O Fluminense se movimenta no mercado por reforços para a próxima temporada. Até o momento, já anunciou oficialmente as contratações do técnico Abel Braga e do volante Felipe Melo. Além disso, tem acertos encaminhados com o atacante Willian Bigode e o lateral-esquerdo Mario Pineida. Jornalistas do Grupo Globo analisaram as caras novas tricolores. Confira!
CARLOS EDUARDO MANSUR
Abel Braga
– Se me perguntassem se o Abel seria o perfil que eu buscaria: no momento, não. Acho que ele tem pontos a favor, como conhecer o clube e ser um cara muito bom de ambiente. Então, em um ambiente que já conhece, já viveu, tem uma relação especial, ele pode se sentir à vontade para fazer um bom trabalho, mas, ao mesmo tempo, me parece que o Fluminense buscou muito mais um símbolo do que um projeto para o futuro.
– Quando ele herdou um bom trabalho no Inter e precisou dar continuidade, mais administrando o ambiente do que construindo um time, ele quase ganhou o Campeonato Brasileiro num tiro curto. Mas os últimos trabalhos dele que dependeram de construção de uma equipe a partir do início de temporada, como Flamengo e Vasco, ele teve dificuldades. Nesse contexto, eu não vejo com tantas razões para se olhar com tanto otimismo, mas obviamente pode funcionar.
Felipe Melo
– Acho que ele é muito marcado pela liderança, mas ainda tem características técnicas que podem ajudar. É um jogador de bom posicionamento, bom passe longo, que tem qualidade individual. Minha questão é em relação ao tamanho do investimento e o quanto isso inviabiliza atender outras necessidades do elenco investindo tão alto em uma posição que não é carente e que o Fluminense inclusive, tem projeção de jogadores. Como o Fluminense vai administrar para que a chegada do Felipe Melo não seja uma “trava” na afirmação de alguns atletas, que vêm desempenhando bem na posição, como André e Martinelli?
Mário Pineida
– Ele tem uma característica muito peculiar: de ser um destro jogando pelo lado esquerdo. Ele chega para uma posição carente, em que o Fluminense teve muitas opções em 2021, mas nenhuma delas convenceu a torcida totalmente. Agora, vai caber ao Abel usar o melhor dele. O que um destro jogando pela esquerda pode oferecer? A possibilidade de que os cruzamentos sejam feitos com outra angulação; normalmente, ele vai cortar para dentro para cruzar. Isso faz com que a área seja atacada de uma outra maneira. Permite também que auxilie na construção pelo meio, trazendo a bola para dentro.
– Hoje, a gente está vendo muito lateral-esquerdo destro, é quase uma tendência, a Eurocopa mostrou isso. A questão é usar bem essas características. O Pineida viveu uma boa temporada em um time que foi bem na Libertadores, mas não dá para cravar que vai ser um jogador que vai ter continuamente um nível alto de atuações. Tem 29 anos e, até hoje, não chamou atenção de mercados de porte, passou a carreira dele toda no Equador.
Willian Bigode
– É um jogador que tecnicamente ainda pode ajudar, apesar dos 35 anos. Ele pode jogar pelo centro do ataque, ajudar pelo lado, jogar como atacante de mobilidade sem tanta posição fixa… E, normalmente, é excelente em termos de grupo, de profissionalismo. O Fluminense só precisa cuidar da questão de balancear o seu elenco com opções com mais vitalidade também. O ataque tem essas opções, especialmente pelo lado, então, acho que o Willian pode casar bem. Talvez não seja o jogador que “vai te dar” 80% das partidas na temporada, mas pode ser utilizado com frequência e, tecnicamente, tem qualidade para ajudar.
CONRADO SANTANA
“Acho que o Fluminense se preocupou mais com nomes de impacto do que necessariamente com uma análise de mercado para buscar jogadores que o elenco precisava”.
Abel Braga
– Não gostei das contratações do Fluminense até agora, começando pelo Abel Braga. É um treinador identificado com o clube, tem uma história vencedora no futebol e, inclusive, teve ótima passagem pelo Internacional recentemente, quase foi campeão brasileiro… Mas acho que o Fluminense perdeu uma oportunidade de buscar algo diferente, de inovar com um treinador fora da mesmice e teve tempo enquanto esteve com o Marcão para buscar, estudar o mercado e trazer um cara diferente, já que está com dificuldades financeiras.
– Esse cara, inclusive, provavelmente, seria mais barato do que o Abel Braga. Por exemplo, como o Bragantino fez com o Barbieri, e o Fortaleza fez com o Vojvoda. Dois casos fora da mesmice que deram muito certo. Claro, sem comparar o tamanho dos clubes, mas o momento financeiro do Fluminense pede isso.
Felipe Melo
– Também não vi necessidade, porque é caro, são dois anos de contrato, é um jogador que já tem 38 anos, vai fazer 39… Tanto é que o próprio Palmeiras, onde ele estava, era identificado e foi campeão, abriu mão. Mas principalmente porque é a posição do André, que, para mim, é o melhor jogador do Fluminense hoje. O que vai acontecer? Vai ser um cara caro para ficar no banco? É “só” pela experiência (apesar das polêmicas, eu vejo o Felipe Melo como um cara muito importante para ter no grupo)? Ou vai ser titular e brecar a continuação desse começo de carreira brilhante do André?
Mário Pineida
– É uma aposta. Vem de uma Liga mais fraca, jogador que é destro, mas joga na lateral esquerda, pode jogar na lateral direita também. E a torcida do Fluminense tem reclamado muito dos seus laterais. Mas também não vejo o Pineida chegando para tomar a camisa, ser titular e conquistar a torcida. Sendo barato, vindo de um mercado menor, pode ser uma boa aposta para compor elenco. Não é um cara tecnicamente diferenciado, pelo menos, pelos jogos que a gente acompanhou na Libertadores.
Willian Bigode
– Já tem 35 anos também, mais um cara que tem muito nome, portanto, deve ter um salário pesado na folha de um time que está precisando de mais mobilidade, mais juventude… Estava com Fred, Bobadilla, Abel (Hernández). Apesar de ser um cara que sempre entregou por onde passou, pela questão do salário, não vejo como importante essa contratação. Já jogou pouco nessa reta final pelo Palmeiras, seria uma surpresa, para mim, se entregasse como titular do Fluminense o que o clube está pretendendo. De novo, pelo contexto de salário e idade.