No início de 2022, uma contratação do Fluminense pegou a maioria dos tricolores de surpresa. O desconhecido lateral-esquerdo Cristiano, do também desconhecido Sheriff Tiraspol (MOL), estava sendo adquirido por 1,4 milhão de euros (R$ 9 milhões na cotação da época). Afinal, um clube com uma dívida que supera R$ 750 milhões investir cifras relevantes num jogador que estava há quatro anos na Moldávia e só havia atuado em clubes pequenos no Brasil anteriormente chamava a atenção.
Este valor foi diluído em parcelas e, naturalmente, a aquisição foi defendida pelo responsável dela: o presidente Mário Bittencourt, que desde a saída do então vice geral Celso Barros acumula a função de coordenador do futebol. O dirigente, inclusive, disse que não concordava com a preocupação geral pelo investimento no lateral, na ocasião com 28 anos. Para ele, Cristiano, dispensado pelo Fluminense neste ano depois de um pedido do mesmo, foi uma “excelente oportunidade de mercado”.
– Vem sendo monitorado pela gente há muito tempo. Era acompanhado pelo nosso scout antes de ir para a Europa, fez uma grande Champions League, o que consolidou que seria importante. Jogador ofensivo e técnico. Discordo da preocupação com essa contratação. Pagar 1,4 milhão de euros parcelado em dois anos não é um valor absurdo. A lateral esquerda é uma posição carente de nomes no futebol brasileiro. Tentamos alguns deles. Em 2020 tentamos o Arana e não foi possível. O Atlético pagou 50% em 3 milhões de euros. Tentamos o Jorge, que foi pro Palmeiras, com um salário muito maior do que podíamos pagar naquele momento. O Cristiano tornou-se uma excelente oportunidade de mercado – comentou Mário em 7 de janeiro de 2022.
Segundo o presidente, o então técnico Abel Braga adorou o que viu do jogador e deu o aval para a contratação. Bittencourt, inclusive, fez uma projeção de que após boa performance em 2022, Cristiano poderia ser negociado por um valor muito maior do que foi comprado. Por fim, Mário garantia que a contratação foi realizada dentro das condições econômicas do Fluminense.
– A gente não tem como ficar com um lateral só e esperar seis meses (para assinar um pré-contrato com o Cristiano) em razão do que o scout pensou e apresentou ao Abel. O Abel adorou o jogador, acha que ele vai ser muito importante no sistema que irá jogar, e isso fez com que a gente fizesse um investimento. Como a gente fez com o Michel Araújo e o Pacheco em 2020, também parcelados e estão integralmente quitados. O Michel Araújo deu certo, o Pacheco infelizmente não foi bem aqui. Se o Cristiano for muito bem aqui e for vendido por 5 milhões de euros daqui a um ano vão dizer: “Grande contratação”. Como tudo na vida, pode dar certo ou errado, mas fizemos com os pés no chão. Não estamos causando nenhum problema no balanço financeiro no clube por causa disso.
Curiosamente, o próprio Abel Braga desmentiu Mário Bittencourt. Em entrevista coletiva pouco menos de um mês depois, admitiu que viu pouquíssimo de Cristiano, sem saber, com exatidão, os clubes pelos quais ele passou no Brasil antes de rumar para o futebol moldavo:
– O Cristiano eu vi 15 minutos contra o Real Madrid. Eu não sabia nem que ele tinha passado no Volta Redonda, parece, Madureira… Não tinha nem ideia disso. E o Cristiano comentou comigo: “Abel, eu agora estou vendo o peso dessa camisa”. E eu falei: “Cara, isso aqui é grande demais” – declarou Abel em 3 de fevereiro do ano passado.
O Fluminense começou a pagar pela compra de Cristiano em junho de 2022 e terminará de quitar em dezembro deste ano, caso não haja atrasos. Dos 71 jogos que o Tricolor disputou na temporada passada, o lateral atuou em 35. Foi titular em 24 e marcou um gol. Sua última partida foi na vitória tricolor sobre o São Paulo por 3 a 1, no Maracanã, em 5 de novembro pelo Brasileiro.