O Fluminense não tem dinheiro. O patrocínio do Fluminense não é dos melhores. O Fluminense não recebe grana da TV como outros grandes clubes.
Nossa sede vale muito. Bairro nobre. É bem bonita. Tem parte tombada, com um estádio pequeno, mas cheio de história. É um senhor patrimônio, mas não está à venda.
A grande torcida também é patrimônio do clube. Eles fingem não saber, mas é por ela que a grana entra, em forma de contratos e patrocínios. Mas, obviamente, também não está à venda.
O terceiro grande patrimônio do Fluminense está em Xerém. E ali tem jogo. Boa parte da molecada não se destaca, é natural. O futebol tem seus funis.
Mas têm uns moleques que furam a bolha. Volta e meia escutamos que Fulano ou Beltrano estão arrebentando na base.
Num clube sem grana como o nosso seria natural a instituição de uma política bem definida de PRIORIZAR os meninos da base. Motivos não faltam: são baratos, têm a filosofia do clube – que se gaba por fornecer estrutura, educação e condições fisiológicas e nutricionais de ponta – e, finalmente, podem virar dinheiro, se conseguirem destaque no time principal.
Num cenário óbvio, usar Xerém deveria ser conceito tão fundamental, que qualquer treinador que estivesse no comando da equipe só poderia ser contratado se concordasse com a política.
Porque, convenhamos, não dá para colocar na conta de um treinador – que hoje está aqui e amanhã pode estar no rival – o peso de decidir quem fica e quem é contratado com dinheiro que é escasso e que, principalmente, não é dele.
Xerém não resolve tudo. Longe disso. Mas no futebol não são tantos assim os que resolvem. Num clube quebrado como o nosso, se não dá para trazer alguém dois furos acima, é fundamental dar oportunidade aos moleques. Jefté é um desses meninos.
Moleque alto, bom de bola, capitão do time e há uns três anos mencionado por todos os tricolores que acompanham a base.
Mais: joga numa posição muito carente, onde só tem o já veterano Marcelo (que não aguenta jogar todos os jogos), o notívago e bichado Jorge e o sempre improvisado Guga, um cara que veio por 10 milhões de reais para ser nota 5,5.
Dar uma chance pro menino seria uma questão filosófica. Destaque na base. Vamos ver jogar? Quem sabe não dá certo? Mas quando nos deparamos com a necessidade, também esbarramos nas narrativas.
“Não está pronto”. “Não tem uma cabeça boa”. “Oscila demais”, e outras platitudes. Em geral entubamos essas falácias meio que bovinamente, sem muita reflexão, como se não devêssemos cobrar de um clube profissional que ele fosse capaz de deixar o jogador pronto, cuidasse de seu psicológico e amenizasse as eventuais oscilações.
Dali a algum tempo algum jornalista vaza a notícia de que estamos negociando com mais um lateral-esquerdo. Vem do Grêmio, do banco do Grêmio, sob os risos dos torcedores gaúchos, que agradecem ao clube que os livrou de um jogador que não rendeu.
Jefté não terá espaço. O espaço que teria foi preenchido por um jogador bem mais velho, vindo de anos ruins, sem identificação com o clube e a um alto custo, pulverizado em anos de contrato.
A alternativa é emprestar o menino. Fazer com que ganhe rodagem para voltar ao Fluminense um dia. As narrativas são sensacionais. Deixa o menino ganhar rodagem, pô!
E então, para não atrapalhar o jogador trazido por um empresário qualquer, para afastar a incômoda sombra de um garoto, pedido pela também incômoda torcida, a joia deixa o clube, para ganhar experiência, num campeonato competitivo, muito semelhante ao nosso.
No Chipre. Chipre.
Seja bem-vindo, Diogo Barbosa.
Fim. Obrigado.