Mário recorda venda de mando de um jogo contra o Corinthians em 2019 num momento complicado do clube (Foto: Reprodução da FluTV)

No seu segundo mandato à frente do Fluminense, Mário Bittencourt admite que enfrentou situações complicadas. E precisou tomar decisões difíceis já no início da gestão. Em entrevista ao podcast Direito de Resposta, contou algumas medidas nas quais precisou de grande coragem.

— Chegamos com o time montado em 2019. O time estava lutando contra o rebaixamento em 16º ou 17º. Chegou um momento que comecei a conseguir pagar 30% da folha. Estávamos com quatro meses atrasados e consegui dinheiro pra pagar 30% de um mês. Talvez tenha sido uma das decisões mais corajosas da gestão. Jogávamos contra o Corinthians, o mando era nosso e não tínhamos dinheiro nenhum para pagar mais 30% da folha. Isso pra pagar 60% da folha naquele mês. E vendemos o jogo pra um investidor, que levou para Brasília. Sabidamente teria mais torcida do Corinthians lá. Mas se não fizesse isso, não sei como sobreviveríamos os próximos 60 dias. Os caras estavam no limite sem receber. Precisava pagar o salário dos caras que jogam. Ganhamos de 1 a 0, gol do Ganso. Lembro que terminei o jogo chorando de emoção. Consegui um recurso financeiro que era fundamental e os três pontos que nos ajudaram a tirar o corpo da lama – falou.

 
 
 

E não parou por aí. Naquele mesmo ano, precisou fazer a venda do centroavante Pedro para a Fiorentina (ITA). Com a verba escassa, foi obrigado a abrir mão do principal jogador do time no momento de luta contra o rebaixamento. Além disso, teve de aceitar perder parte do valor arrecadado com a negociação em virtude de um acordo com a Justiça.

— O segundo foi quando meu vice-presidente jurídico me ligou, eu estava em Fortaleza. Tínhamos feito a venda do Pedro para a Fiorentina. Era o dinheiro que nos faria sobreviver até dezembro de 2019. Se não faço a venda, não pagava. No meu terceiro mês de gestão, estava vendendo o nosso melhor jogador de momento com o time mal. Não queria vender, claro. Mas é a racionalidade. Era assim para terminar o ano. Isso sabendo que tinham dívidas e processos. Ia usar o dinheiro e parte seria bloqueada. O Fluminense tinha um processo na Justiça Federal, antigo. Teve um procedimento equivocado em 2013 e havia uma multa pesada pelo clube ter descumprido uma penhora. Só a multa era uns R$ 20 milhões. Aquele jogo vencemos o Fortaleza por 1 a 0 com gol do João Pedro – iniciou, prosseguindo:

— O vice-jurídico ligou na véspera do jogo. Falou que eu teria de tomar uma das decisões mais difíceis. A juíza daquele processo de multa astronômica, deu despacho no processo perguntando quando o dinheiro ia entrar. Ele me fez uma proposta. Ele tinha quase certeza que se a gente tirasse uma guia de R$ 7 milhões naquele momento, ela tirava a multa. Ganharíamos credibilidade. Tirar aqueles R$ 7 milhões naquele momento era difícil. Quase impossível. Pedi para esperar até o dia seguinte. Fiquei no hotel olhando para o teto de sábado para domingo. Domingo, antes do jogo, falei para ele tirar a guia na segunda-feira. Era o certo a se fazer. Ali teriam o entendimento que estávamos reconstruindo a instituição. A juíza falou que pela primeira vez em 20 anos de magistratura viu um clube tirar uma guia naquele valor espontaneamente. E tirou a multa. Claro que esse dinheiro faltou na frente. Precisei buscar com outras fontes. Adiantar patrocínio, essas coisas.