Mário Bittencourt questiona sobre o que pode acontecer em caso de um jogador sofrer um problema grave durante uma partida e não ter como ser atendido em hospital por causa da superlotação

Federações e clubes têm discutido muito sobre como e quando poderá ser o retorno de treinamentos presenciais e competições no Brasil em meio à pandemia do novo coronavírus. Além de presidente do Fluminense, Mário Bittencourt também é advogado e opinou sobre o assunto durante live no “Papo Trabalhista”. Segundo o mandatário tricolor, a questão jurídica também é um empecilho para o retorno.

– E entra na esfera trabalhista também. Com a decisão do STF recente, com relação à doença ocupacional, a partir do momento que se testa 40 jogadores e eles não estão infectados, você atrai o ônus para o empregador, pelo menos na minha visão. Se o funcionário entra, não tem nada e contrai o vírus depois que retornou… Não posso negar que muitos atletas, não só do Fluminense, gostariam de voltar a treinar presencialmente. Tenho dito que vai chegar esse momento, mas quando a gente entender que não está se colocando a vida dos outros em risco. O argumento de que atleta não é grupo de risco não me convence como ser humano. Todos têm avôs, esposas, filhos em casa – disse, continuando:

 
 
 

– Se tivéssemos a possibilidade de ficar toda a comunidade do futebol confinada em três, quatro hotéis, e jogar, diminuiria muito o risco do contágio. Mas como as realidades são diferentes… Ouço pessoas falando assim: “Estamos no mesmo barco”. Não! Estamos na mesma tempestade, mas os barcos são diferentes. Tem gente de navio, lancha, iate e canoa sem remo. Existem clubes de menor expressão que não têm CT, têm mais dificuldades. No nosso próprio CT, a parte de campo e vestiário está terminada, mas não temos dormitório, por exemplo. Não sou inocente e infantil a ponto de achar que quando tudo retornar não vamos conviver com o vírus. Óbvio que vai, certamente continuaremos de máscara, pelo que tenho ouvido de médicos experientes. Que isso siga até setembro, outubro, novembro… A discussão é matemática. Quando a gente olhar e tiverem 30 mortes por mês, e estiverem sobrando mil leitos, aí sim voltam as atividades para manter a economia funcionando. Vamos atender a todos os protocolos, invariavelmente uma ou outra pessoa vai se contaminar, mas tendo a possibilidade de todos serem atendidos.

Mário Bittencourt foi além e exemplificou com a possibilidade de algum jogador sofrer algum problema grave durante uma partida. Com os hospitais superlotados pela quantidade de infectados, o tratamento também poderia ficar prejudicado.

– Suponhamos que voltem os jogos no pico pandêmico, um atleta se choca com outro no ar, bata a cabeça e precisa de uma UTI porque teve uma lesão mais grave, uma fratura… Corremos o risco de não ter UTI para atender, como não somos serviço essencial. Em que pese que o povo inteiro ama. Futebol sempre fez parte da minha vida e hoje, como presidente, faz da minha vida e do meu trabalho. Não estamos nem 60 dias em casa. Diante de tantos anos que a gente passa pelo mundo, tem tanta vida pela frente, por que não pode esperar só mais um pouquinho e voltar com mais segurança e preservando as pessoas?