O tricampeonato brasileiro do Fluminense completa dez anos neste sábado. No dia 5 de dezembro de 2010, o Tricolor chegava à última rodada dependendo apenas de uma vitória diante do já rebaixado Guarani no Engenhão para ser campeão. Mas a partida foi longe de ser fácil. O gol do título saiu apenas aos 17 minutos do segundo tempo, com Emerson Sheik. Depois de um primeiro tempo ruim, Conca conta como foi o papo com o técnico Muricy Ramalho no intervalo.
Astro da equipe na conquista, o meia relata a importância do treinador para tranquilizar o time no meio daquela tensão e responsabilidade.
— Entramos no vestiário, todo mundo imaginava um Muricy irritado, nervoso. Mas ele estava muito calmo. (A ansiedade dos jogadores) era normal. Havia 26 anos que o Fluminense não ganhava um Brasileiro. Ao treinarmos nas Laranjeiras, com os sócios (nas arquibancadas) já sentíamos aquele clima, você sai de casa o porteiro já fala… Carregávamos uma responsabilidade muito grande. O Guarani jogou bem, jogou relaxado. Ninguém dá nada de presente. Dentro do jogo sabíamos que estávamos com uma responsabilidade muito grande, uma obrigação de fazer um gol muito rápido e acho que isso foi nos atrapalhando um pouquinho. Quando chegou no intervalo, o Muricy pediu para todo mundo sentar e ninguém falar nada. Porque jogador sempre chega no vestiário falando alguma coisa. Ele falou: “Ninguém fala nada, relaxem. Temos cinco, dez minutos para relaxar. Todo mundo tranquilo”. E completou: “Se jogarem do jeito que jogamos, temos mais 45 minutos, um gol conseguimos fazer. Só não podemos tomar gol, se não vamos sofrer”. Ele mudou um pouquinho aquela responsabilidade toda, dos 26 anos para um jogo normal – disse.
Conca, inclusive, não vê Muricy Ramalho unicamente como fundamental para a conquista. Para o ex-meia, o comandante foi o melhor com quem trabalhou em sua carreira.
— O ano de 2010 foi o melhor ano da minha carreira. Ao lado dele eu me sentia confortável, ele me entendia. Ele fazia eu jogar do jeito que eu precisava naquele momento. O Muricy foi muito especial para mim. Sempre serei grato a ele. Por tudo que me ensinou, na confiança que me passou, que me fez entender que era capaz de conseguir um título brasileiro, de conseguir fazer mais gols, de conseguir participar mais. Para mim, o Muricy foi o melhor – enalteceu.
A trajetória do técnico no Fluminense, no entanto, quase foi interrompida. No meio do Campeonato, recebeu convite para comandar a seleção brasileira após Dunga ser demitido depois da Copa. O treinador recusou o convite e seguiu.
— Foi uma alegria saber que poderíamos continuar trabalhando com um treinador que era desejado pela seleção brasileira. Confiávamos muito no trabalho do Muricy. Sabíamos o que ele queria. Sabíamos que ele era o treinador para nos levar a ser campeão, que sabia o caminho, que era uma pessoa fantástica, que em um mês já tinha ganhado o carinho dos torcedores, dos jogadores e de todos que trabalhavam no clube. Uma alegria para o Fluminense e uma tristeza para a seleção brasileira – lembra Conca.