Ex-zagueiro do Fluminense, Matheus Ferraz concedeu uma entrevista exclusiva ao NETFLU e abriu o seu coração sobre a passagem pelo clube, as lesões que o atrapalharam e a relação com o técnico Fernando Diniz. O camisa 3 chegou no Tricolor em 2019 e deixou as Laranjeiras este ano, em abril, após recuperar-se de uma cirurgia no joelho.
Ferraz também teceu comentários sobre a possibilidade de Thiago Silva retornas às Laranjeiras e assumir o número deixado por ele, o caso do zagueiro Vitor Mendes, afastado por conta do envolvimento com casa de apostas, e muito mais. Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
NF: Avaliação sobre a passagem pelo Fluminense
Ferraz: Eu fico muito grato por tudo o que o Fluminense fez para mim. Foi marcante para a minha carreira, vida, ficará pra sempre. Infelizmente tive as lesões, coisas que a gente nunca espera, mas faz parte do futebol. Tive três lesões de joelho, uma muscular, isso tira um pouco da sequência, do ritmo, tudo mais. Vivi tempos brilhantes ali com jogadores maravilhosos, comissão, não é a toa que vem crescendo a cada ano. São pessoas incríveis que trabalham lá, fazem um ambiente perfeito, maravilhoso lá dentro, simplesmente fantástico. Mesmo nos momentos ruins, o ambiente bom é mantido, sabendo lidar com as vitórias, títulos. Tem alegria e união, foi uma passagem extremamente marcante na minha vida.
NF: Então as lesões foram responsáveis pela sua queda de rendimento?
Ferraz: Sim. Veio por conta da lesão. Quando eu estava num momento praticamente brilhante com o Diniz, que eu sempre para para todas as pessoas que foi o melhor treinador que eu peguei, fantástico em todos os aspectos. Eu consegui evoluir muito com ele, fazer um grande começo de ano em 2019, mas depois vem a lesão, ligamento cruzado. É difícil. Fica muito tempo para recuperar e quando volta, para recuperar o rimo, é complicado. As lesões atrapalharam muito por causa da sequência. Poderia ter feito um ano brilhante. Enquanto eu tive com o Diniz, meu rendimento crescia cada dia mais.
NF: Você falou que o Diniz é o melhor treinador com quem trabalhou. O que ele tem de tão especial assim, como ele consegue extrair tanto dos atletas?
Ferraz: A grande diferença é o que ele consegue extrair de cada jogador, além do relacionamento pessoal dele ser muito afetivo, deixar o jogador muito a vontade, se sentindo bem tranquilo para poder desenvolver o futebol lá dentro. Ele é muito inteligente tecnica e taticamente. É fora do normal. Quem trabalha com ele diariamente sabe o quanto ele é inteligente, o jeito que ele trabalha, a entrega dele. Tudo isso faz com que ele se torne o grande treinador com quem trabalhei e, na minha opinião, o grande treinador do Brasil atualmente.
NF: Como você enxerga o elenco montado para esta temporada? Acredita que possam vir mais títulos além do Carioca?
Ferraz: Eu acredito que a cada ano, desde 2019, o elenco tem se fortalecido. Esse ano, além do Carioca, tem tudo para o Fluminense alcançar mais um título. Acho que pelo menos um dos três (Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores) vai vencer. Creio que devem buscar peças para fortalecer mais o grupo, vendo de longe. O clube está com tudo pra conquistar mais um título. Se mantiver esse trabalho do Diniz, tem tudo pra conquistar mais um grande título esse ano.
NF: Nesses últimos meses de contrato, existia a expectativa de você fazer ao menos um jogo de despedida, entrar em campo… ficou com uma sensação de que poderia, ao menos, ter sido aproveitado no Carioca?
Ferraz: Lógico que eu gostaria de ter tido um despedida. Mas eu não fui um ídolo como foi o Fred, como é o Marcelo, jogadores que fizeram história. Eu fui um jogador que tive um bom relacionamento dentro do clube, pude contribuir em várias aspectos, ajudar vários jogadores jovens. Tive o meu êxito em alguns momentos, sabia do momento do clube, das minhas condições. É difícil voltar num ritmo que o pessoal estava jogando depois de uma lesão de ligamento. Eu entendia o meu espaço. Saio agradecido por tudo o que o Fluminense fez, principalmente o Mário, o Angioni, o Fred… foram transparentes, fazendo as coisas certas comigo. Só tenho a agradecer.
NF: Você se recuperou completamente da lesão? Questiono isso porque o goleiro De Amores e o volante Hudson viveram situações similares a sua e, meses depois que saíram após contrato renovado via lesão, acabaram processando o clube.
Ferraz: Eu saí bem, recuperado 100%. Logicamente que depois de uma lesão de cruzado, você precisa de um tempo maior. Estou pronto para jogar por o outro clube e tudo mais. Hoje já me sinto muito melhor do que estava antes. A gente sabe que é complicado. Estou pronto para jogar.
NF: Você era conhecido como “Maldini tricolor”. No atual elenco, quem se assemelha mais ao seu estilo. E o que você acha do sistema defensivo do Fluminense em 2023?
Ferraz: O sistema defensivo do Fluminense está muito bem. Eu sou muito fã do Nino, o Manoel, ano passado, estava bem, depois se contundiu e está voltando ao ritmo pouco a pouco. O Felipe tem atuado como zagueiro e tem dado uma fortalecida ali, técnica apurada, no estilo que o Diniz gosta. Eu fiquei muito marcado na época em que me chamavam como Maldito (risos). Até porque ele foi um dos maiores zagueiros da história do futebol. Eu acho que o Nino é mais um pouco o meu estilo. Ele é um falso lento, tem uma ótima velocidade, tanto que está voando esse ano, tem bom cabeceio. Na parte técnica ele está acima, evoluiu muito no Fluminense. Pude participar dessa evolução desde 2019 e é um jogador que tem feito história ali no Fluminense.
NF: No ano passado, você chegou a fazer cursos na CBF ao lado de Fred. Pensa em voltar para o Fluminense, quem sabe, como treinador ou dirigente algum dia? Chegou a ter algum tipo de conversa nesse sentido com o Mário ou o próprio Fred?
Ferraz: Tenho me preparado. Fiz cursos juntos com o Fred, um de gestão e um de licença para treinador da CBF. Pretendo trabalhar mais para o futuro como auxiliar ou na parte mais diretiva. Conversei até uma situação, explicando para o pessoal o que eu poderia agregar talvez, mas acho que ainda é cedo para pensar. Mas penso em voltar até porque tenho um bom relacionamento com todos. Quem sabe eu não possa voltar num futuro próximo, participando de um pós-carreira meu ou outro projeto.
NF: A gente sabe que o Fluminense tem melhorado bastante nas questões financeiras, mas algumas pendências como pagamento de premiações e depósito de FGTS sempre são comentadas. O clube já acertou tudo contigo, incluindo salários, ou ainda estão em fase de selar acordo?
Ferraz: Realmente o Fluminense tem melhorado muito financeiramente e o Mário tende a acertar tudo o mais rápido possível com essa boa relação com o grupo. Não estou mais vivendo diariamente para saber como está a situação de premiação. Mas sobre a minha situação, eu prefiro nem comentar nada aqui, mas digo que foi quase tudo acertado. Os caras sempre foram muito corretos em outras situações. Mário e, agora, o Fred sempre agiram da maneira mais justa e honesta comigo.
NF: Aproveitando o gancho ainda no fato de você ser zagueiro, muito se fala da possibilidade de Thiago Silva retornar ao clube. Esse comentário ocorre desde o início da gestão do Mário Bittencourt. Alguma coisa nesse sentido era passada para vocês na época? Fred ou próprio Mário chegou a comentar sobre o plano em torno de uma volta do jogador?
Ferraz: Então, o que a gente soube foi sempre através dos meios de comunicação. O Thiago, nos últimos dois, três anos, sempre faz um treinamento de pré-temporada ali no Fluminense, além da história que tem no clube. Ele conhece bem. As pessoas gostam muito dele, não tem nem o que falar. Se ele vier para o Fluminense, vai ser uma contratação igual a do Marcelo, jogador totalmente diferenciado, que vai trazer muito mais qualidade ainda para o elenco. Aqui de longe eu torço para que os caras consigam trazê-lo agora no meio do ano. Eu sei que ele acabou de assinar uma renovação, mas com certeza o Fluminense deve ser o próximo destino dele.
NF: Queria que você comentasse sobre essa situação envolvendo esquema de casas de apostas e se foi uma surpresa ver o Vitor Mendes envolvido no caso?
Ferraz: Fico triste. Você vê alguns jogadores bastante conhecidos, teve o Vitor agora, pude conhecer. A gente não entende o que passou na cabeça de cada um, mas fica triste com a decisão que eles tomaram. Eles vão ter que colher o que eles plantaram infelizmente, mas triste, porque se pensar nem precisa se envolver. Espero que eles possam entender e se arrepender por aquilo que fizeram e espero que tenha sido uma lição para cada um deles.