Foi a pior lesão da sua carreira?
Foi a pior lesão da minha carreira. Fiquei parado oito meses, praticamente. Depois, tem a sequência para se condicionar, pegar confiança, ainda sentir um pouco de dor. Mas tudo me fortaleceu muito. Sempre pensava que não passaria pelo o que passei. Me fortaleceu como jogador e como homem. E também para poder passar isso aos mais jovens. O tempo é curto. Procuro passar minha experiência para os mais novos. Não sou o dono na verdade, não sei tudo. Mas sei mais do que os mais jovens.

Como foi o tempo fora dos gramados?
Cara, nunca falei disso. Tomei uma pancada no joelho num jogo-treino, de pré-temporada. Daí em diante, começaram as dores. Eu joguei com essas dores durante três meses na Inter. Os médicos me avaliavam e diziam que eu não tinha nada. Que dava para continuar jogando. Como não estudei e não tenho conhecimento de medicina, acreditava no que me falavam. Foi indo e acabei me machucando mais, ao ponto de não conseguir nem treinar. Subia escada e doía. Tive a lesão em julho de 2014. E só vim a operar em 11 de fevereiro de 2015. Se tivesse operado antes, teria me recuperado muito mais rápido. Por acreditar no que os doutores diziam, atrasei muito a minha cirurgia. Foi um momento muito difícil da minha carreira. Muitas pessoas duvidavam de mim, por acreditar no que os doutores falavam, que eu não tinha nada. Meu contrato com a Inter estava acabando. E eu sabia que fazendo a cirurgia, a possibilidade de renovar, era pequena. Estava vindo de um momento muito bom antes, com muita moral no clube, jogando direto. A lesão fez com que essas coisas fossem esquecidas. Futebol é dessa forma, mas não posso reclamar. Deus tinha e ainda tem algo melhor para mim. Fico chateado pela forma como fui tratado. A minha recuperação foi feita todinha na Sérvia, pois perdi a confiança no departamento medico do Inter. Fiquei na Sérvia três meses longe da família. Minha esposa, grávida, ficou no Brasil. Fiquei sozinho, trabalhando. Depois tive a oportunidade no Flu. Cheguei bem, mas precisava de fortalecimento. Não estava com ritmo. Ainda consegui fazer quatro partidas ano passado, mas deixei claro que 100% ficaria só em 2016.

 
 
 

Teve erro médico?
Não gosto de julgar muito as pessoas. Se não foi erro, foi negligência muito grave. Quando um jogador acusa uma lesão em julho, a cirurgia não pode ser feita depois de seis ou sete meses. Era para ser um mês depois, perdi o tempo que seria da recuperação. Não tenho nada contra o clube, meu problema foi com os médicos. Atrapalhou a minha carreira e a intenção de continuar no Inter. E deles quererem a minha permanência. Estávamos conversando de renovação, mas eles esperavam eu voltar. Ligaram para meu procurador, mas esperavam que eu voltasse a jogar, mas não voltei pela lesão. Meu ex-empresário conseguiu fazer com quem eu treinasse no Partizan, na Sérvia. A cirurgia quem pagou foi o Inter de Milão, eu paguei a reabilitação.

Depois de tanto tempo, a sequência de jogos veio na hora certa?
Eu estava ansioso. Sempre treinando e ouvia vários comentários: “Jonathan foi contratado, mas está bichado. Veio de lesão e não está recuperado. Está gordo…” Eu sempre treinei muito bem. É lógico que quem joga mais tem melhor forma do que quem joga menos. Mas eu não estava fora do meu peso. Talvez com o percentual de gordura um pouco alto. Essas coisas ficam te chateando, mas eu estava tranquilo, procurando meu espaço. E o Levir me deu oportunidade que precisava. Para mostrar para as pessoas que duvidaram do meu futebol. Só tenho que agradecer ao presidente, ao Flu por terem confiado em mim. E aos torcedores que me apoiaram.

O que fazia no auge que não repete agora?
Condicionamento físico e explosão muscular. O tempo parado, organicamente dizendo, atrapalhou. Deu uma caída. Com os jogos, tenho certeza que vou voltar ao meu 100%. Aqui, treinamos muito pouco. Tem jogo direito. Os meus companheiros estão entendendo a forma como gosto de jogar, o entrosamento. Posso dizer que hoje estou em 70% a 80%. Corro nove quilômetros por jogo, mas posso dar mais, com uma intensidade maior. Dá para colocar mais intensidade. O fortalecimento no joelho eu sempre faço, mas faço menos do que quando voltei. Hoje a musculatura já está forte, não sinto mais nada, nada de dor. Mas tem que fortalecer. Caso contrário, o músculo murcha e acarreta lesão muscular.

Porque voltar ao Brasil em 2015?
Eu tive propostas para continuar na Europa (Genoa, Atalanta e Torino) e conversei com minha esposa. Decidimos que era o melhor voltar ao Brasil pelo filho que íamos ter. E também pelas propostas não serem agradáveis. Não eram grandes clubes do futebol europeu. Falei para voltarmos pois eu queria voltar e ainda jogar em alto nível. Estava com 29 anos e muitos jogadores voltam bem mais velhos. Poderia estar jogando em um clube menor lá, ganhando mais. Mas aqui jogo em alto nível, tenho o sonho de vestir a camisa da Seleção. Lá fora, os times maiores se destacam porque os menores são muito inferiores. No Brasil, é mais competitivo. A visibilidade aqui seria melhor.

E agora está jogando como titular…
Estou vivendo muito bem esse momento. Esperava por isso. Voltei para o Brasil com esse intuito de retomar o futebol em alto nível. Graças a Deus, estou tento essa oportunidade com o Levir de mostrar o meu trabalho e, com o crescimento do time, estou bem.

Aquela assistência para o gol do Marcos Júnior lembrou o Jonathan em grande forma?
Aquele lance marcou. A gente sempre fica feliz pois trabalha no dia a dia. Treina esses cruzamentos nas Laranjeiras e tem a intenção de meter a bola na área para o nosso atacante fazer o gol. Vi ele se posicionando muito bem. A bola não subiu no morrinho artilheiro, como foi lá em Juiz de Fora, contra o Criciúma, ao mandar para quase fora do estádio. E o mais importante de tudo é o time continuar numa boa pegada de vitórias. Isso faz com que os adversários respeitem cada vez mais o Fluminense. No início do ano, estivemos abaixo, mas o time está crescendo e melhorando.

Só está faltando um golzinho, né?
Fiz meus golzinhos na Itália. O meu último foi contra o Verona. Foi em 2014. Saudade de fazer. Já passou da hora, mas não tive a chance de fazer. Eu chutei para o gol naquele lance contra o Tombense, não tentei cruzar. Estou com vontade de fazer o gol. Certeza que vai sair. E, me conhecendo bem, saindo um, sai o outro.

Qual a expectativa para a final da Primeira Liga?
Ser campeão da Primeira Liga é algo que tem motivado todo o clube. Sabemos que o Fluminense foi um dos clubes de maior importância na criação deste torneio. Conquistar a primeira edição deixaria a diretoria muito satisfeita e também o nosso torcedor. Para nós também seria um grande feito, por se tratar de uma competição que reúne vários dos grandes clubes do país. Conquistar o título também seria uma mostra que nossa equipe está preparada para fazer um bom segundo semestre e brigar pelos títulos nacionais. O Levir tem nos preparado para chegar com força máxima nesta decisão  e superar o Atlético-PR. É um time que enfrentou o Fluminense na fase de grupos. Certamente não será fácil, mas temos a consciência do que será preciso fazer para derrotar esse adversário que também mostrou qualidade neste início de ano

E tudo isso depois de uma semana conturbada após os problemas entre Fred e Levir… Qual a importância da permanência do capitão?
O Fred é importantíssimo para o Fluminense. Assim como eu, todo o grupo ficou feliz com a decisão dele de ficar, e por ele, o Levir e a diretoria terem chegado a um consenso. A gente sabe que os problemas e os desentendimentos no futebol são coisas que sempre aconteceram e sempre vão acontecer. Muitas vezes, nem chega à imprensa. No caso do Fred, acabou tendo grande repercussão e ficou um ambiente de muita pressão sobre ele. Mas, graças a Deus, tudo se resolveu a tempo dele voltar e liderar o time neste momento decisivo do campeonato estadual. Ele tem uma história grandiosa aqui. Como se diz, conhece o “caminho das pedras” para o Fluminense. Por isso, temos um enorme respeito e, com certeza, nos sentimos mais fortes para buscar os títulos com ele.

Seu contrato termina em dezembro. Já sentou com a diretoria para conversar? 
Não conversamos nada de renovação. É muito cedo. Posso dizer que estou muito feliz no Rio, minha família está adaptada. Meu desejo de continuar é grande. Fiz amigos aqui. O ambiente é maravilhoso diferentemente do que as pessoas falam. Me dou bem com todos. Costumo chamar todos de ”Dez”. É um mania, eles me chamam também. É uma coisa desde a época de Cruzeiro, não é porque não saiba o nome da pessoa… mas não sei o motivo. Pode ser para abreviar, não sei explicar. Todo mundo que eu cumprimento é ”Dez”. A atmosfera é boa demais, me sinto bem. A vontade é de permanecer. É cedo para falar. O Fluminense sabe que, no meio do ano, posso assinar com outra equipe. Mas não estou pensando nisso, meu foco está na reta final das competições. Não penso no para frente, penso no agora.

O que vai pesar nessa renovação?
Sou grato demais ao Fluminense. Tive outras propostas. Não posso mentir. Mas saber que aqui tinha o Fred, joguei com o Wagner no Cruzeiro. O Francis, o Fred, somos amigos. O pai do Fred foi padrinho do meu casamento. Hoje tenho condição boa de escolher o que é bom para mim e para minha família. Sempre tive vontade de morar no Rio. Uni o útil ao agradável. Sei da intenção de melhorar o clube, de construir o CT. Os salários sempre estão em dia, nunca atrasou. A direção comprometida com a gente. Deixa o ambiente leve. É muito importante. O time está numa sequencia muito boa. Tudo o que acontece dentro do clube acarreta nos jogos. Se o jogador está mal de cabeça ou salário atrasado ou brigou com a esposa, mostra no campo. O clube está de parabéns, honrando os compromissos com os jogadores. É responder com vitórias e resultados.

Aquela história de defender a seleção da Itália foi real?
Teve, sim, a sondagem da seleção italiana antes do Mundial 2014. Eles ligaram para o pessoal do Inter, para saber como era a minha situação. Eu tenho o passaporte italiano, mas isso não basta. Tem de ter outros documentos, que, agora, não saberei quais são. A imprensa da Itália estava cobrando isso, pelo meu momento. Mas eu sabia que vir para a Copa no Brasil seria difícil. Faltava apenas um mês e meio, e eu nunca tinha sido convocado, nem por uma e nem por outra. Era pouco provável, mas teve a sondagem.

Ainda tem o sonho?
Sim, eu tenho essa vontade e sonho de poder jogar e aumentar o nível. Ainda é pouco. Sou um cara muito crítico comigo mesmo. Estou crescendo junto com o time, pegando ritmo de jogo, crescendo com o time. Sei que chegar a seleção brasileira ou a da Itália é muito difícil, mas a esperança é a última que morre. Sou novo, a Copa é daqui a um tempo, terei 32 anos. Se Deus  quiser, vou estar jogando em alto nível.

Como é a sua relação com o Levir?
Antes de eu voltar ao Brasil, ele estava no Atlético-MG. E, no ”Bem, Amigos”, se falou que o Galo estava me contratando. Ele disse que não tinha verdade. Que o Atlético-MG tinha três laterais. O Levir é espontâneo, sincero e verdadeiro. Quando cheguei aqui, ele me viu e balançou a cabeça. Tipo assim: “Não é possível que esteja com o Jonathan de novo” (risos). Minha experiência com ele no Cruzeiro foi rápida, tinha 18 anos na época. Tinha o Maurinho e Ruy na posição. Eles estavam na minha frente. Jogava pouco. Treinava mais com ele e jogava pelos juniores. Ele me conhecia. O preparador físico Rodolfo pegava no meu pé. Hoje vejo a necessidade. Hoje cobro dos meninos. Todo treinador, não só o Levir, foi importante na minha carreira. Ele chegou há pouco no clube, está colocando sua filosofia no Fluminense. Está dando certo. A espontaneidade e sinceridade faz com que os jogadores entendem o que ele quer. É assim que tem que ser. Faz com que o ambiente dentro do clube fique bom. Com ele, joga o melhor. E isso faz com que quem treine, não desanime.

O momento vai chegar, todo mundo é importante. Ele deixa isso claro, ele brinca com todo mundo. A minha relação com ele é muito bacana. Outro dia falou que era aniversário da esposa dele, contou que ia cortar o cabelo, sair com ela para jantar. Ele fala com a gente, brinca, expõe o que pensa. Fala, por exemplo, da vida pessoal, com tom de brincadeira. Já trabalhei com treinadores, principalmente lá fora, que têm a posição de ser apenas treinador. Só quer saber o dentro de campo. Isso faz diferença, a gestão das pessoas. Antes do jogador, tem o ser humano, o homem, o pai de família. Isso ajuda dentro de campo. O feedback, a brincadeira do treinador, ter a conversa de homem para homem é importante. Não pode confundir a coisa. O jogador não pode relaxar no treino por se sentir amigo do cara.

Ele parece ser engraçado…
Nós damos muita risada com ele. Gente finíssima. Contou uma história para gente do Preguinho. No dia do jogo, ele pergunta: “Será que os caras vieram?”. É engraçado demais. A história do Preguinho é longa, nem sei se é verdade. Na preleção… ele falou que tinha a história, todo mundo doido para ir ao quarto. Ficou mais meia hora de história. Diz ele que tinha boxeador muito bom, que treinava e batia em todo mundo. Tinha um tal de Átila, diz ele, um homem de aço, todo quadradão, treinando pesado. Por uns quatro meses direito, e o Preguinho vadiando. Mas todo mundo apostando no Preguinho. Mas esse cara tava subindo montanha… E o Preguinho só queria saber de farra e sacanagem. No dia da luta, o empresário do Átila cancelou a luta para o cara poder treinar mais. Ele achou que não estava pronto. Entrevistaram o Átila, e ele disse que estava muito focado… respeitando o adversário. Preguinho, no dia da luta, chegou atrasado. O Preguinho acertou o Átila, que balançou, mas não caiu pois estava bem treinado. O Átila acertou o Preguinho, que caiu. E acabou a história! O que quero demonstrar é que não adianta ser marrento e não treinar. Vai sempre ter alguém melhor do que vocês. É preciso ter humildade, trabalhar sério e não achar que vocês são o Preguinho. Precisam ser honestos com vocês mesmos. O corpo de vocês é a empresa de vocês. E bom descanso, vão para o quarto.

Você treinou pela primeira vez nas Laranjeiras em um dia de protesto da torcida, com direito a invasão de torcedor. Aquilo te deixou assustado?
Foi a minha estreia, o meu primeiro dia de treino. Não me surpreendeu porque no Brasil é assim. Os resultados não acontecem, o torcedor é impaciente e cobra de grandes clubes, acostumados a ganhar títulos. Quando vi a cena, fiquei tranquilo. Continuei correndo. Tinha de recuperar o tempo perdido. Até brincaram comigo… “No primeiro dia, na coletiva, e acontece isso”. Fiquei tranquilo. O time, realmente, não vinha conquistando bons resultados. Sou contra esse tipo de atitude, de invasão e retaliação. Somos seres humanos. Ninguém está aqui de sacanagem. Estamos todos os dias para treinar. Tem um adversário do outro lado querendo as mesmas coisas que nós. Hoje, a gente vive boa fase. Mas ele vai passar também. A invencibilidade… vamos tentar fazer ela durar o maior tempo possível.

A última semana teve o caso Fred, mas o Flu vinha invicto há 11 jogos. Tirando isso, como está o ambiente no elenco?
Todo mundo unido. Ninguém no departamento médico, dá a possibilidade de o treinador usar outras peças. Pode mudar o sistema durante o jogo. O ambiente tá maravilhoso. Com música no vestiário. Desde eletrônico até sertanejo, pagode, funk. Rola de tudo. Ambiente está muito gostoso. Se Deus quiser, vamos fazer com que dê tudo certo em 2016.

Já chegou a conversar com o Wellington Silva? Ele parece estar se saindo melhor na esquerda do que na direita…
Eu venho ouvindo alguns comentários de que o Wellington Silva está bem na esquerda e não na direita. Dizem que ele é esquerdo mesmo. Tenho de parabenizar ele. Apesar das críticas, nunca abaixou a cabeça. Treina muito. É um dos que jogadores que mais correm no time, tem ótima
resistência física. Para um jogador jogar bem, o conjunto inteiro precisa jogar bem. Jogar melhor na esquerda que na direita, pode ser, porque o time está melhor. Não brinquei com ele, mas ele sabe disso. É mais uma opção para o treinador. Como são muitos jogos, vai ter lesão amarelo e vermelho… e de repente pode utilizar ele na esquerda ou na direita. Se for olhar, ele se sai muito bem porque muitas das vezes, cruza com a perna esquerda. Mas ele trava e cruza com a direita. Tem essa facilidade. Foi bom para ele. Ele já disse nas entrevistas que já jogou na posição desde o inicio da carreira. Fico feliz por ele.

Deu alguma dica para o Gerson sobre o que ele vai encontrar na Roma? Já conversou com ele em italiano?
Ainda não tive como falar italiano com o Gerson, até porque não vai ser o melhor para aprender. Ele precisa se esforçar muito pra aprender o italiano o mais rápido possível. O meu erro foi achar que aprenderia fácil. Demorei quase um ano e meio. Na época, tinha muito brasileiro e eu estava no meio deles. Ele tem muita qualidade. Já conversei com ele. Ele precisa, como todo o meia, precisa jogar mais sem a bola. Lá, acontece a todo momento. Quem recebe no pé, de costas, toma o tranco. Lá, o jogo é mais intenso. Eles chegam mais rápido, estão bem preparados. São perfeitos taticamente. Se ele não corre nos espaços, vai sofrer muito. Toques rápidos. É um, dois. Não pode conduzir. Com as feras do Roma, ele vai pegar certinho. É um menino bom, que vai se dar bem.