No comando do Fluminense desde o meio do ano passado, Mário Bittencourt falou um pouco sobre o trabalho à frente do clube. Com um orçamento limitado, o presidente justificou algumas renovações de contrato contestadas, explicou a opção por Odair Hellmann e negou que tenha montado um elenco envelhecido, sem olhar para a base.
– É uma discussão de varejo, sobre idade de jogador. É óbvio que temos erros e acertos. Mas temos dados estatísticos, dados técnicos. Às vezes, você entra num avião de 20 anos, que está reformado e chega no destino. A idade não é um parâmetro. Nossa filosofia de trabalho é o seguinte: ano passado, nossa média de idade era muita baixa. Por estatísticas, times mais maduros chegam mais no topo da tabela. A média é com os 30 jogadores do elenco. A média do nosso elenco é de 24 anos, 23 são oriundos de Xerém. E aí leio que não aproveitamos jogadores da base. Temos um ataque com dois jogadores da base. Querem um time com 11 jogadores da base? Ninguém tem. Quem tem 27, 28 anos, está maturado. E esses caras vão para os times que pagam mais. Temos jogadores com mais de 30 anos? São oito jogadores. São 13 entre 24 e 30. E 20 jogadores abaixo de 24 anos, incluindo os que sobem e descem do sub-23. A gente renovou porque o campeonato acaba em fevereiro, e os contratos acabavam em dezembro. Imagina se estou disputando uma Libertadores e perco oito jogadores? A culpa não foi nossa, mas contratos acabam em dezembro…. Nenê, Ferraz, Hudson. Os jogadores também têm os anseios deles. A gente conversa com o departamento médico, com o técnico, com o fisiologista. E aí a gente faz o contrato, se aprovado. Iríamos perder metade do time faltando 12, 15 rodadas. Iríamos ficar sem time, não tinha o que fazer – disse, prosseguindo:
– Sobre o Pablo Dyego, ele tem um dos salários mais baixos…. as pessoas atribuem salários que não existem aos jogadores. Tem jogador que subiu da base e ganha o dobro do Pablo Dyego. Falamos com o empresário, ele queria mais uma oportunidade, na proporção tempo de contrato/salário, valia a pena renovar. Estávamos em início de temporada, precisávamos de um elenco para disputar o campeonato. É óbvio que vamos acertar em renovações, e vamos errar também. Em todas as decisões eu posso errar. Eu vou errar, o Paulo vai errar, o jogador, o Odair, você erra trabalhando. Mas na conta final do meu ano, do meu dia, do meu mês, que eu acerto mais. Foi o Angioni que trouxe o Caio Henrique, o Allan. Aí ele erra em algum jogador, a filosofia é um lixo? As pessoas falam sobre futebol sem conhecimento. A gente escolheu o Odair porque ele tirou o Inter da Série B e levou pra Libertadores, com limitações de elenco. Os resultados não estão sendo aquilo que a gente queria. Mas ninguém imaginava que a gente iria vencer a Taça Rio. E vencemos, disputamos a final do Carioca dignamente. Fizemos dois amistosos contra um adversário que está na mesma faixa que nós. Vamos brigar por posição com eles, vencemos uma e empatamos outra. Em quatro partidas, foram duas vitórias e dois empates. Se a gente jogou bem ou mal, é uma avaliação de cada um. A gente jogava bem ano passado, mas tinha 25% de aproveitamento. As pessoas analisam resultado, não a sequência do trabalho. Não sabem do dia-dia do clube, não acompanham. É um trabalho de longo prazo. Eu tenho um ano de gestão, houve decisões que discordei na época. Eu fui contra tirar o Fernando Diniz na época. Foi uma decisão de quem comandava o futebol (Celso Barros). Bahia saiu da Copa do Brasil, da Sul-Americana, foi vice da Copa do Nordeste…. e não vemos notícias da saída dele (Roger Machado). Eles estão reconstruindo o clube há seis anos, nós estamos há um. Discutir sistema de jogo, o cara tem que está ali na beira do campo, tem que ter dado dois treinos na vida. Nem eu discuto, é o diretor-executivo, o chefe de scout. Se vai dar resultado, vamos saber em fevereiro. O que eu falei sobre os treinadores que saíram ano passado? Temos duas rescisões para pagar. Vamos pra terceira? Essa brincadeira custa caro. O Enderson Moreira foi mandado embora do Ceará, trouxe o Argel, depois trouxe o Enderson de volta. Pergunta ao Jorge Jesus se você treina um time da Série B? Revitalizar o Avaí? O CRB? Agora fala pra ele: vou te dar um elenco de 3 milhões para disputar tudo. Ele não quer isso. A discussão é simples, mas é recorrente. Ninguém nem sabe para saber quantos jogadores acima de 30 anos tem. A gente trabalha com foco, não significa que vai dar o resultado que queremos, mas a gente espera que dê. Se tivermos que ajustar no meio caminho, vamos fazer. Eu trabalho com a verdade. Temos a 11ª folha do Brasileirão hoje…. mesmo com pouco dinheiro a gente acredita que possamos ir pra pré-Libertadores. A gente trouxe um treinador que trouxe o Inter da Serie B para A. E levou o time para a Libertadores. A torcida do Inter pede para o Odair pra ele voltar hoje.