco mais de um ano, o Fluminense irá encarar três equipes uruguaias, algo, creio eu, inédito na nossa história. Eliminamos o modesto Liverpool na Copa Sul-Americana de 2017 com enorme sufoco e passamos sem dificuldades pelo Defensor Sporting nesta temporada. A partir desta quarta, vamos medir forças com um dos gigantes “uruguachos”.
Não é novidade. Será o décimo encontro entre Fluminense e Nacional. O retrospecto é negativo. Apenas uma vitória, quase 70 anos atrás, num amistoso disputado nas Laranjeiras: 2 a 1. Os confrontos mais marcantes, claro, foram os dois últimos pela Libertadores de 2011. Na fase de grupos, empatamos em 0 a 0 no Engenhão e perdemos no Centenário por 2 a 0. Mas qual é a desse Nacional de hoje?
É vice-líder do campeonato local, quatro pontos atrás do Peñarol, o que pouco significa. O futebol uruguaio vive uma crise técnica sem precedentes. Os times são muito limitados. Pudemos constatar o nível ao enfrentar o terceiro principal clube daquele país. O Defensor brigaria para não cair no Carioquinha da Ferj. De qualquer maneira, impossível desconsiderarmos a tradição do Nacional em competições continentais e também a quantidade de jogadores cascudos no elenco deles.
Você que me acompanha sabe que tenho um “espião” no Uruguai. Trata-se de Juan Pablo Aguirre, figurinha carimbada no twitter. Fundador da Rádio Pasillo, ele é torcedor do Liverpool e amante do futebol. Narra jogos do time do coração e apresenta programas de esportes naquela terra que aprendi a gostar. Já nos ajudou no início do ano, listando atletas interessantes e de custo baixo para o Fluminense. Um dos nomes, David Terans, fechou com o Atlético-MG.
A missão, desta vez, era mais simples, já que, devido ao trampo, está mais do que acostumado a acompanhar o Nacional. Me ajudou a destrinchá-lo. De cara, alertou para o ponto mais fraco do time azul, vermelho e branco, o mesmo do nosso: a defesa.
Juan explica que Rafael García, um dos defensores, é alto, mas muito lento e tecnicamente fraco. Luta, mas sofre em demasia com jogadores rápidos. Do outro lado, Erramuspe (sem trocadilhos), argentino, é considerado pelo radialista como um atleta sem capacidades mínimas para atuar pelo Nacional. Ou seja, Everaldo neles!
Na lateral direita, um conhecido dos brasileiros: Fucile. Atuou por Santos e Porto (POR). Sabe jogar, mas a idade – 33 anos – pesa. Espino é o lateral esquerdo. Muito veloz, mas sem a garantia de proteção dos zagueiros e volantes, dependendo da partida, acaba não apoiando tanto o ataque.
Os principais jogadores são Gonzalo Castro e Berghesio. O primeiro é um meia, esteve muitos anos na Europa e tem experiência. É a cabeça pensante da equipe. Demorou a buscar entrosamento com os companheiros, mas é aquele jogador do passe diferente, que dá um ritmo mais rápido no meio-campo. Também pode atuar aberto pelas pontas.
Berghesio é o típico camisa 9. Alto, lento, brigador, não se entrega, ma quando tem a bola…Juan Aguirre o comparou ao “finado” Henrique Dourado. É daqueles centroavantes que maltrata a pelota, mas se derem brecha, empurra para a rede.
O time joga, basicamente, em duas formações: 4-4-2, em desuso no Brasil, e 4-3-3. A tendência é a de que enfrente o Flu no Engenhão com o primeiro sistema. São eficazes nos contra-ataques, mas sofrem quando necessitam pressionar o adversário. É unânime na imprensa uruguaia que aquele 2 a 0 sobre o San Lorenzo (ARG), que decretou a classificação às quartas de final, foi o “jogo perfeito”, a melhor partida da temporada.
Pelo estilo do treinador, Alexander Medina, podemos esperar um jogo truncado. Nacional vai vir para o Rio, basicamente, com a finalidade de empatar. Abusarão das faltas, vão parar o jogo sempre que puderem. A velha catimba uruguaia que, infelizmente, os brasileiros quase sempre caem. A cartilha feita por Mediana quando comandava a base do Nacional num clássico com o Peñarol o denuncia.
Em um dos trechos, escreveu que “não se cumprimenta o rival, apenas o capitão”. Noutro, “Sobrancelha franzida o jogo todo”. E segue: “Ganhamos todas as divididas”, “Em caso de tumulto, sempre com a maioria dos jogadores nossos”, “Obviamente não se demonstra dor por nada”. Os caras vão comer grama, se possível, para não saírem derrotados do Engenhão.
O Fluminense precisa fazer o jogo dele e é aí que preocupa. O time do Marcelo Oliveira tem enormes dificuldades de propor. Quando pega equipes muito fechadas, que será o caso desse Nacional, não consegue criar. Atacando, o Tricolor se resume a Ayrton Lucas e Everaldo pelo lado esquerdo. Sornoza, quando bem marcado, some. Richard não dá para contar, Jádson é irregular e na ala direita, uma incógnita.
Diante das características do adversário, acima descritas, eu entraria com dois pontas, sacando um dos zagueiros. A defesa dos caras é muito lenta. Com jogadas individuais de Everaldo e Matheus Alessandro podemos desarmar o bloqueio uruguaio.
Com três zagueiros e um volante destruidor perdemos um atleta a mais na criação. O Nacional não vai querer jogo. Aposto que será aqueles duelos típicos de ataque contra defesa. E como os brasileiros são impacientes, se o gol não sair, vamos ficar no chuveirinho, dependendo da bola parada para buscar Gum, Ibañez e Digão. A torcida vai se irritar, os atletas ficarão nervosos e a coisa pode degringolar.
Daniel, pelo meio, é uma alternativa de passe. Dois armadores servindo Everaldo e Luciano pode ser interessante. Mas seria minha segunda opção de jogo, por se tratar de uma partida de muito contato físico. Em suma, entraria com: Júlio César; Léo (Dodi), Digão, Gum e Ayrton Lucas; Richard, Jádson e Sornoza; Everaldo, Matheus Alessandro e Luciano. E você?
– Ibañez vem mal. Como erra passe na saída de bola!
– E também tem um tempo de bola péssimo. Isso se corrige com treino.
– Everaldo é o jogador mais inteligente e eficiente deste Fluminense.
– Uma pena que, conhecendo essa gestão, provavelmente estará noutro grande em 2019.
– O nono lugar nunca foi tão confortável.
Um grande abraço e saudações!
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