Um dos grandes nomes da história do Fluminense, o goleiro Paulo Vítor concedeu entrevista para o NETFLU nesta quinta-feira. Dentre os temas, ele falou sobre o estilo de jogo do Fluminense atual, comparou os atletas de hoje em dia com os do passado e criticou Rodolfo. Atualmente, Paulo Vítor é diretor executivo de futebol do Real Futebol Clube de Brasília após 26 anos fora do esporte. Com a camisa verde, branca e grená, foi campeão brasileiro em 1984 e tricampeão carioca (1983-84-85). Confira a entrevista na íntegra:

NETFLU: Você enxerga muita diferença entre os jogadores de hoje e os de sua época? 

 
 
 

Paulo Vítor – A diferença é gritante, a começar pelo lado financeiro. Hoje se paga muito e entrega pouco. Antes tinham craques. Em qualquer lugar tinha jogador de seleção brasileira. Era diferente, era um futebol de glamour. É óbvio que não ganhava o que se ganha hoje, apesar de ganhar um dinheiro. Hoje a diferença é muito grande. Se você convoca a seleção brasileira, você convoca estrangeiros, que atuam na Europa. Na minha época, tinha que jogar bem em seu clube, no Brasil.

NETFLU: Qual foi o grande segredo daquele time montado na década de 80 que conquistou o tricampeonato carioca e o Campeonato Brasileiro

PV – Na verdade a gente se uniu em prol do Fluminense. O time foi montado em 83. Os únicos remanescentes de 81 e 82 foram eu e o Delei. Foi se montando e entrosando os times. Antigamente se fazia muitas excursões. Veio o Aldo, Leomir, Assis, Washington, o Romerito chegou depois. Hoje você não faz esse tipo de preparação, jogador não quer nem treinar. Ganham muito e não querem nem treinar. Hoje ganham demais e acham que jogam muito, mas também jogávamos muito na nossa época.

NETFLU: Agora, falando de Carioca… até hoje os banguenses cobram um pênalti de Vica sobre Claudio Adão, naquela final de 1985. O que você lembra desse lance? Acha que prejudicaram o Bangu mesmo?

PV – Você acha que o Bangu iria ganhar da gente naquele jogo? Não ia! Viramos para 2 a 1 a partida. O pênalti que eles alegam, mesmo que o juiz tivesse marcado, seria fora da área. Agora, se fosse pênalti, o juiz tinha marcado. Não foi pênalti (risos). Isso é choro de perdedor. Bom demais! (risos)

NETFLU: Qual é a sua projeção pensando nesse Fluminense e Bangu desta sexta-feira?

PV – Não tenho expectativa nenhuma nesse jogo. Eu vou ficar em casa assistindo o programa que eu gravei na ESPN. Não tenho a mínima vontade de assistir esse jogo. Estou sendo honesto contigo, porque um time que numa final não consegue dar um chute em gol é brincadeira. Não estou muito empolgado.

NETFLU: Você acha que o time ganha mais corpo com a estreia do Ganso?

PV – Não sei. Eu espero que melhore, a gente torce para isso, mas não estou muito empolgado. Com o esquema que está se jogando, eu não sei. Esse negócio de ter muita posse de bola e poucas finalizações, eu não sei. Para mim, ainda é um risco.

NETFLU: Você não aprova então o estilo Fernando Diniz de fazer futebol?

PV – Eu não sou contra. É um estilo audacioso, mas para isso tem que ser ambicioso também, tem que ser objetivo. O objetivo é o gol. O Fluminense não está tendo isso. Se você tem a posse de bola, precisa ter poder de fogo também. Tem a maior posse de bola, mas não é objetivo. Eu não sou opositor ao Fernando, sou admirador dele. Deu certo o estilo no Audax, mas no Atlhético-PR não deu e no Fluminense, por enquanto, não está dando pra mim.

NETFLU: Se você jogasse no esquema do Diniz, tendo de sair com o pé, tendo de mostrar sangue frio, qual seria a sua postura?

– Eu tinha um treinador que falava assim: goleiro usa as mãos. Então, meu querido, eu não quero é tomar gol. Goleiro não tem que ser habilidoso, tem é que dar chutão mesmo, que se virem lá na frente. Tem muito goleiro que não tem habilidade pra fazer o que o Diniz pede. Se eu estivesse nesse esquema, o que eu mais daria era chutão. Poderia até me tirar do time depois.

NETFLU: Qual é a sua opinião a respeito do goleiro titular do Fluminense, o Rodolfo? 

PV – Agora você fez uma pergunta difícil (risos). O Rodolfo é novo, tem que aprender muita coisa ainda. Não é fácil jogar no Flamengo, Botafogo, Vasco, nem Fluminense. Primeiro tem que cair nas graças do torcedor. É um bom goleiro? Sim, senão não estaria no Fluminense, mas precisa melhorar algumas coisas, como sair do gol. Os goleiros do Brasil não sabem sair do gol. Todos os goleiros do país que têm medo de sair do gol e acabam tomando gol.

NETFLU: Você acha que ele poderia ter evitado aquele gol que o Vasco fez sobe o Fluminense, na final da Taça Guanabara?

PV – Com certeza! Se ele tivesse saído na bola, ele cortava o cruzamento. Eu não tenho dúvida nenhuma. A bola foi direta, alta para o gol, quicou na pequena área. Ele poderia ter matado o cruzamento. Não adianta ter só participação com os pés. Tem que ter participação com as mãos. Tem que treinar muito saída do gol.

NETFLU: Você acha que os atrasos salariais interferem o desempenho do jogador dentro de campo?

PV – Interfere sim. Você tem dívidas para pagar, tem compromissos. Quando você deve, o jogador não quer saber o motivo, ele quer receber. São poucos clubes no Brasil que pagam em dia. Os atletas têm que entender que só quem pode sair da situação são eles. Com vitórias, trás parceiros, patrocinadores. Como você vai investir num time que só perde?

NETFLU: Pretende voltar a trabalhar no Fluminense algum dia?

PV – Voltar a trabalhar não, mas não voltar para o Rio de Janeiro. Eu até falei para algumas pessoas que tenho vontade de ser um embaixador do Fluminense, mas trabalhar em si eu não quero.