Mário durante discurso para os conselheiros do Fluminense (Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC)

No final do último ano, os sócios do Fluminense foram às urnas e escolheram Mário Bittencourt como presidente para o triênio 2023-2025. Ele foi reeleito com 2.623 dos votos, encabeçando a chapa “Com amor e com vigor!”. Por ter obtido mais que o dobro dos votos do segundo colocado, a chapa teve o direito, garantido estatutariamente, de ocupar todas as 150 vagas no Conselho Deliberativo (CDel) do clube, além de ficar com os outros 50 suplentes. Cenário considerado “perigoso” por diversos especialistas, já que não há, em tese, uma voz alternativa ou opositora num dos espaços mais importantes do clube.

Para entender o cenário, é preciso mergulhar nas últimas gestões. Diversos casos considerados polêmicos, controversos e/ou geraram prejuízos aos cofres e imagem do clube foram tratados de maneira superficial por quem estava no poder. O NETFLU relembra alguns deles, salientando que nos casos anteriores à atual gestão Mário Bittencourt ainda existiam opositores, mesmo que em menor número. De modo que este fato ainda inviabilizou, em diversos momentos, a análise crítica de contextos importantes para o Fluminense como a reforma estatutária, que segue sendo empurrada com a barriga pela terceira gestão seguida.

 
 
 

Algumas das principais iniciativas ao longo do tempo como a construção do Centro de Treinamentos Carlos Castilho, na Barra da Tijuca, o Projeto Flu Samorin, na Eslováquia, demissões via Whatsapp, irregularidades apontadas em carta do ex-dirigente Eduardo Mitke, saídas de Marcos Paulo, Miguel, Gustavo Scarpa, Diego Souza e Evanilson de forma quase amadora e tantos outros temas jamais foram debatidos efusivamente em conselhos dominados por correligionários dos presidentes em questão: Peter Siemsen, Pedro Abad e Mário Bittencourt. O mesmo ocorria com os anteriores.

Os casos Dryworld, Matte Viton, Vale Express, Live Sorte também ficaram pelo caminho sem uma apuração detalhada dentro do CDel. A votação do orçamento, suplementações e discussão de fluxo de caixa viraram peças políticas com o passar do tempo. Em todos esses panoramas, os conselheiros levantaram debates considerados rasos e que não viraram, efetivamente, denúncia ou motivação de processo. No mais, quando havia alguém mais efusivo, o debate era politizado, fora as reiteradas campanhas – com fakes ou em grupos – desqualificando e/ou caçando quem ousasse apontar o dedo.

O processo de impeachment do ex-presidente Pedro Abad, por exemplo, não se constituiu por conta das narrativas criadas, além do que chamaram de “resguardo” do clube. É certo salientar que o CDel não protege o Fluminense institucionalmente porque fica amedrontado ou subordinado. Os beneméritos, numa forma geral, também são pró-gestão por origem. Quem se elege como tal, é ligado à elite do clube. Os últimos presidentes do Conselho Deliberativo, Marcos Vinícius Bittencourt, Guizard, Fernando Leite e Braz Mazullo foram ineficazes em questões preponderantes como a reforma estatutária e o voto online.

Fora tudo isso, ainda há o fato de diversas reuniões terem menos de 50 conselheiros presentes e sem justificativa oficial da maioria dos ausentes, mesmo com o estatuto prevendo expulsão depois da terceira ausência consecutiva para casos sem comprovação de falta necessária. Entende-se na nova política do clube que o Conselho não tem representatividade, não exerce um papel de vigilância, nem cobrança da estrutura para viabilizar a modernização da instituição, o que já era dito 10 anos atrás pelo ex-braço direito de Peter Siemsen, Jackson Vasconcelos, um dos grandes rivais dos grupos políticos Flusócio e Tricolor de Coração.

É importante ressaltar que, na nova gestão, Matheus Montenegro será o vice-geral. Ele ocupou o cargo de vice-presidente de Relações Institucionais no período da primeira gestão de Mário Bittencourt. Além disso, houve algumas mudanças de nomes que foram substituídos, entre eles do presidente do CDel, Braz Mazullo, que deu lugar ao seu vice, Ivan Perrone.