No dia 28 de dezembro de 2017, o Fluminense lançou uma nota oficial polêmica, anunciando as dispensas de oito atletas, dentre eles o goleiro Diego Cavalieri, o meia Marquinho e o zagueiro Henrique. A comunicação pegou praticamente todos de surpresa, incluindo os próprios jogadores, informados através do Whatsapp. A iniciativa, porém, deveria ter ocorrido assim que o Tricolor alcançou os 46 pontos, situação necessária para não correr mais riscos de rebaixamento, ainda no mês de novembro do ano passado. O mandatário Pedro Abad não ouviu seu comitê gestor, gerando nova crise interna.
Devendo salários e outros direitos trabalhistas para todos os atletas dispensados, a maneira de agir causou revolta e, posteriormente, processo por parte de Henrique, que conseguiu liberação indireta na Justiça, e Cavalieri, que ainda trava briga nos tribunais. O NETFLU apurou que os dirigentes já vinham pensando na possibilidade desde junho de 2017, por conta da falta de dinheiro em caixa. Os agente políticos, além do comitê gestor, conversaram diversas vezes e chegaram à conclusão que o melhor seria dispensar depois que se confirmasse a permanência na Série A. O objetivo era avisar pouco a pouco, de forma discreta, dando tempo do atleta procurar um novo clube ao fim da temporada. O “timing” considerado completamente errado frustou os planos mais ousados de grande economia dos cofres.
Aconteceram várias recomendações do comitê gestor, assim como do vice-financeiro Diogo Bueno e do departamento jurídico. A grande maioria não foi seguida por Abad. O presidente, sequer, chegou a explicar internamente o motivo de só ter dispensado os atletas às vésperas do ano novo, pedindo apenas desculpas aos seus correligionários e apoiadores. Externamente, o mandatário tricolor admitiu culpa no dia do anúncio oficial do novo patrocinador, a Valle Express, no Salão Nobre. Na ocasião, ele abriu a coletiva e disse:
– Iríamos apenas apresentar o patrocinador, mas as declarações do Diego Cavalieri me fizeram antecipar a coletiva. O Fluminense é um clube onde tem gente de honra, de integridade. Quando erramos, assumimos e tentamos melhorar para seguir em frente. Admito que a forma como foram tratados os atletas e as famílias foi muito longe do ideal, do adequado. Causou uma grande tristeza. Dentro do nosso processo de aprendizado, damos certeza que não repetiremos isso. Acabou com uma decisão muito equivocada. Venho a público dizer isso. Diego representa todos os atletas insatisfeitos. Deixo meus pedidos de desculpa. Entendo totalmente a mágoa dele, perfeitamente compreensiva. Espero poder conversar com ele. Como disse ontem, realmente não quis falar com a gente depois. Esse assunto está sendo tratado pelo nosso corpo jurídico, e estamos aqui para falar do erro que cometemos. Todos os atletas merecem esse pedido de desculpas, merecem respeito. Serão tratadas de forma digna – declarou.
O portal NETFLU procurou o Fluminense para saber o porquê de Abad não ter seguido as recomendações do comitê gestor. Por sua vez, como de praxe, o Tricolor preferiu não se posicionar acerca do assunto.
– O clube não vai se manifestar sobre este tema. O assunto já foi explicado pelo presidente – disse a assessoria institucional ao portal número 1 da torcida tricolor.
É importante ressaltar que as dispensas visavam uma oxigenação do caixa, para evitar mais atrasos. O tiro, no entanto, saiu pela culatra e pode gerar custos futuros perto dos R$ 20 milhões, atingindo a próxima gestão. A postura de Abad foi considerada contraditória à ideologia de sua campanha, onde o “personalismo” sempre fora condenado. Em entrevista dada pelo diretor esportivo das categorias de base, Marcelo Teixeira, braço direito do presidente, em fevereiro do último ano ao site Globo Esporte, a contradição fica ainda mais evidente. Na época, Alexandre Torres ainda era o diretor de futebol do Fluminense.
– É um modelo (o comitê gestor) que não existe a figura centralizadora. Essa figura morreu, ficou no passado. Hoje não temos o homem forte que toca o futebol. Então, a ideia do colegiado, de um grupo de gestão, está em prática. Esse grupo é composto pelo presidente, pelo Fernando Veiga, pelo Alexandre Torres, pelo Abel e por mim. Tudo o que foi feito no futebol, desde o primeiro dia da gestão, passou por esse grupo. Não foi feito nada sem que todos estivessem de acordo. Discordâncias existem, óbvio, mas a gente chega a um acordo e segue em frente, com todos concordando. Então, na prática, funciona assim: o Alexandre Torres, junto com o Abel, toca o futebol no dia a dia. O Abel, não é um técnico como outro qualquer, principalmente aqui no Flu, ele tem responsabilidades maiores do que outros treinadores. O Abel participa de muita coisa. Eles estão no CT, discutem, gerenciam o departamento, acompanham os treinos, os jogos. As decisões estratégicas são trazidas para o comitê – disse.
O NETFLU também procurou membros do atual comitê gestor para falar sobre o tema, mas nenhum possui autorização do clube para dar declarações ao site.