Foto: Nelson Perez
Foto: Nelson Perez

Em entrevista à Marluci Martins, no jornal “Extra”, Cristóvão Borges deu respostas contundentes e já movimenta as redes sociais. De forma elegante, criticou grande parte da imprensa esportiva brasileira e tem sido entoado por tricolores. Confira, na íntegra, a entrevista:

Como conseguiu em pouco tempo dar padrão ao time?

 
 
 

Quando saí do Vasco, eu me preparei para realizar o que penso e sonho sobre o futebol. Recebi uma proposta melhor, mas aceitei a do Fluminense porque sabia o quanto o time era bom. Quando cheguei, vi que tudo seria melhor, pelo ótimo nível intelectual dos jogadores. Minhas ideias foram rapidamente absorvidas.

Quais são as peculiaridades que garantem o sucesso?

Meu time é compacto, joga com a defesa avançada, é técnico, inteligente e tem organização tática. Treinamos passe diariamente. Mas, no futebol brasileiro, a compactação não é boa e erra-se muito passe. A gente vê a evolução de outras escolas. Em 2011, o Universidad de Chile, do (Jorge) Sampaoli, já tinha um jogo de intensidade.

Viu novidades na Copa?

Novidade tática, eu não vi. Vi variações. A Alemanha tem boa movimentação e qualidade técnica, joga marcando sob pressão, roubando a bola no campo adversário.

O Flu é a Alemanha da Copa?

É semelhante, porque tem essas características, mas vamos ter cuidado. Há quem diga que a Alemanha nos inspirou, mas o Fluminense já está fazendo isso desde o começo do Brasileiro, antes da Copa. Não foi por causa da Alemanha. No meu primeiro jogo, contra o Horizonte, pela Copa do Brasil, o time deu 16 toques na bola antes de o Wagner marcar. No Brasileiro, a gente deu 17 toques até o Sóbis marcar. E, contra o Atlético-PR, Jean marcou após o time tocar 18 vezes sem que o adversário roubasse a bola.

Algum time inspirou você?

Minha inspiração é o resgate do futebol brasileiro, a valorização da qualidade técnica. Adoro o trabalho de um monte de gente: Bielsa, Guardiola, Mourinho, Ancelotti. Quando você vê o Cruzeiro jogar, poxa, aquilo é futebol brasileiro. O Fluminense joga futebol brasileiro.

Você hoje é melhor do que nos tempos de Vasco?

Sem a menor dúvida. Lá no Vasco, falavam que meu trabalho era bom. Mas vi que podia melhorar e fiquei sete meses estudando.

Como convenceu o Fred a ficar no banco contra o Goiás?

Olha, no Vasco, em todas as coletivas eu tinha que responder se o Juninho e o Felipe podiam jogar juntos. Aquilo me dava uma tristeza, pois parecia o assunto mais relevante, mesmo nas vezes em que o Vasco fez partidas maravilhosas. Agora, eu pensei que tinha me livrado disso, mas em todas as coletivas são seis ou sete perguntas sobre o Fred. Ele é o grande ídolo, mas as perguntas são de uma pobreza absurda. O Fred não jogou porque precisava se condicionar, ora.

Felipe não ficava emburrado? A imprensa estava errada?

Mas quem fomenta isso? Quem faz isso virar notícia? Quem faz enquete instigando a torcida? Metem o pau, dizem que estamos atrasados, mas a imprensa também precisa se preparar. Se a discussão não mudar, a gente vai continuar tomando de sete. No futebol, discute-se pouco as coisas essenciais. As não relevantes ocupam mais espaço. A gente só discute quando há uma tragédia como a da Copa do Mundo. Aí, todo mundo quer revolucionar tudo, e nada presta. A discussão é que está errada.

Fred já esqueceu a Copa?

Ele está ótimo. Fizeram uma injustiça absurda. Por que a Copa ficou na conta do Fred se, quando ele não jogou (contra a Holanda), o Brasil tomou de três? A pior coisa naquele Brasil x Alemanha ninguém falou. Eu e o Ricardo (Gomes) trocamos mensagens durante o jogo. Não vou dizer o que foi. Para quem é treinador, foi muito claro. Mas o que se dizia é que a culpa era do Fred e que ele era um poste…

Mas ninguém culpou o Fred pelos 7 a 1…

O que dizem é que o Fred foi o grande problema do Brasil na Copa. Sempre tem que haver alguém para pagar o pato. Na quarta-feira, lá em Natal, quando o Fred pegava na bola, vaiavam ele. Mas a gente vai mudar isso. O Fluminense virou adversário de todo mundo. Mas isso vai mudar. Quem estava contra, agora está se encantando.

Aprova a escolha do Dunga?

Não quero falar sobre seleção. É um perigo. Sou um peixinho, um aprendiz.


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