Campeão brasileiro em 1984 e atual supervisor técnico do sub-17 do Fluminense, o ex-zagueiro e capitão Duílio concedeu uma entrevista exclusiva ao NETFLU. O ex-jogador analisou o momento atual da equipe, antes da paralisação pelo coronavírus, falou de seu trabalho na base, relembrou o histórico time formado por craques como Romerito, Washington e Assis, e muito mais. Confira, na íntegra, o bate-papo:

NF: Qual é o peso desse tipo de parada, em função de uma pandemia, para um atleta profissional?

 
 
 

D: Penso que a pior coisa para um atleta é ficar parado. Estamos com um problema mundial, a mercê das decisões dos nossos políticos, governadores. É uma situação que foge do nosso dia-a-dia. O jogador tem que ser psicologicamente muito forte para entender que tudo isso só deve voltar ao normal no fim do ano.

NF: Como manter o foco?

D: Hoje há uma parte importante no futebol que é a psicologia. É importante atuar com os atletas nisso. Uns que possuem espaço em casa, devem fazer os exercícios. Num grupo há sempre os mais focados e menos focados, por isso é importante manter os atletas sempre em contato com o clube, recebendo instruções, físicas e psicológicas. A ansiedade também é um mal. Quem não ganha bem o suficiente para manter a sua família deve ficar mais focado ainda.

NF: Você é supervisor do sub-17 do Flu. Como tem sido os cuidados com os meninos da base nesse momento?

D: O mesmo do profissional. Não tem como fugir. Alguns já têm contratos com o clube e precisam seguir a cartilha. Eles são responsáveis por sua preparação física. Mas como foram colocados todos de férias, você não pode invadir isso, mas se mantém um diálogo porque são garotos.

NF: Já existe alguma mudança nas competições de base por conta da pandemia? O que vem sendo conversado nesse sentido?

D: A federação do Rio disse que não vai haver a Guilherme Embry este ano no sub-16. Os outros campeonatos a gente tem que ver como é que fica. O Brasileiro sub-17 teve a primeira rodada e depois não jogamos mais por conta da parada. O Carioca ainda não sabemos. Nesse momento, estamos apanas aguardando algumas instruções da CBF e Ferj.

NF: Diminuição do salário de atletas e funcionários nesse momento

D: Eu tenho que dá os parabéns para os atletas e funcionários que toparam, até porque nem todo mundo recebe salário alto. Eu aplaudo esse grupo de funcionários que o Fluminense tem hoje, porque tem atletas que recebem mais do que merecem e funcionários que ganham bem menos do que poderiam. A gente vê que a mentalidade da maioria dos que estão no clube é de ajudar. Todos sabem que o momento é de solidariedade.

NF: Briga por posição na defesa do time principal: tem alguma dupla de preferência?

D: Acho saudável. É boa inclusive para o técnico que pode contar com um nível de jogadores muito bons. Infelizmente o Matheus teve aquela contusão séria no ano passado. Acho que o clube tem bons zagueiros que podem ajudar o Fluminense a chegar longe. A minha dupla de preferência seria eu e Ricardo Gomes (risos), mas como já passamos do tempo, acho que todos ali dão conta.

NF: O Fluminense já teve grandes duplas de zaga. Uma chama a atenção em especial porque foi bicampeã brasileira, mesmo sem que os atletas fossem reconhecidamente técnicos: Gum e Leandro Euzébio. Com que se transforma atletas medianos em paredões?

D: Isso não é uma receita de bolo. A dupla de zaga tem que se entender. E quando um olha pro outro e sabe até o momento em que o outro vai falar, eles conseguem se ajudar. Daí forma um paredão que com os laterais e os volantes. Acho que eles tiveram um grande volante, que era o Edinho, que dava um suporte bem grande. O Gum foi um dos responsáveis por aquele time de guerreiros, deu sangue… não tenho nem o que falar deles. Mereceram cada conquista.

NF: Qual foi o melhor Flu: 84 x 2010 x 2012? Dá pra escalar um time pensando apenas nesses jogadores?

D: É um problema sério. Porque se colocar a equipe campeã de 84 para jogar contra a de 2010 ou 2012, não iria dar pra eles, não (risos). Mas são momentos diferentes. O pessoal fala que o jogo era mais lento antes, mas a preparação também era diferente. Se eu tivesse que escalar, manteria toda a equipe de 84. O Cavalieri ficaria na reserva do Paulo Vitor, apesar do PV ter grandes goleiros na reserva. O Deco poderia encaixar direitinho na posição do Deley, porque ele era o cérebro do time. Fred no lugar do Washington. O grupo é feito de 25 e teríamos um time extremamente forte. O Flu está nesse objetivo hoje, para montar um plantel imponente e conquistar seus objetivos.

NF: Função na base

D: O Mário me convidou para ser supervisor técnico do sub-17. É uma categoria onde basicamente os meninos estão despontando para o profissional. Eu cheguei logo depois que o Marcos Paulo e o João Pedro saíram e a gente escuta várias histórias de perseverança. Imagino que ele deva estar penando um pouco lá, porque ele jogava no Fluminense e agora foi para um outro clube na esperança de jogar, mas ainda não joga. Tem que manter a cabeça no lugar. A gente vê grandes meninos que possam ter um grande futuro e só esperamos que os empresários não pensem apenas no dinheiro que vão arrecadar, mas no futuro dos garotos. Imagino que teremos muitos jogadores do nosso time nos profissionais em breve.

NF: Algum atleta da base a se destacar?

D: Tem jogadores muito bons. Eu peguei o Calegari lá. Acho que todo garoto tem o seu momento para ser lançado. Você nunca vai colocar um garoto só por colocar. Ele precisa ser preparado para isso, porque o futebol profissional é um mundo totalmente diferente do futebol de base. Acho que o Calegari tem um grande futuro, temos um volante no sub-20 que também é muito bom. Já tem o Evanilson que é uma realidade. Por isso o trabalho de base é fundamental.

NF: Expectativa para esta temporada: dá pra beliscar vaga na Liberta pelo Brasileirão ou um título da Copa do Brasil?

D: Acho que o Fluminense está conseguindo se ajeitar, se fortalecer como grupo. E não é qualquer grupo que abdica de parte dos seus salários. Estão acreditando nas pessoas que estão à frente do Fluminense hoje. Então acho que podemos chegar e surpreender todo mundo. O Fluminense tem jogadores de bom nível hoje, não só craques como carregadores de piano e isso pode fazer a diferença em momentos de pressão.

NF: O retorno de Fred seria uma boa? Ele atrapalharia a continuidade e evolução do Evanilson?

D: Não atrapalharia nem um pouco. O Fred tem que vir pra ontem. Vai ajudar sim, é um espetáculo de atleta. Sou suspeito de falar, porque eu conversei com ele. É inteligentíssimo, agregador. Não vai prejudicar o Evanilson de forma nenhuma, vai crescer com ele. Tomara mesmo que se concretize logo essa contratação.