Cacá Cardoso promete investimento em Xerém (Foto: Leandro Dias/NETFLU)

Cacá Cardoso foi entrevistado por Fágner Torres, responsável pelo blog Laranjeiras, hospedado na ESPN Brasil. O jornalista também interpelou os outros três candidatos à presidência do Fluminense e fará a divulgação ao longo desta semana. Veja:

BLOG LARANJEIRAS – Embora tenha saído da UTI na parte financeira, o Fluminense ainda é bem difícil de se administrar. Sendo assim, porque o senhor pretende ser presidente? Qual será a diferença entre a sua gestão e a de Peter Siemsen?

 
 
 

 

Cacá Cardoso – O Fluminense vive situação financeira bastante delicada. Temos plena consciência de tal condição e das dificuldades que teremos que enfrentar. São 13 anos gastando acima da arrecadação, num modelo de negócio que não é sustentável. Assumiremos o clube com importantes compromissos, que vão desde o pagamento das parcelas do Profut, Ato Trabalhista e demais obrigações assumidas, até o pagamento dos empréstimos relacionados ao CT e a finalização de sua construção. Tudo isso num cenário com contratos engessados, principalmente neste primeiro ano.

 

Acredito que a vontade de ser presidente vem justamente desse quadro, dos rumos que o clube vem tomando nos últimos anos, e da necessidade de podermos intervir nesse processo de enfraquecimento e de perda do protagonismo do clube no cenário esportivo. Não podemos ficar parados, olhando de forma passiva. Justamente por isso, buscamos os melhores profissionais que existem no mercado, todos grandes tricolores, bem sucedidos em suas carreiras e completamente comprometidos com esse projeto que desejamos implantar no clube. E tenho plena confiança que, com essa equipe, podemos resgatar toda a tradição do Fluminense.

 

O Flu precisa ser repensado, com a introdução de novos conceitos em seu modelo de negócio, estabelecido em um novo modelo de governança específica e colegiada, com os papéis, responsabilidades, processos e limites de autoridade de decisão bem definidos, representando a ruptura com o velho modelo de concentração de poder nas mãos da figura do presidente. Desejamos resgatar o protagonismo do futebol no clube que nasceu para o esporte, buscando uma modernização completa da gestão, mas sem abrir mão de quem somos, da nossa essência e de nossas tradições. Acho que é justamente nesse aspecto que faremos uma gestão diferenciada do atual modelo existente.

 

Uma crítica da oposição a atual gestão, é que, supostamente, ela não enxerga o clube com seu real tamanho. Qual é o tamanho do Fluminense na visão de Cacá Cardoso?

 

Com todo o respeito às demais entidades e agremiações esportivas existentes, mas, sem falsa modéstia, vejo o Fluminense como a maior referência esportiva, social e cultural deste país e, certamente, uma das maiores do mundo. E acho que qualquer pessoa que não enxergue o clube dessa forma não tem condições de presidi-lo.

 

Somos a primeira entidade esportiva destinada à prática do futebol no Estado do Rio de Janeiro. A quarta mais antiga do Brasil, posição inigualável de pioneirismo, enquanto os demais clubes tinham seus departamentos esportivos focados na prática do Remo. Fundamos a primeira liga organizada do esporte no estado, tendo sido modelo de organização da antiga CBD. E, sozinhos, construímos o mais antigo estádio para prática esportiva do país, servindo de casa para a seleção mais vitoriosa do mundo, a brasileira.

 

O Fluminense é uma entidade que não apenas contribuiu com as três primeiras medalhas olímpicas conquistadas para o país, como também introduziu esportes como Vôlei, Basquete e Polo Aquático. É tão importante, a ponto de ser reconhecido como a mais completa instituição esportiva do mundo, em 1949.

 

O Fluminense é isso. Um clube que, definitivamente, nasceu para ser a referência esportiva, social e cultural que sempre esteve relacionada ao seu nome. É isso que desejamos e vamos resgatar.

 

Há algum tempo, a política do clube vive um clima bélico. Quem critica o desempenho é tachado de “anti-tricolor”. Quem concorda com tudo, é ridicularizado. Se eleito, como pacificará o Fluminense em busca de objetivos ainda não alcançados?

 

É uma questão curiosa. Há poucos dias um canal publicou uma reportagem sobre o tema e ficamos bastante satisfeitos em ver que nossa candidatura não é alvo de ataques. Temos amigos nas outras candidaturas e respeitamos cada um dos candidatos. Acho que isso é consequência da postura que adotamos desde o início, sempre buscando uma campanha propositiva, fundamentada no debate de ideias e não sob a égide de acusações e ofensas de cunho pessoal. Manteremos nosso posicionamento até o final, independente dos eventuais problemas que existam entre os demais candidatos.

 

Temos diálogo aberto com o Pedro Abad, com o Mário Bittencourt e com o Dr. Celso Barros. E todos sempre mostraram respeito pela nossa candidatura e pelos nossos quadros. Certamente somos a candidatura em melhores condições para alcançar tal objetivo. Estamos comprometidos também com a formação de um Conselho Deliberativo forte, atuante, formado por lideranças positivas, que não se submeta ao exclusivo papel de homologador de decisões oriundas da gestão.

 

O carro-chefe do Fluminense é o futebol. Como vê o trabalho deste departamento? Se eleito, o que mudará em relação ao que está sendo feito hoje?

 

O futebol é a grande razão da existência do Fluminense. É o que fomenta a nossa paixão. Claro que todos os setores demandam atenção, mas ele precisa ser a grande prioridade do clube.

 

Queremos implementar uma nova filosofia no departamento, na qual este setor seja tratado com primazia. Existe um desvio de finalidade, com uma defesa insana que balancetes positivos são mais importantes que as taças. Reconhecemos a importância de uma organização financeira, mas o futebol não pode ser utilizado como mecanismo para consecução de tais objetivos. O fluxo precisa ser o contrário, com a boa gestão financeira sendo um fator potencializador do futebol. Por sua tradição e história, o Fluminense não pode entrar em uma competição com objetivo diferente de vencê-la. Não podemos aceitar posições medianas como resultados positivos, fomentando a mediocridade.

 

Vamos adotar um planejamento sólido, que priorize o desenvolvimento técnico do time em detrimento de opções que visem somente a questão econômica, estabelecendo critérios para contratação de atletas e montagem do elenco, buscando a eficiência nas aquisições e priorizando gastos com as nossas principais necessidades, buscando a melhora na administração dos recursos.

 

Entre fazer o Fluminense crescer estruturalmente, o que também é necessário, e investir no campo, de modo que o time não perca competitividade, qual a sua prioridade?

 

É preciso haver um equilíbrio. O investimento em estrutura, por vezes, pode gerar um impacto mais positivo no rendimento do time em campo do que a contratação de um determinado atleta. Por outro lado, não adianta ter equipamentos de última geração se a formação do elenco for realizada de forma equivocada, sem o devido cuidado com setores específicos. Trata-se de uma avaliação que precisará ser feita em cada caso.

 

Temos o compromisso de valorizar o Departamento de Futebol, buscando a montagem de elencos que estejam à altura das tradições do clube. Queremos títulos e vamos trabalhar para conquistá-los. É a nossa prioridade. Mas entendemos que a finalização das obras do CT, por exemplo, são um caminho importante para tal objetivo.

 

Os investimentos obedecerão sempre à ordem de necessidades do clube, a fim de viabilizar a obtenção de resultados positivos dentro de campo, pois esse é o objetivo final, sempre.

 

Xerém ainda é criticado por produzir poucos jogadores extra-classe em comparação a outras bases. O último foi Marcelo, um lateral, há dez anos. Não acha que investimos muito em resultados e marketing e pouco na formação de craques?

 

Acho que existe um trabalho bastante interessante sendo desenvolvido em Xerém. Jogadores extra-classe, como é o caso do Marcelo, não surgem sempre. Quantos atletas desse nível foram formados no Brasil nos últimos anos? A base parece ser capaz de alimentar o futebol profissional, e isso é essencial. O Scarpa é um jogador acima da média. Outros apareceram, recentemente, como Maicon, Wellington Nem, Kenedy, Marlon, Gérson.

 

A grande mudança que enxergamos é que a base precisa servir ao clube, e não apenas ser uma vitrine para a venda dos atletas. A maioria desses jovens valores acaba sendo negociada muito cedo e sequer chegam a dar um retorno técnico ao clube. Na nossa gestão, trabalharemos com maior cuidado a questão da transferência do jovem atleta, das categorias de base para o profissional. O que vemos hoje é que, muitas vezes, são queimadas etapas porque o time profissional está em apuros por conta de contratações mal feitas.

 

Além disso, é comum que os atletas sejam treinados na base para atuar de uma determinada forma e, ao chegarem aos profissionais, se deparam com uma mudança completa em seu estilo de jogo. É preciso que haja uma padronização de estilo de jogo. É algo que muitos times na Europa já se preocupam em fazer. O Barcelona é o exemplo mais claro e vencedor. Mas, para que isso funcione, é preciso que o futebol esteja muito bem estruturado, com um fio condutor que passe por todas as categorias.

Nos últimos anos, o Fluminense dependeu muito de empresários, com investimentos em jogadores questionáveis, que não deram o retorno esperado. Qual o caminho para o clube não ser refém e não errar tanto nas contratações?

 

Defendemos a necessidade de uma profissionalização do futebol, através do desenvolvimento de um modelo fundamentado na criação de uma estrutura científica, consolidação de plano de jogo e de dados, monitoramento de mercado e formação de uma comissão técnica sólida e fixa, com cargos e funções bem definidos dentro da estrutura que se pretende implementar, sob a supervisão de grandes empresas especializadas como a Universidade do Futebol, Deloitte e a Accenture.

 

Essas instituições terão um papel relevante na formação do Plano Estratégico do Futebol do Fluminense. Este plano apontará as posições relevantes a serem ocupadas pelos mais diferentes profissionais do mercado, indicando critérios técnicos sólidos para contratação de atletas e montagem do elenco, buscando a eficiência nas contratações e priorizando gastos com as principais necessidades do elenco, buscando-se uma melhora na administração dos recursos financeiros.

 

Trata-se de um sistema bem sucedido em inúmeros clubes do mundo, com resultados relevantes no Internacional campeão da Libertadores; no Corinthians, nos últimos anos; e no Cruzeiro, campeão brasileiro. É o caminho que desejamos seguir.

 

Sobre o Marketing, recentemente firmamos contratos pontuais com a Caixa e com a TCL. Como ser mais agressivo, de modo a alavancar receita e formar times campeões, num cenário de crise econômica? O senhor já tem planos para apresentar à torcida?

 

É evidente que vivemos um momento de crise político-econômica no Brasil e este é um fator preponderante. Mas, definitivamente, não é a resposta absoluta para os problemas encontrados. Se assim fosse, não seríamos o último clube da primeira divisão a obter um acordo de patrocínio e, ainda assim, apenas pontual.

 

As relações conflituosas estabelecidas com a Viton 44 e, principalmente, com a Unimed acabam por afastar empresas e potenciais investidores. Ninguém deseja relacionar sua marca a um clube que se notabilizou por vilanizar seus parceiros.

 

A oferta de patrocínio, no atual mercado do futebol, não pode ser limitada à compra de espaço na camisa, placas nos estádios ou distribuição de ingressos. Isso é um modelo antiquado, que representa o mínimo exigível. Devemos entender como o Fluminense pode ser inserido em uma estratégia na qual possa agregar valor ao produto com o qual se relaciona, trabalhando ativamente com o conceito de brand equitydos patrocinadores, estando na cadeia de valor das marcas parceiras.

 

Mais do que isso, é exigível um cuidadoso entendimento da estratégia de marketing de cada uma das empresas que tenham o interesse em ser parceiras do clube, e construir algo em função dessas estratégias. Não há mais espaço para exigências e imposição de interesses unilaterais. Devemos trabalhar com foco no ganha-ganha, e adequados às demandas do mercado. Até mesmo para que o sucesso de um investimento seja um fator de atração para outros.

 

O caminho deve ser inverso neste momento de retração. Com humildade. O que o patrocinador quer e como posso ajudar? Por que não buscar modelos de patrocínio diferenciados, específicos, que possam se encaixar no plano de negócio das empresas e que possibilitem uma maior abertura de exploração comercial do próprio clube?

 

Precisamos entender as mudanças e hábitos dos torcedores para ajustar nossas estratégias ao Século 21, avaliando oportunidades disponíveis, pensando a longo prazo e equilibrando o orçamento. Hoje, o Fluminense tem poucos produtos sendo explorados, poucos canais de venda capazes de disponibilizar esses itens ao consumidor final e, principalmente, uma falha na fiscalização do retorno financeiro, o que resulta numa receita abaixo do seu potencial. Estamos focados em desenvolver e explorar a marca do clube, inclusive com o controle de qualidade dos produtos licenciados e do retorno financeiro gerado.

 

É primordial que o clube inicie um trabalho específico com crianças na fase em que escolhem seu clube. Queremos que o primeiro contato desses jovens torcedores com o esporte seja feito através do Fluminense, antes de qualquer outro clube do Brasil. É preciso atingir escolas públicas e privadas para formar uma nova geração de torcedores. Ao mesmo tempo, o torcedor tricolor, fiel, tem uma demanda evidente de eventos, de estar mais próximo do clube e de seus ídolos. Queremos iniciativas frequentes e específicas com essa finalidade.

 

Como vê a relação entre Flu e DryWorld? Há reclamação, principalmente quanto ao fornecimento. O senhor crê que a aposta foi equivocada, por mais que o clube tenha lucrado no valor do contrato?

 

Infelizmente não tivemos acesso aos dados contratuais do compromisso assumido entre Fluminense e Dry World, para que pudesse fazer uma avaliação detalhada da questão. Não seria justo opinar sobre algo que desconheço. Temos algumas impressões e alguns questionamentos, principalmente se o contrato se tornou tão lucrativo, considerando a falta de produtos no mercado.

 

O Fluminense precisa buscar parcerias que possam agregar valor à sua marca. Sabemos que o clube é constantemente procurado por inúmeras empresas que desejam estabelecer parcerias. A questão financeira é essencial, mas existem outras avaliações relevantes. A disponibilidade do produto, o comprometimento em desenvolver produtos diferenciados, que possam atender demandas específicas, a visibilidade que será dada ao Fluminense.

 

Definitivamente, não podemos aceitar vínculos com empresas que sequer se mostram capazes de cumprir o básico e que acabam afetando negativamente a imagem do próprio clube ou, pior, após um ano de acordo, ainda ter de disputar competições com material da antiga fornecedora.

 

Em relação ao Sócio Futebol, não acha pouco que a atuação interna deste segmento se limite ao voto? O senhor possui planos para este público? 

 

O Fluminense precisa desenvolver um novo modelo de negócios que aproveite todo potencial de engajamento da torcida, principalmente pela internet. Trata-se de um novo mercado, capaz de gerar receitas em campos não explorados pelos clubes brasileiros, que vão desde a venda de produtos licenciados na internet, passando pelas redes sociais, que, trabalhadas adequadamente, podem tornar-se importante fonte de renda.

 

Nosso plano de gestão contempla o desenvolvimento de um programa de relacionamento sólido com o torcedor, através das mais variadas iniciativas, tais quais campanhas relacionadas à paixão do torcedor, E-Commerce oficial, aplicativo oficial, escolinhas de futebol e de esportes olímpicos, sites e redes sociais, lojas oficiais e redes de descontos. Queremos viabilizar uma aproximação do Fluminense com seu público em absolutamente todos os canais que existirem para isso, com foco específico na massificação da marca e monetização de tais iniciativas.

 

Dentro desse programa de relacionamento, o fator de maior relevância, certamente, é a reformulação completa do programa de sócio torcedor, fundamentado em uma nova perspectiva, através da valorização do torcedor do Fluminense, estimulando campanhas para a adequação dos produtos a necessidade de cada um desses torcedores, tratados como sócios em potencial, com foco na demonstração dos benefícios e da forma como os recursos captados estão sendo utilizados, com a oferta de experiências individualizadas, produtos e conteúdo exclusivo, facilitação na forma de pagamento e afins.

 

O desenvolvimento de uma plataforma de conteúdo exclusivo é fator preponderante como mecanismo de aproximação com a torcida, desenvolvimento da relação com investidores e patrocinadores, fomento da “Cultura Tricolor”, e valorização do programa de relacionamento, com ampliação da capacidade de captação de recursos. Atualmente, as maiores receitas de transmissão obtidas por grandes ligas, como a NBA e a NFL não estão relacionadas às transmissões televisivas, mas à produção de conteúdo próprio, um mercado pouco explorado no Brasil. Todas essas questões convergem para um ponto comum. Apostar na capacidade de aproximação com o nosso torcedor. É essencial que tenhamos o torcedor tricolor junto, consumindo o Fluminense 24 horas por dia, participando ativamente do processo de tomada de decisões, com ferramentas de transparência à sua disposição.

 

Queremos que o torcedor perceba que é vantajoso ser sócio. Que está contribuindo financeiramente para o clube, que está obtendo vantagens financeiras relacionadas à rede de descontos, que pode funcionar como um fiscal da gestão e participar mais ativamente do processo de tomada de decisões, isso tudo recebendo um conteúdo exclusivo.

 

Se eleito, o senhor herdará o futebol com o CT ainda precisando de obras. Sabemos que o projeto é tocado solitariamente pelo Pedro Antônio. Como é a sua relação com ele? 

 

Tenho profundo respeito e admiração pelo Pedro Antônio e certamente conto com a participação dele na minha gestão. Pessoas que atuam em favor do clube, como ele, Celso Barros e tantos outros, precisam ser respeitadas e apoiadas. Na verdade, precisamos incentivar novos “Pedros” e “Celsos”. Nossa gestão estará aberta a todo tricolor que quiser colaborar. E, evidentemente, não seria diferente com alguém que já fez tanto pelo Fluminense.

 

Sobre Laranjeiras, qual destino o senhor buscará para a ociosidade do espaço, após a mudança em definitivo para o CT?

 

O primeiro passo é fazer um estudo de viabilidade consistente para compreender as possibilidades que existem para desenvolvermos aquele equipamento e torná-lo uma importante fonte de receitas. Com a Olimpíada, tivemos um período bastante difícil, em que ficamos sem lugar para mandar nossas partidas. O Fluminense precisa ter um estádio e, particularmente, nos agrada a possibilidade de voltar ao berço do futebol brasileiro. Nossa ideia é estabelecer, naquele local, a casa da torcida tricolor. Um alçapão que atenda até 20 mil torcedores, que possa receber jogos com menor perspectiva de público. É a melhor destinação possível para um local com tanta história.

 

Queremos ir além. Seria um estádio com uma capacidade de público mediana, no coração da Zona Sul. Isso abre uma série de possibilidades de rentabilização do clube com eventos, shows e afins. Acreditamos na possibilidade de integrar o Estádio das Laranjeiras com a sede social, criando equipamentos que possam atender aos sócios fora dos dias de jogos, com a expansão da sala de troféus, elevada ao patamar de museu do clube, associada ao desenvolvimento de um Centro Cultural, abertura de lojas oficiais do clube, restaurantes e toda a estrutura necessária para garantia de que o local pudesse se tornar fonte de renda independente dos jogos.

 

Isso é o que desejamos, mas sabemos que existem dificuldades que vão além da condição financeira. Justamente por isso consideramos necessário termos uma definição clara sobre a viabilidade do nosso projeto para, então, debatermos qual será a destinação que será dada. Os sócios devem ser ouvidos, participar desse debate. Um compromisso que tenho é que os sócios participarão de forma ativa desse processo.

 

E qual é a sua opinião em relação a gestão do Maracanã? O Fluminense deve seguir como parceiro do Flamengo?

 

O Maracanã é a casa do Fluminense, palco dos nossos grandes jogos, onde a nossa torcida está acostumada a ir. Temos muita história naquele estádio e não acho que podemos abrir mão, sob qualquer hipótese. Além disso, é um estádio estratégico sob o ponto de vista de consolidação de nossa marca. É o maior do Brasil, um dos grandes pontos turísticos do Rio, que já sediou duas finais de Copa do Mundo e uma final de Olimpíada. É um estádio que agrega valor ao nosso produto e que nos abre uma série de possibilidades em termos de exploração comercial.

 

É impositivo, entretanto, que o Fluminense consiga estabelecer com o estádio uma relação positiva. Não podemos aceitar qualquer condição imposta. Precisamos criar mecanismos que viabilizem o estádio como uma fonte de receitas e não ser mais um fator de despesas. Para isso, é preciso estabelecer uma gestão diferenciada, trabalhando setorizações, otimizando a oferta de serviços e criando as nossas próprias condições de uso.

 

De toda forma, não entendemos que a manutenção da relação com o Maracanã seja um fator impeditivo a construção de um estádio de menor porte. Ao contrário. Acreditamos que o modelo ideal é fundamentado justamente na utilização do Maracanã como palco para as grandes partidas e o estádio próprio para partidas com menor potencial de público. O Maracanã é um estádio enorme, para 76 mil pessoas, e isso aumenta o desafio de estabelecer uma gestão sólida e otimizada, pois os custos mínimos já são elevados. Além disso, o estádio é um ícone da cidade e, com freqüência, acaba sendo demandado como sede para grandes eventos. E acabamos tendo dificuldades de encontrar novos locais para nossas partidas. O Fluminense precisa pensar na construção de um estádio de menor porte, justamente para que possa diminuir a sua dependência e para fugir de partidas em que a rentabilidade se torne um desafio inalcançável.

 

Quanto ao Flamengo, acreditamos que os clubes devem estabelecer uma relação sadia, e que possam cooperar para o engrandecimento do futebol no RJ. Enxergamos com bons olhos uma gestão compartilhada e vemos possibilidades comerciais interessantes oriundas dessa parceria, buscando a elevação da marca de ambos os clubes em associação. Mas temos as nossas convicções. Podemos conversar e estabelecer parcerias, desde que tais condições estejam fundamentadas na igualdade e que atendam aos interesses do Fluminense Football Club. Não aceitaremos ser inquilinos ou ter uma participação secundária na administração do estádio.

 

Em relação ao Flu-Samorin, qual análise o senhor faz dessa parceria?

 

É um pouco difícil falar sobre o projeto Samorin, pois existem poucas informações e tudo que sabemos é por meio da imprensa. Essa falta de transferência da atual gestão é um problema crônico e dificulta demais que sócios e torcedores possam fazer um diagnóstico real da situação do clube.

 

Posso dizer que acredito que o projeto Fluminense/Samorin se encontra fundamentado em conceitos sólidos e extremamente importantes para o futuro do clube. É essencial que o Flu busque mecanismos para desenvolver novos mercados e que estabeleça critérios para a transferência dos atletas da base aos profissionais. Entretanto, temos a impressão que a transformação de tais planos em ações práticas, se perdeu pelo caminho, sendo a parceria utilizada mais como forma de colocação de atletas no mercado europeu, sem que possam dar o devido retorno técnico. Esse é um ajuste fundamental, não apenas em relação ao Samorin, mas para toda a base.

 

Nossa ideia é dar continuidade ao projeto. Mas faremos uma análise cuidadosa e adotaremos as medidas que entendemos necessárias para que possa funcionar em benefício do clube.

 

Como enxerga a posição do presidente Peter em medidas tomadas contra a Ferj? É possível o diálogo ou a tendência é abarcar cada vez mais clubes alinhados com uma postura moderna, esvaziando os estaduais?

 

Entendemos que o diálogo franco e aberto é sempre o melhor caminho para as pessoas chegarem a um denominador comum. Não vemos sentido em estabelecer uma guerra fundamentada em notas oficiais e trocas de farpas, em que muito se fala e não se chega a nenhum resultado prático. Talvez seja legal para o torcedor, mas pouco ajuda o clube. Nos últimos anos, sofremos um processo enorme de desgaste nessa relação com a Ferj e, na prática, o que mudou? O presidente, ao que parece, se reaproximou do Rubens Lopes, mesmo sem obtermos nenhuma das exigências que foram anteriormente apresentadas.

 

Isso não significa que, quando as questões não estiverem adequadas aos interesses do clube, nós não seremos firmes e contundentes, sempre em defesa do Fluminense. Sem estardalhaço, sem confete. Isso é legal para o torcedor, mas na prática não resolve, como não resolveu. Acreditamos que o futebol precisa se modernizar como um todo. Não somos contrários ao estadual. Mas defendemos um modelo completamente distanciado do que se coloca em prática, com menos clubes, menos jogos, condições mais adequadas, um sistema de disputa que torne as partidas mais interessantes e comercialmente viáveis, e práticas que coloquem os clubes, de uma forma geral, como protagonistas desse processo. Ninguém torce para a Federação, e esta não se sustenta sozinha.

 

A tendência é buscar uma postura mais moderna e melhores condições para os clubes, mas através, ao menos inicialmente, do diálogo. Sempre defenderemos os interesses do Fluminense, acima de qualquer coisa, inclusive com a adoção de medidas práticas, caso necessário. Mas com foco na efetividade das ações.

 

Em relação a CBF e Globo, o presidente se mostrou conservador e foi a favor da manutenção do status quo…

 

São questões que precisam ser analisadas de forma diferente. Sobre a CBF, todos os acontecimentos ocorridos nos últimos anos, dentro e fora de campo, demonstram que é chegado o momento de estabelecermos algumas transformações no sistema sobre o qual o futebol brasileiro está fundamentado. E o Fluminense precisa liderar esse movimento. Como disse antes, é chegado o momento de os clubes assumirem mais responsabilidades na gestão do futebol brasileiro.

 

Não adianta esbravejar contra o árbitro após uma partida, ou no calor do jogo, para agradar o torcedor, se quando finalmente tivemos a possibilidade de fomentar uma mudança real nesse sistema viciado, com a adoção de medidas concretas e efetivas, acabamos por optar pelo caminho mais fácil, simples, apoiando a atual diretoria da CBF e nos aliando, novamente, à Ferj, basicamente dois dos maiores alicerces desse sistema que faz do Fluminense sua freqüente vítima. É preciso acabar com os extremos. Ou somos aliados ou inimigos. Não pode ser dessa forma. É preciso estabelecer diálogo e lutar pelas mudanças, mas sempre com foco no que é melhor para o clube.

 

Quanto à renovação de contrato com a Rede Globo, acredito se tratar de uma discussão bem mais ampla, que envolveria questões que não estamos aptos a analisar, mais uma vez, em razão da completa falta de transparência que caracteriza a atual gestão. O Cruzeiro e o São Paulo, por exemplo, levaram as propostas da Globo e do Esporte Interativo para serem analisadas por seus conselhos. O Atlético-MG deu publicidade às propostas. Aqui, soubemos da assinatura pela imprensa, e até o momento não temos sequer confirmação oficial do quanto foi pago como luvas, adiantamentos, valor anual.

 

De toda forma, não se pode mais ficar dependendo do dinheiro da TV para sustentar os clubes, por ser uma fonte de renda que vem perdendo espaço para a internet, e mais cedo ou mais tarde, as instituições sentirão esses efeitos dessa transição natural da sociedade. Vejo que, em alguns casos, existe uma vilanização da emissora A ou B. Mas ninguém percebe que a Globo age de acordo com o espaço que os próprios clubes lhe concedem, sem que estes percebam que são eles os verdadeiros detentores do espetáculo.

 

O que desejamos é a inteligência na hora de agir. O Fluminense precisa analisar de forma ampla todas as questões antes de tomar caminhos definitivos. A proposta do Esporte Interativo era superior? Existiam vínculos para compra do direito de transmissão da televisão aberta? A divisão das cotas obedeceria uma lógica diferenciada de forma geral? As pessoas não se atentam que a discussão foi iniciada apenas em relação às cotas de TV fechada, que representam cerca de 10% do valor total. Queremos o que for melhor para o clube, que dê maior visibilidade para a marca, que atraia mais patrocinadores e que possibilite que tenhamos mais renda, com uma divisão de cotas mais adequada e que conceda ao clube condições de igualdade com seus rivais.

 

Se conseguiremos isso com a Globo, com o Esporte Interativo ou com qualquer outra emissora, não é importante. O importante é estabelecer o modelo adequado aos nossos interesses.

 

Na Alemanha, cuja Liga tem a maior média de público do mundo, as torcidas organizadas são tratadas como uma espécie de patrimônio, diferente da criminalização que ocorre aqui. No Fluminense, as organizadas não são nem sombra do que foram, muito menos ativas nas decisões e fazendo a diferença nos jogos. O senhor é favorável ao fomento das TOs?

 

Nossa proposta está relacionada com a capacidade de estabelecer um modelo de negócio que tem no engajamento da torcida um dos seus alicerces. É essencial que tenhamos o torcedor tricolor junto, consumindo o Fluminense 24 horas por dia. Uma relação na qual quanto mais conseguirmos fazer esse torcedor investir no clube, mais relacionado ao Fluminense ele estará e mais desejará consumir.

 

Você citou a relação dos clubes da Alemanha com os seus torcedores. O Bayern é um case interessante que nos direciona para algumas possibilidades. O clube alemão foi capaz de compensar a perda de receitas de cotas televisivas com investimento em relacionamento direto com o seu torcedor. Podemos ir além. A Disney, maior empresa de entretenimento do mundo, fatura muito mais com a sua divisão de produtos licenciados que com sua divisão de parques e filmes. Isso mostra caminhos.

 

Justamente por isso, estamos comprometidos com a formação de uma comissão específica para relacionamento com os torcedores e com as torcidas organizadas, com o objetivo de incentivar o comparecimento ao estádio, promoção de festas e melhoria na relação com o time de futebol. Trata-se de uma medida que terá como objetivo final a atração de um número cada vez maior de torcedores ao estádio, gerando um maior incentivo ao clube e aumentando a possibilidade de vitórias.

 

Há pouco tempo, tivemos a experiência da Legião Tricolor nas arquibancadas, que sempre fomentavam festas e novas músicas para a torcida. Isso agrega à marca, reforça o papel do Fluminense na mídia, melhora a relação com o torcedor, a paixão, o atrai ao estádio. Acreditamos que o clube possa ter um papel fomentador.

 

Quanto aos torcedores organizados, respeitamos a história de apoio construída nas arquibancadas. Temos a idéia de estabelecer programas específicos de relacionamento que possam fazer uma triangulação entre a torcida, o torcedor e o clube, sendo capaz de gerar um benefício para todos. O período de repasse de verbas aos torcedores organizados parece ultrapassado. Precisamos modernizar e profissionalizar essa relação, sem vilanismos ou interesses.

 

Por fim, qual a mensagem final que o senhor deseja deixar aos tricolores?

 

O Fluminense vem, há anos, em um processo de sucateamento institucional, com o enfraquecimento do Departamento de Futebol, destruição da imagem pública do clube, abandono das nossas tradições olímpicas, falta de cuidado com a sede social e endividamento desproporcional. O clube está estabelecido em um modelo de negócio completamente ultrapassado e que, pouco a pouco, nos relegará ao papel de coadjuvantes no cenário esportivo nacional.

 

Não podemos permanecer inertes diante desse quadro. É essencial que possamos colocar em prática medidas positivas imediatamente, para que possamos iniciar um processo de retomada do nosso espaço. Precisamos da união de todas as lideranças do clube, de todos aqueles que possam contribuir de forma ativa ao seu engrandecimento. Pensando nisso, buscamos a construção do melhor plano de gestão possível, com a união dos melhores quadros existentes para o Fluminense Football Club. São mais de 30 grandes profissionais bem sucedidos em suas áreas de atuação, que para nada necessitam do Fluminense, senão para a felicidade das vitórias e dos títulos conquistados, e que estão completamente comprometidos em dispor de seus serviços em benefício da maior instituição esportiva, social e cultural desse país.

 

Representamos uma proposta de terceira via. Não podemos compactuar com a continuidade desse projeto que apenas nos apequena e que é cegamente defendido através de informações que distorcem a realidade. Tão pouco acreditamos que seja o momento de iniciarmos um processo de caça às bruxas, buscando culpados antes de termos as soluções. Reconhecemos os avanços, mas entendemos que os erros foram maiores que os acertos. E que há muito para ser feito.

 

No próximo dia 26, os sócios terão em suas mãos uma importante decisão que poderá mudar os rumos do clube. Enquanto outras candidaturas discutem quem contratou pior, quem sucateou mais o clube, quem prejudicou mais a imagem desta instituição centenária, ou tentam explicar relações questionáveis com empresários de atletas ou como tentar governar por meio de procuração, em razão de inúmeras ressalvas de atuação, a chapa Fluminense Unido e Forte está estabelecendo parcerias, montando quadros e trabalhando em prol do clube.

 

Somos completamente apaixonados pelo Fluminense. Temos uma vida inteira relacionada ao clube e não mediremos esforços para colocar essa entidade em seu devido lugar. Sem interesses de cunho pessoal, sem planos de poder, vaidades. Em nossa gestão, as portas da presidência estarão abertas para que você, tricolor, sócio ou torcedor, possa cobrar o que está sendo feito. Colaborar com a gestão.

 

Estamos propondo algo diferente e inovador. O profissionalismo representado pelos nomes que constituem o nosso grupo, com a efetiva participação de cada um dos torcedores. Queremos que cada tricolor tenha a certeza que ao votar por um Fluminense Unido e Forte estará votando em si mesmo para ocupar o cargo de presidente do clube.