Dedé na área, pessoal, e a temporada 2023 começa de forma muito promissora para o Fluminense. Como há muito não se via. É a primeira vez nessa gestão, reeleita em 2022, que um treinador terá a chance de fazer um trabalho que ultrapassa uma temporada.
E não é qualquer trabalho. É um trabalho de excelência. O trabalho é autoral, peculiar, há uma identidade clara, foi responsável pelo desenvolvimento de inúmeros jogadores, trouxe interesse dos agentes externos, mais sócios para o clube e mais público aos estádios. O futebol jogado é fluido, ofensivo, agressivo, agrada os amantes do jogo, dialoga com a natureza do futebol brasileiro. E entregou resultados.
Fernando Diniz é a revolução que o futebol brasileiro está precisando. E dirige o Fluminense. Se no campo das ideias e do modelo implementado temos um case de sucesso, Fernando tem um outro desafio pela frente. O planejamento do elenco, que deve guardar relação com seus princípios de jogo. Penso que há três qualidades que definem um grande treinador:
1- Suas ideias, modelo, metodologia, trabalho e aplicabilidade no jogo;
2 – A gestão do grupo;
3 – O planejamento do elenco.
Este último, muitas vezes negligenciado, é tão importante quanto os outros dois. Porque não é verdade que um grande treinador faz todo e qualquer jogador jogar bem.
As contratações absurdas de 2022 como William Bigode, Felipe Mello, Cris Silva, Pineida, Wellington que teve contrato renovado… nenhum deles foi útil, foi bem, evoluiu. Portanto, se errar o planejamento pra reforçar um time que chegou perto de brigar por título grande em 2022, vai continuar longe deles em 2023 com ou sem Diniz.
O planejamento em 2022 foi Abel Braga, 3 zagueiros, jogo apoiado em alas que não sabem jogar de alas, um monte de contratações que se sabiam ruins. Uma verdadeira catástrofe que eliminou o Fluminense de forma vergonhosa de Libertadores e, posteriormente, Sul-Americana e que quase elimina o time da final do Carioca (o gol contra o Botafogo na semi sai no abafa ao apagar das luzes).
Até nisso 2023 parece mais promissor. A gente olha os nomes e não acha nenhum absurdo do nível dos citados acima. Eu posso até discordar, e discordo, de certas decisões, como comprar um Guga pelo valor que foi ou dar três anos de contrato pra um jogador na idade do Keno, mas estão longe de serem decisões do nível que se tomou num passado recente com relação a altos investimentos em atletas com curva completamente descendente e outros nitidamente sem condições. Uma gestão onde os maiores investimentos no futebol foram Caio Paulista e Cris Silva precisa evoluir nesse quesito.
Olhando a lista dos principais reforços: Keno, Jorge, Guga e Lima não dá pra afirmar que há absurdos aí, embora possamos discutir valores e tempos de contrato como política de gestão. Mas esse debate vou deixar pra uma outra hora. O fato é que, não havendo os tais grandes absurdos, dá sim pra se falar em evolução.
Se eles irão mudar o Flu de patamar, se irão render, é um outro debate. E um debate difícil porque como estarão diante de um jeito de jogar muito peculiar e nunca jogaram dessa forma na carreira, qualquer previsão é chute. E aqui entra o maior desafio do Fernando. Dessa vez ele participa dessa montagem, desse planejamento. E vai ser cobrado por isso, diferente de 2022.
Foi mal na janela de meio de ano. Ao perder Nonato e Luiz Henrique e trazer Alan e Marrony, o Flu jogou fora a janela de 2022. Já está na conta do treinador e do clube recuperar esses jogadores que não foram úteis (e houve investimento importante) em momentos em que o clube precisou muito ano passado.
As carências foram parcialmente atacadas: Um jogador de velocidade, ataque de espaço e drible e um lateral-esquerdo, embora eu tenha gostado demais de ver o Alexsander ali no fim da temporada. Ainda acho que o Flu tem uma carência, na função do Martinelli, de um meio-campista mais forte fisicamente, com mais pulmão e arraste, que saiba jogar. Coletivamente o Fluminense teve muita dificuldade quando se defrontou com adversários que levaram o jogo pra um nível de muita disputa física, corporal. As goleadas sofridas por Inter e Corinthians na Copa do Brasil mostraram um time que não soube jogar naquelas condições. E esse ano terá Libertadores. Não vejo ainda como o time, pelo menos o titular, evoluiu nesse quesito com as contratações.
No modelo, espero que haja uma evolução na forma do time se defender (com o bloco muito baixo). Como o futebol é todo encadeado isso atrapalha as próximas fases do jogo. O ano começa com a torcida saudosa de ver o time jogar e em lua de mel com o trabalho. Um ano desafiador porque a torcida do Fluminense se acostumou ao jogo bem jogado e não vai admitir retrocessos. Em compensação, um ano de muita esperança, de confiança no trabalho de quem está à frente da equipe que, pelo menos da minha parte, há muito não se via.
Saudações!
TABELINHA
- A minha ideia é retomar a Flupress escrita esse ano. Mais textos e menos lives no youtube. No carioca, como é bem chato, a gente ainda vai espaçar um pouco, mas a partir dos jogos importantes seremos (Gustavo e eu) mais assíduos