Danilo diz que nem os companheiros acreditaram na história contada por ele (Foto: Mailson Santana - FFC)

Recém-chegado ao Fluminense, Danilo Barcelos se entrosou bem com o time e é adepto da resenha. Em entrevista ao podcast do ge, o lateral-esquerdo revelou uma história dos seus tempos de base e várzea que nem os companheiros acreditaram.

Ao estourar a idade do sub-20 no América-MG, foi emprestado ao Aracruz-ES e começou a participar de partidas em torneio amador. Ele conta a história inusitada.

 
 
 

— Contei isso outro dia lá na mesa, os caras não acreditaram, acharam que era lorota. Tinha ido pro Aracruz, do Espírito Santo, meu primeiro clube profissional. Empréstimo do América-MG, com 20 anos, tinha estourado a idade. Fomos uns sete garotos do América. Chegamos lá, vimos a estrutura… Todo mundo abandonou, ficamos eu e um goleiro. Eu resolvi ficar, não ia voltar pra só ficar treinando separado no sub-20. A situação era difícil. Joguei o Capixaba. Com dois meses de campeonato, era titular. Uns 11 do meu time jogavam amador no domingo. O amador do Espírito Santo é forte. Eles jogavam o profissional no sábado e iam pro amador no domingo. Ganhavam R$ 250 pra jogar. Eu ganhava mil na época. Ganhava mil e não ganhava, porque não recebia. Passaram umas três semanas, os caras indo e me chamando, eu moleque, pensava: “não dá pra ir”. Eu era do América, aquele medo. Um fim de semana aceitei. Joguei no sábado, o time bem. Fui no domingo, cheguei lá tinha energético e tudo. Tudo era melhor que o do meu time. Pensei: “Estou no lugar errado, irmão”. “Vou ficar só aqui no amador”. No primeiro fim de semana, ganhamos de cinco. Fui no outro fim de semana, ganhamos de novo de cinco. Eram todos profissionais. E recebia o cheque no vestiário. R$ 250, tá – disse, emendando:

— Aí no terceiro fim de semana, chegamos lá para jogar, um negócio estranho. Tinham uns dez mil para assistir. Eu pensei que não era normal. Dez mil pessoas para assistir um jogo de futebol amador? E eu jogava de zagueiro porque chegava cansado do jogo de sábado. Eu avisei que iria só se fosse de zagueiro, ficava só fatiando bola. Aí entramos para jogar, fileira, hino nacional. Por que? Porque os caras do outro time contrataram o Túlio (Maravilha) para jogar um jogo e fazer gol. Ele estava contando os gols ainda (atrás do milésimo). Nessa sexta antes de ir, o presidente do Aracruz me chamou e falou que sabia que estávamos indo pro amador. Falou que não ligava. Também, não estava pagando salário. “Só não sai no jornal”, ele falou. E lá o amador é mais forte que o profissional. Sai até mais no jornal. Fomos lá, jogamos, estava 4 a 0 para nós. No último lance, eu de zagueiro, o cara chutou uma bola, bateu na trave e voltou no pé do Túlio. Ele empurrou pra dentro. No dia seguinte, quem está no jornal? Túlio Maravilha com a bola na mão. “Túlio comemora seu 948° gol”. E eu lá atrás, mão na cintura, cabeça baixa: “Danilo lamenta o gol de Túlio”. Presidente queria me matar. Aí acabou a mamata, tivemos de parar de ir. Último lance, gol do homem. Aí levei uma bronca danada, porque eu era do América-MG. O presidente: “Se você machuca lá, como conto pro América?”. Tenho muitos amigos lá no Espírito Santo até hoje, inclusive tricolores.