Há pouco mais de cinco anos, o Fluminense anunciava a assinatura de um acordo com o Consórcio Maracanã S.A, que prometia revolucionar as arrecadações do clube, acabando com os prejuízos, sobretudo em partidas com público baixo. Na ocasião, Peter Siemsen, então presidente, bradava que o Tricolor ainda teria direito a renda referente à venda de 43 mil lugares do estádio (atrás dos gols), os quais ficariam reservados para a instituição verde, branca e grená. O que foi constatado como grande jogada do presidente, passou a virar um tiro no próprio pé com o passar dos anos depois que o clube aceitou, por vontade própria, aditivos que elevaram consideravelmente os custos.
No acordo inicial, o Fluminense se comprometeu a jogar no Maracanã sempre que for mandante em partidas. O clube teria de pactuar somente com o pagamento de impostos, taxas da federação e outros custos fixos (arbitragem, doping, etc). Tudo isso mudou, no entanto. Uma análise entre os borderôs de três partidas do Campeonato Brasileiro de 2014 e três jogos da mesma competição neste ano, mostram a enorme discrepância. Em ambos, foram analisados públicos em torno dos “15 mil de sempre”, como os torcedores do Flu apelidaram os fãs mais fiéis que frequentam o estádio regularmente.
Os jogos analisados de 2014 foram: Fluminense x São Paulo, válido pela 6ª rodada da competição nacional, que terminou em 5 a 2 para o Time de Guerreiros; Flu x Sport Recife, duelo disputado no dia 24 de agosto, válido pela 17ª rodada, com triunfo tricolor por 4 a 0; Fluminense x Palmeiras, com mais uma goleada tricolor, agora por 3 a 0, válido pela 21ª rodada da competição, no dia 13 de setembro de 2014. Em todos esses jogos, com uma faixa de público de 15 a 20 mil, o Tricolor obteve lucro.
Veja os borderôs das partidas supracitadas de 2014 (em azul, a quantidade de ingressos vendidos e o resultado financeiro):
Em 2018, depois de quatro aditivos, sendo o último definido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no ano passado, os custos do estádio explodiram. Um exemplo disto vale para a terceira rodada do Brasileirão deste ano. Embora o Tricolor tenha obtido lucro pouco mais de R$ 33 mil, com um público de 19.237 pagantes, se esta realidade fosse transportada para 2014, numa bilheteria de R$ 565 mil como ocorreu neste jogo, o Fluminense teria um lucro cinco vezes maior.
Nos outros dois jogos analisados de 2018, contra a Chapecoense, pela 7ª rodada, que terminou em 3 a 1, e frente ao Bahia, pela 17ª rodada, empate em 1 a 1, o prejuízo foi grande para o clube das Laranjeiras. Importante ressaltar que os públicos são bastante similares aos de 2014, assinalados na matéria, para comparação. A diferença, novamente, volta a ser lucro no passado e prejuízo no presente.
Veja os borderôs detalhados das partidas citadas de 2018 (em azul (lucro) e vermelho (prejuízo), a quantidade de ingressos vendidos e o resultado financeiro):
Percebe-se ainda que o valor do ticket médio dos três jogos de 2014 comparado com os três de 2018 com os “15 mil de sempre” tem pouca variação. Há quatro anos, ele valia R$ 31,8 contra R$ 29,1 atualmente.
Por conta dos contantes prejuízos, o Fluminense chegou a fazer uma parceria com o America, mandando alguns jogos em Edson Passos. A parceria não continuou após reclamações de torcedores e problemas com a manutenção do estádio, que teve parte de sua cobertura destruída, em função de um temporal no no primeiro dia de 2017. Além disso, um grupo de torcedores trabalha nos bastidores para revitalizar as Laranjeiras, fazendo com que o Fluminense mande jogos de pequeno e médio porte em sua sede histórica.
No meio de tantos números diferentes na comparação entre 2014 e 2018, a pergunta que segue é: por que a mudança de um contrato realmente vantajoso para algo que colocava em xeque o uso do Maracanã por parte do Fluminense? Para finalizar, o Tricolor foi cobrado de maneira pública pela administração do estádio recentemente por não pagar o uso do mesmo, no que tangem as despesas. A Ferj entrou na jogada e costurou um acordo, incluindo o Vasco, para que o Fluminense pudesse utilizar o “Maior do Mundo”.
Nesta quinta, às 19h, contra o Vitória, pelo Campeonato Brasileiro, o público deve ser baixo e o clube, novamente, terá prejuízo. Quatro anos atrás…