Por João Henrique Silveira, assinante do Clube NETFLU
Ao ser anunciada a contratação de Odair Hellmann como novo técnico do Fluminense para a temporada de 2020, logo pude perceber que a torcida estava bastante dividida. Muitos gostaram, outros tantos criticaram… O interessante é que boa parte da discussão gira em torno do estilo de jogo que o técnico implantou no Internacional e nas ideias táticas que cada um imagina ser a correta para o Flu nesse momento. Assim, rapidamente as redes sociais estavam impregnadas de mensagens como: “retranqueiro!”, “jogo reativo!”; ou por outro lado, “com esse elenco temos que jogar atrás mesmo!”, “toquinho pro lado não dá em nada!”.
Eu sei que, para nós torcedores, que vimos diversas faces diferentes de futebol praticado pelo Fluminense em 2019, nós que sofremos tanto nos últimos anos e ansiamos por dia melhores, nos apegamos a questões do tipo: “qual vai ser o padrão de jogo?”, “vamos conseguir apresentar um bom futebol?”, “só vamos ganhar de 1×0 com gol cagado e sofrendo o jogo todo?”, “dá pra esperar melhores resultados?”. Entretanto, para a leitura deste texto, deixemos um pouco de lado tais questionamentos e façamos uma análise mais ampla do porquê a diretoria escolheu Odair Hellmann como técnico do nosso Tricolor.
Para isso, precisamos entender alguns pontos que contextualizam a escolha:
O trabalho de Odair no Internacional
Odair assumiu no final de 2017 um Internacional praticamente assegurado na Série A, mas que fez uma séria B recheada de altos e baixos. De uma forma geral, estava com pouca moral por ter feito uma campanha abaixo do esperado (o time subiu em 2º lugar).
Sem entrar no mérito de como o time jogava, um ano depois desse período conturbado, o o Internacional estava classificado para a Libertadores de 2019, assegurando o 3º lugar no Brasileirão de 2018. No presente ano, caiu nas quartas de final da Liberta para o campeão Flamengo e conquistou o vice-campeonato da Copa do Brasil, perdendo para o Athletico-PR, que na minha visão, está em um patamar superior ao do Inter.
Em resumo, o cara pegou um time desacreditado e colocou num cenário de disputas por títulos relevantes, e convenhamos, com um elenco mediano à disposição (eu sei, ainda assim é bem melhor que o nosso). Mas o fato é os jogadores do Inter eram poucos conhecidos, e só passaram a ser valorizados em cenário nacional após o trabalho realizado pelo Odair (lembram de alguém que fez algo parecido? Risos).
Além dos resultados, Odair ficou reconhecido pelo bom tratamento e pela boa gerência com o grupo de jogadores, algo que, nitidamente, era um desejo da diretoria atual. E falando nisso, vamos nos aprofundar nesse assunto!
Zona de conforto da diretoria
Odair se encaixa no perfil desejado diretoria do Fluminense (mais uma vez, deixando de lado o estilo de jogo): valores condizentes dentro da realidade financeira do Fluminense, está dentro da famosa “nova geração de técnicos brasileiros”. Tem experiência com jogadores da base (participou da campanha do Ouro Olímpico), obteve resultados relevantes num grande clube recentemente, identificado com o Flu (Odair jogou no nosso time, ao lado de Marcão inclusive), boa relação com os mandatários da gestão e com pessoas importantes no futebol.
Além dessas características supracitadas, ficou claro que o Mário Bittencourt queria um técnico que fosse de fácil tratamento, que fosse seu “parceiro” (basta ver sua relação com Marcão), ou seja, trocando em miúdos, um técnico que esteja acostumado com a forma (pouco) profissional que se faz futebol no Brasil. Essa garantia ele jamais teria se contratasse um estrangeiro, mesmo que essa, ao que parece, fosse a preferência da torcida. Basta observamos, por exemplo, todo o embate ocorrido entre Sampaoli e a diretoria do Santos nesse ano e veremos que um técnico de fora tem maior chance de abalar a “segurança” dos mandatários.
Opinião e conclusão
Após tantas ideias e opiniões expressas acima, serei bem direto: não gostei da contratação. O jogo que o Internacional de Odair praticava era bastante combativo (reativo, de fato), com enfoque na marcação, pouca posse de bola e com transições rápidas. Até havia jogos que ele ousava mais e mudava um pouco seu estilo, mas em geral, era esse estilo pragmático mesmo.
Eu gostaria de ver um técnico estrangeiro, com novas ideias táticas, com enfoque no futebol ofensivo e na posse de bola, que apresentasse conceitos diferentes da mesmice que vemos hoje no futebol brasileiro. Pra ser sincero, toda vez que vejo o Diniz com a camisa do São Paulo sinto saudades dele com nosso manto (aproveitamento não é tudo, amigos!). Enfim, achava que para o momento, ousar era necessário, pois acredito que essa é a forma mais fácil de sairmos dessa triste rotina de brigar pra não cair todo ano.
Por outro lado, é necessário segurar a ansiedade e aguardar o que será apresentado pelo novo comandante tricolor. Odair é um técnico novo e de apenas um trabalho, ou seja, ele pode mostrar ideias diferentes no Fluminense de 2020 e nos surpreender, ao contrário de outros técnicos que sabemos que realmente não há perspectiva de mudança (Oswaldo, Abel…). Da mesma forma, a mesma inexperiência pode fazer com que ele mostre ideias que desagradem a torcida, ter resultados péssimos e ser demitido ao fim do Carioca. Todas essas possibilidades e outras são bem plausíveis. O pouco tempo de carreira pesa tanto para um lado quanto para o outro.
É por isso que, na minha humilde opinião, a escolha do Mário por Odair Hellmann vai muito além das ideias de jogo do técnico. Ao meu ver, a intenção é fazer com que o Fluminense siga os passos do Internacional nos últimos dois anos: um time totalmente desacreditado que se transformou em um competitivo e com alguma estabilidade. E, de quebra, conseguiu um nome que não lhe trará problemas no dia a dia e que ainda agrada uma parcela relevante da torcida, diferentemente de Barroca e Enderson, as outras possibilidades comentadas. Esses inclusive, têm ideias de futebol totalmente diferentes (!!!).
Logicamente, tudo passa pela montagem de um elenco equilibrado e razoavelmente qualificado (oremos!), mas o plano é bem lógico e calculado. Odair era o nome mais seguro em quase todos os âmbitos envolvidos na escolha de um novo técnico. Mário curtiu a onda de estabilidade que o trabalho do Marcão lhe ofereceu e optou por um nome na mesma linha. Se foi a decisão correta e se dará resultado… Só o tempo dirá…
Ajuda a gente aí, tempo!
ST
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