Há pouco mais de uma semana, utilizei o meu espaço neste portal para fazer uma crítica a uma postura do presidente Peter Siemsen em uma declaração à Rádio Globo. No mesmo texto, também listei algumas atribuições que fazem parte das obrigações de qualquer mandatário de um clube de futebol. Tais afazeres nunca me pareceram motivo para idolatria e por isso não vejo necessidade de alarde pela prática destes princípios. Uma enxurrada de críticas nos comentários da coluna foi suficiente para ilustrar o aquecido momento político do clube. Em uma análise minimamente lúcida, qualquer um pode identificar que o texto fazia um contraponto entre a conduta do presidente até então e sua postura reveladora naquele momento. Seus feitos estão todos lá, ninguém pode ocultá-los. Mas se vangloriar da maneira contundente como ele se prestou na entrevista é coisa de monarca. Pois bem. Se antes coloquei em cheque o brado intempestivo de um mandatário que possui como bandeira a gestão profissional, o que deveria lhe afastar do discurso de dirigente arcaico, agora mudo esta postura superficial. Desta vez, as críticas não serão por uma simples entrevista, mas sim pela absurda postura tirana de impedir um dos maiores portais jornalísticos exclusivos sobre o Fluminense F.C. (se não o maior) de cobrir o dia a dia do clube.
Nunca fui muito a favor dos ataques diretos esdrúxulos, mas como bom amante das peladas desde a infância não tenho como esquecer do “dono da bola”. Se o dono da bola não gosta de alguma coisa, ele leva a bola e acaba com o jogo. Ficar fora, nem pensar. Aturar um habilidoso o driblando o tempo todo, jamais. Os fanáticos bradantes contra o presidente sempre ressaltaram a tal necessidade particular que Peter demonstra de se autoafirmar. Convivi com ele de perto por dois anos e não possuía dados contundentes para endossar tal colocação. Agora, com certeza, mesmo de longe, os tenho. Lembra da bola? O clube virou a bola do Peter.
É a prática do futebol de parede. Você chuta e a bola volta. Se bate forte, ela vem forte. Se você se cansar, dá só um toque. Nada de adversários, nada de críticas. O portal NETFLU, em ampla escala, produz notícias sobre o dia a dia do clube, no contexto que chamamos de factual. Se acontecem coisas boas, a bola volta de leve. Se são ruins, é chute forte. As verdades estão ali, jogadas na cara. E sobre todo esse universo, nós, os blogueiros, nos expressamos. Não é questão de política, é questão de explanar sobre a história viva, construída todo dia. O presidente fez uma declaração, real e gravada, e eu comentei sobre. Não há mentira nisso, há opinião. E no contexto das notícias, existe a cobertura dos acontecimentos. Não há nada de espantoso nessa relação. O jornalismo é assim desde a primeira prensa. Mas parece que para o “dono da bola”, partida só se for amistosa.
Entender os destemperos dos torcedores facebookers é quase como um delicioso café quente em uma noite de inverno para qualquer colunista. Ele pode ser amargo, mas aquece sua alma, sua vivacidade. Nosso Nelson Rodrigues bebeu milhares enquanto destilava seu genial veneno sob a chuva de críticas da sociedade conservadora da época. Há quem coloque a culpa do suicídio de Getúlio Vargas em Carlos Lacerda, seu principal opositor na imprensa. E tenham certeza, isso só o encheu de orgasmos profissionais durante toda sua existência. Pois bem, a relação furiosa entre produtor e expectador não apresenta surpresas, apenas o deleite do estímulo. Mas essa relação recebeu um golpe covarde, um bloqueio imundo, de gente retrógrada e arbitrária.
Impedir a cobertura do NETFLU nas Laranjeiras foi o maior golpe antidemocrático instituído na gestão Peter Siemsen. Como eu citei no texto anterior, se parecer com Eurico Miranda em atitudes é sim um demérito para qualquer presidente, até de associação comunitária do subúrbio. Mas um presidente advogado, que conhece as leis e preza pela defesa das mesmas (ou pelo menos deveria), se ver incapaz de dormir com a cabeça tranquila em seu travesseiro de penas de ganso por conta de meia dúzia de críticas é espantoso. Parece que nosso portal criou uma ficção, com mosquitos desenvolvidos em laboratório, e empesteou o banheiro do clube. O que a Situação esperava, uma censura própria contra os fatos? Quanta hipocrisia barata. O advogado presidente deveria prezar pela verdade nua e crua, é o que seu juramento propõe. Mas não é de hoje que eu questiono a postura desses advogados que circulam pelas Laranjeiras. Dos de porta de cadeia então, o espetáculo é corriqueiro. Porém, de Peter, o profissional da gestão, eu não esperava.
Sou incapaz de me calar diante de tal arbitrariedade. Se antes nunca questionei as intenções do presidente, hoje as questiono. Quem é transparente não impede ninguém de apurar suas ações. Se antes nunca levantei bandeira sobre sua fraqueza, agora estendo um bandeirão, com a cara de quem chora por conta de qualquer opinião contrária dentro de seu reino absolutista. Se antes elogiei, e muito, seus avanços para o clube, hoje os coloco em segundo plano. Nenhum tirano pode ser endeusado por suas conquistas se retalia a liberdade. Esta atitude do presidente foi uma mancha no nosso “nós somos a história”. Uma história escrita e, muitas vezes, por muitas mãos. Rogo por Nelsons, o Mota e o Rodrigues, rogo por Chico, por Bial e por Jô: você não representa a paixão Tricolor. Você cerceou a “história” no clube mais intelectual do Brasil. Você não merece essa cadeira do clube pai do futebol brasileiro. Você não vai nos calar. Você não merece defender ninguém na sua carreira jurídica. Você não é nem o dono da bola na pelada que você transformou o Futebol Tricolor. Você vestiu a tão sonhada cartola. Você é a imagem do mascote tirano. Pode ter certeza, o CT inaugurado sem estar pronto deveria ganhar o seu nome, Peter, o do rei que está acima do bem e do mal, mas nunca, e repito, NUNCA, será digno de ser lembrado com decência por quem escreve a história do país do futebol.
Algumas cartolas acabam tapando mais do que as cabeças…
Em tempo: sobre a Comunicação do clube, não os culpem por nada. São simples assalariados mecanizados (alguns até “politizados”). Não possuem disposição nenhuma para honrarem seus diplomas.