Candidato da oposição para as eleições do Fluminense, que vão acontecer no próximo sábado, Deley falou sobre como pretende conduzir o clube caso ganhe as eleições. Além disso, ele analisou a atual gestão, destacando o que Peter fez e, principalmente, o que, segundo ele, deixou de fazer. Unimed – Trata-se do maior patrocínio do Brasil e precisa ser tratado com muito carinho. Temos que manter um bom diálogo. O que temos escutado – e não adianta querer desmentir, usar fotos de arquivo abraçado – é que aconteceram algumas divergências. Vamos querer armar uma grande equipe. Eu sou do meio e vou poder agregar muito pelo lado da experiência, da vivência do futebol. Podemos mostrar ao patrocinador que às vezes não é preciso gastar muito. O nosso conhecimento pode mostrar que é possível investir em outras áreas. Espero acrescentar nesse sentido, harmonizar a relação entre Flu e Unimed. A patrocinadora é boa para o clube, e o clube é bom para a patrocinadora. Tenho uma boa relação com Celso Barros. Acho que essa relação nossa até é uma melhor solução para o futuro. O modelo atual é vencedor. Já chegou a final de Libertadores. O grande problema é a falta de diálogo. O Julio Bueno, que está comigo nessa eleição, tinha algumas críticas conceituais ao Celso em 2010, mas já mudou de opinião. Ele entende perfeitamente a importância da Unimed. Eu, como deputado, estou participando da comissão especial que vai ser instalada para discutir a dívida dos clubes. Há, dentro das nossas propostas, a criação da Fundação Fluminense. A partir do momento que você acomoda esse passado, o passivo, passa a ter como respirar. Não só o Celso, como todo o clube. Dívidas – Tenho sido um dos atuantes nessa área. Se eu disser que sou o protagonista, é mentira. São vários deputados envolvidos na comissão especial para discutir as dívidas dos grandes clubes. Essa questão da dívida passa necessariamente pelo Governo. A Caixa Econômica errou, e errou mesmo, quando pede que os clubes confessem as dívidas e diz que a Timemania daria R$ 500 milhões. Inclusive o presidente (Peter Siemsen) comete um erro ao enaltecer tanto o retorno à Timemania. É importante, sim, mas dentro desse modelo já está comprovado que os clubes não conseguem pagar. Pagam algumas parcelas, mas daqui a pouco morrem lá na frente e ficam sem a certidão. O futebol é um dos maiores segmentos econômicos do pais e do mundo. Na Inglaterra, representa 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Aqui no Brasil, representa apenas 0,2%. Alguma coisa está errada. Você tem 783 equipes no Brasil hoje e apenas 100 trabalham o ano inteiro. Você deixa de gerar 30 mil empregos e R$ 900 milhões na economia de um setor que já foi o maior embaixador do país lá fora. Está na hora de colocar luz na discussão. – Esse é outro problema que o presidente (Peter) tem. Não consegue dialogar com esses atores. Na questão da dívida, a atitude dele foi dizer que o procurador era flamenguista, disparar bomba na janela dos procuradores. Então acho que a minha candidatura, só pelo fato de existir, já ajudou muito o processo do Fluminense. Ele já entendeu que tem de ir para Brasília, que precisa tratar melhor o patrocinador, já está até falando em fundação, que é uso indevido de propriedade intelectual. Ele, como advogado de marcas e patentes, conhece a questão de propriedade intelectual. Mas tudo bem, pelo Fluminense a gente libera para ele. Ele teve três anos para fazer isso tudo. Dizia até que ia exterminar os esportes olímpicos. Eu não. Quero fortalecer e acho que, através da Fundação, a gente não só resolve o problema do Fluminense, como ainda dá um caminho para o Ministério na criação do modelo olímpico do Brasil. Eu trabalhando em Brasília é um facilitador. Conheço os procuradores. Me ofereci para ajudar o Flu e até outro clube. Quando falam que vou usar o Flu para minha política, digo que é justamente o contrário. Já tenho três mandatos baseados no trabalho de gestão feito em Volta Redonda. Ele se esconde. Não fala com a Ferj, com o procurador, tem relação conflituosa com o patrocinador… A política é a arte de construir, e o cargo de presidente do clube é político. Futebol profissional – Primeiro eu preciso ganhar a eleição para poder me aprofundar nesse assunto. Gosto do bom jogador, do bom time. Vamos sentar e conversar. O mercado não está fácil, e temos que aproveitar bem as oportunidades. Desse elenco, vários jogadores já deram belíssimos resultados. Mas acho que ele pode e tem de ser melhorado. Precisa oxigenar. O bom jogador sempre vai interessar. A contratação do Conca já está certa, pelo que vi na imprensa. É um jogador de que eu gosto, um grande ídolo, um profissional dedicado. Você sabe que pode contar com ele em qualquer circunstância. Temos que ter um diretor executivo, como já acontece hoje. O Rodrigo Caetano é referendado não apenas por mim, mas por muitas pessoas. É um conceito moderno de administração, um regime extremamente profissional. Quem sabe até um assessor especial ao nosso lado. Falam muito sobre eu ser ex-jogador, que não serviria para ser presidente. Mas sou virginiano, detalhista e perfeccionista. Tenho experiência em gestão. Penso em Platini na Uefa, no Beckenbauer no Bayern de Munique. No Bayern, aliás, para ser alguém é preciso ter jogado futebol. É um conceito diferente. Xerém – A referência hoje é o São Paulo. A partir do momento em que criarmos a Fundação Fluminense, iremos ao mercado através da Lei de Incentivo. E lembro que a nossa campanha vai ter a participação de grandes tricolores como Carlos Arthur Nuzman (presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – COB), o advogado Pedro Trengrouse (consultor da Organização das Nações Unidas – ONU – na Copa e coordenador de projetos da Fundação Getulio Vargas), Júlio Bueno (secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro). Eles têm relacionamentos espetaculares no mercado. O São Paulo captou R$ 25 milhões e fez um centro de treinamentos com hotel cinco estrelas. O Atlético-MG também. É preciso trazer esses tricolores ilustres, pessoas que nunca foram chamadas para cooperar. Esse período curto de campanha, tirado da cartola mesmo, está nos deixando muito feliz pela receptividade, pelo bem que estamos fazendo pelo Fluminense. Se não tem ninguém para debater, o presidente ia achar que está tudo legal. Ele diz que fez isso, que fez aquilo. Pega o vestiário e outras coisas que já eram projetos da Ambev para vários clubes e diz que modernizou. Calma aí. Xerém passou por melhoras que eu vi. Mas, naquilo que eu imagino para Xerém, são coisas muito acanhadas. Xerém pode muito mais e o Fluminense também. Se a gente conseguir chegar à presidência, vou tentar mudar um pouco esse conceito. – Estão pegando atleta e tentando transformar em jogador. Acho que deveria ser o contrário. Temos que pegar o jogador e transformá-lo em um atleta e cidadão. Essa discussão cabe, e vamos tentar implantar isso em Xerém. Alguns jogadores atuais vieram de outros clubes. Tem tempo que você não revela um grande jogador. Nos dois últimos anos, por exemplo. O Wellington Nem vem lá de trás, da gestão que o Peter demoniza. Ele trata o Horcades como um demônio. Alto lá. Eu indiquei o Dedé quando era do Volta Redonda, não me pergunte para quem que não me lembro, e deram de ombro. Qual é uma das melhores coisas do Fluminense? Sua marca, sua história, sua torcida. Isso tem que ser mais bem aproveitado. A ideia é colocar uma escolinha do Fluminense em cada cidade do estado do Rio. Já conversei com alguns prefeitos. Podemos colocar ex-jogadores para ajudar também. Via Fundação Fluminense, podemos ajudar os clubes ociosos, fazer um trabalho social empregando o ex-atleta ligado ao Flu. Assim os talentos vão aparecer naturalmente. Vamos trabalhar para a sociedade e para o Fluminense ao mesmo tempo. CT e Maracanã – Temos que construir logo esse centro de treinamento aproveitando as leis de incentivo. O que eu não consigo entender é esse contrato de 35 anos tão misterioso com o Maracanã. Vou querer rever esse contrato se assumir. É o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. É muito pouco o argumento de não ter prejuízo para jogar no estádio. Se a base do acordo é essa, me desculpe, mas é um contrato medíocre. O Flamengo assinou só até o fim do ano. Tratem de pesquisar que tem coisa aí dentro. Não vou ser deselegante, poderia ser oportunista, mas já tive conversas que poderiam ser fundamentais no processo eleitoral, mas não posso cometer a deselegância de revelar isso. É um contrato medíocre e obscuro. São 35 anos, e não mostram o contrato para o conselho. Jamais vou fazer um contrato além da minha gestão. Posso ficar três anos na presidência, como posso assinar algo por 35 anos em um modelo que eu não sei se vai dar certo? Aí eu também culpo todos os clubes grandes do Rio de Janeiro. São Paulo está dez anos na nossa frente. Somos adversários em campo apenas. – Por que não podemos nos sentar e discutir com o consórcio do Maracanã? Eles não vão viver de show dos Rolling Stones. Eles precisam dos clubes. Era preciso sentar e conversar, cada um sabendo o seu espaço, o seu peso para exigir coisas melhores. O que eles queriam era exatamente isso, que cada um negociasse separadamente. Mas aí o presidente fala aos quatro ventos que não temos mais prejuízos, que tiramos a torcida do Vasco do lado direito. Ele que me perdoe, mas é muito pouco. É um discurso muito ruim. Meu lema é competência, transparência e participação. São os três pilares. Quando ele foi candidato, falou em Novo Fluminense. Isso não é novo. Que novo é esse que esconde contrato? Eu não vou fazer isso. Quando você cria a Fundação, por exemplo, o Ministério Público pode investigar. Tenho como compromisso anualmente buscar uma dessas empresas independentes de auditoria e mostrar para o sócio. Até para você ter argumento na hora dos problemas e poder dizer que não faz mágica. Esportes olímpicos – Estou pedindo aos advogados para fazerem o rascunho de uma carta-compromisso para uma entidade que tem a chancela da disputa da Liga Nacional da primeira divisão (NBB). Em breve eu divulgo isso para vocês. Se ganharmos a eleição, já tem Fla-Flu no ano que vem no basquete. O pau vai cantar. Fui muito claro para o pessoal dos esportes olímpicos, muitas promessas não foram cumpridas. O discurso do atual presidente era de acabar com tudo e virar só futebol. Precisamos achar uma saída juntos, faz parte da história do Fluminense ter muitos atletas olímpicos. Nos EUA, existem os colégios e as universidades como formadores. Como não temos isso no Brasil, historicamente os clubes mantiveram vivo o esporte olímpico. Para fortalecer os clubes, é necessário criar as fundações, que vão ser figuras jurídicas diferentes, mas com acesso à lei de incentivo, dinheiro público, emenda parlamentar. Vai ter curador, presidente, todo um processo de trabalho. Não tem nenhum Messias, tudo demanda tempo. Não é igual ao “Novo Fluminense”, que acha que não ter prejuízo no Fluminense é algo moderno. Sede social e Sócio Futebol – O primeiro evento que faremos para celebrar tem de ser uma peça de Nelson Rodrigues. O Fluminense já foi referência em eventos sociais. Temos Arthur Moreira Lima, Ivan Lins, vamos começar com shows pelos tricolores, mas até deixamos depois artistas de outros times se apresentarem. Sobre a sede, se você pegar a parte de cima do clube, está tudo igual à minha época de jogador. Tem de melhorar. Tem um espaço grande, é um clube maravilhoso, lindo, todas as pessoas no entorno podem ser atraídas para dentro do clube. A atual direção fez um bar muito legal, bonito, mas com o restaurante anterior iam 500 pessoas a mais. Eu fico olhando o bar, e fica parecendo amigo oculto de sacanagem. A embalagem é bonita, mas por dentro, quando você abre e vê o presente, é um chaveirinho. A sala de troféus ficou legal, mas quero saber onde estão as outras taças. Infelizmente, do jeito que essa gestão fala, parece que nos últimos 30 anos o Fluminense não ganhou nada. Parece que começou a ganhar partir da atual gestão. – Sobre o Sócio Futebol, acho bom. Tem algumas empresas interessadas em que esse produto melhore. Mas os 21 mil sócios que o Fluminense divulga ter pertencem à Brahma. Aliás, o presidente esteve prestes a cancelar o contrato com a Ambev, pelo que me falaram. Um dos que deram consultoria para a Ambev foi o Pedro Trengrouse, que está conosco. Metas para o triênio – Primeiro é corrermos no mercado, sermos inteligentes, gastar pouco e formar grandes times. E, claro, há uma obsessão. Nelson Rodrigues diria que “há uma obsessão pela Libertadores”. Em segundo, a mudança de conceito, um investimento muito pesado em Xerém. Vou estar muito presente lá. Em terceiro, essa questão da Fundação Fluminense, que vai dar uma saída para o esporte olímpico. Pode parecer uma coisa pretensiosa, mas não é. Pode ser a nossa grande saída, o fortalecimento do clube podendo ter os esportes olímpicos. O produto, a rivalidade, já existe. Ter um Fla-Flu de basquete, um Fluminense x Corinthians, isso traz o público. Erros e acertos da gestão Peter – Melhorou um pouco Xerém, fez algumas obras. Mas não vi um “Novo Fluminense”. Falta de interlocução é um problema muito sério, a falta de planejamento que se instalou neste ano. Demitiram dois técnicos, mudou o vice-presidente (de futebol) que tinha relação boa no vestiário, aí o presidente assume o posto sem ter essa expertise. Realmente como tricolor me sinto frustrado. Foi um dos motivos que me fizeram estar concorrendo. Ele tenta apagar a história e a tradição do clube. Mas não demonizo. Acertou algumas coisas. Se vencermos, não vejo problema em dar continuidade ao que está bom. A embalagem era bonita, mas o conteúdo, muito frágil. Não é por ai. Por que o sócio deve votar em você? – Porque estamos com uma relação de amor e carinho pelo Fluminense. Carrego experiência como gestor, são três mandatos de parlamentar, onde criamos uma relação muito boa em Brasília, que pode ser muito útil ao clube. Estamos trazendo a melhor proposta, já sendo copiada pelo adversário. Pela equipe que estamos juntando, com o apoio de tricolores ilustres que vão nos ajudar a levar o Flu onde a gente acha que tem de ir. Tenho uma frase que esta escrita na sala da presidência, feita pelo Manoel Schwartz (presidente na década de 1980): “O Fluminense somos todos nós”. Não podemos excluir, ter setores que não sejam valorizados, seja olímpico, social. Por isso pedimos esse apoio.