Foto: Lucas Merçon/FFC

Dá pra gente dividir o Fla-Flu da última quinta-feira (17) em duas partidas distintas em seus respectivos tempos.

O primeiro tempo do Fluminense de muita dificuldade pra sair da pressão mais alta do Flamengo, que já é uma característica desse início de trabalho do Filipe Luis. O Fluminense se aproveitaria disso mais à frente…

 
 
 

E assim o jogo começa e duas boas chances saem exatamente de bolas roubadas no campo de ataque do Fluminense. Numa blitz com dobra de marcação, Bernal perde, Bruno Henrique dá no Gabriel, que tenta matar e devolve sem querer pra um chute do próprio Bruno de dentro da área, que vai em cima do Fábio.

Na segunda, o Fluminense tenta uma saída pelo corredor lateral e, de novo, perde a bola (dessa vez foi Marquinhos). Alcaraz chuta, Fábio erra um golpe de vista e ela vai na trave.

O jogo estava muito desconfortável. E tem sido a tônica quando esse Fluminense é submetido a uma pressão onde o adversário joga sua última linha defensiva quase no meio-campo.

O time tem muita dificuldade de sair tanto pela falta de ideias coletivas quanto pela falta de capacidade técnica de defensores, meio-campistas e atacantes de jogar sob pressão.

A defesa não conta com jogador habilidoso pra quebrar marcação, o meio-campo com Bernal e Martinelli tem muita dificuldade de arraste pra sair dessa pressão e na frente Kauã e, ontem Marquinhos, não seguravam uma bola.

E o jogo transcorreu muito difícil pro Fluminense que se via cercado pelo Flamengo sem muitas alternativas.

Até que Ganso busca o lado do campo, acha Martinelli num passe e o oito tricolor, enfim, carrega essa bola pra cima dos caras, achando Marquinhos num bom passe. Marquinhos tenta o drible, iria cair, mas é tocado por Léo Pereira, pênalti.

Ganso bate muito mal e perde. Um jogador com a inteligência e capacidade técnica do Ganso precisa rever essa batida. Porque os goleiros não estão mais se mexendo e da forma como ele vai pra bola, essa bola não pega muita força na batida, de modo que precisa tirar muito do cara pra ele não chegar. E se tirar muito corre o risco de sair ou ir na trave, como contra o Grêmio e se não conseguir tirar muito, ela vai sem força permitindo que o goleiro chegue mesmo sem se mexer.

Acaba o primeiro tempo.

Contra uma defesa que joga em linha muita alta, qualquer drible, bola carregada, passe certo podem gerar perigo de gol.

E assim saiu o primeiro gol. Manoel afasta e ela cai no pé certo. Qualquer jogador do mundo tentaria o domínio ou a parede pra quem vinha chegando. Mas ele não é qualquer um. O gênio da camisa dez, que tem olho nas costas, já tinha vislumbrado Kauã Elias colado e solto em cima da última linha do Flamengo.

Não daria tempo pra matar a bola, girar e tentar o passe. Certamente perderia segundos preciosos e Kauã já não seria mais opção.

Porque futebol é tempo. Ser um meio-campista é entender o tempo. O tempo de tocar de primeira, de segurar, de recuar, de acelerar e Ganso entende esse tempo como poucos.

Dessa vez, ele precisava acelerar e mete um calcanhar de primeira, um passe pornográfico que vale o ingresso, até pra quem estava do outro lado da arquibancada. Basta amar o jogo.

O calcanhar espetacular acha Kauã Elias sozinho contra uma defesa que precisava correr pra trás desesperadamente, mas que não consegue impedir o bom cruzamento que cai no pé do Lima, que bate certo e faz um a zero.

Lima, de novo, ele sendo útil, ajudando com gols o Fluminense. Lima é o retrato do jogador que todo elenco precisa ter. Trabalha calado, humilde. Joga de segundo homem, joga de terceiro homem, joga aberto pelo lado como foi ontem e entrega performance. Longe de ser craque, mas também longe de ser o jogador que a torcida erradamente já perseguiu e vaiou.

Lima, além do gol decisivo, foi fundamental porque o lado direito do Flamengo, com Wesley e Mateus Gonçalves, era muito agudo. Lima e Diogo Barbosa conseguiram segurar ali sem maiores problemas. Lembro de apenas uma escapada do Wesley no primeiro tempo que ele cruza mas o Gabriel chega atrasado.

O segundo gol começa em outra bola que Martinelli conseguiu se desvencilhar da marcação ali no meio- o segundo tempo do Martinelli foi espetacular -, toca no Árias e nisso Ganso já está aberto pra fazer o jogo andar ali pelo lado do campo.

A bola chega no maestro e Martinelli, num movimento que ele precisa fazer mais vezes, ataca o fundo. Ganso vê e força o passe de modo que Martinelli não teria tempo de dominar e nem tempo da defesa chegar. De primeira nosso oito acha Árias na área que finaliza muito bem. Golaço, produção coletiva primorosa.

A vitória estava encaminhada. Depois o Flamengo tentou de tudo e o Fluminense no modo Mano conseguiu segurar praticamente todas as investidas do adversário com boa atuação da dupla de zaga responsável por inúmeros cortes. E com as saídas de Ganso e Lima, o Fluminense não mais conseguiu aproveitar um Flamengo escancarado pra aumentar o placar. Mais uma grande vitória num Fla-Flu.

Vitória pra trazer um conforto, que ainda é pequeno, na tabela. Vitória pra trazer paz pro treinador trabalhar, fazer o trabalho que veio fazer aqui que era livrar o Fluminense da Série B e uma vitória principalmente pra calar os oportunistas (alguns com canais importantes) nas redes sociais.

Gente que nas derrotas estava atacando John Árias dizendo que o cara, que entrega tudo em campo, estava jogando de sacanagem. Árias é um dos maiores jogadores da história desse clube e merece reverência, jamais ataques.

Gente que, nas derrotas, passou a dar chilique em seus canais atacando um grupo que ano passado levantava uma Libertadores e não, não joga de sacanagem, não quer que o Fluminense caia.

É um grupo mal montado, mal planejado, repleto de carências (técnicas, físicas…) com alguns elos fracos que inviabilizaram um 2024 competitivo. Mas nunca sem caráter como muitos quiseram insinuar pra ter likes e engajamento.

Não dá pra analisar futebol sob a perspectiva de que perdeu porque jogou de sacanagem e ganhou porque correu e jogou sério.

Terça tem mais. Dia de lotar o Maracanã e empurrar ainda mais pra baixo quem entregou um jogo em casa em 1996 pro Fluminense cair.