O atual presidente do Fluminense tem mais um desafio pela frente: tentar se reeleger. Com boas e más avaliações ao longo de sua gestão nos últimos três anos, de acordo com analistas, Peter comentou sobre o que pretende fazer caso vença no sábado, dia da votação, que ocorrerá nas Laranjeiras.
Unimed
– A Unimed já está no clube há 15 anos e é fundamental. Quando nós ganhamos 2012, e como torcedor, quando ganhamos 2010, eu comemorei demais, mas não fiquei eufórico com o futuro do Fluminense. Para isso, eu tenho que ver um trabalho de longo prazo. A consolidação no futebol brasileiro vai depender muito do trabalho nos próximos anos em projetos de longo prazo. No Flu, não é só projeto comercial, em infraestrutura, é principalmente lidar com a dívida e ser competitivo mesmo enfrentando toda essa reestruturação. Nosso custo mensal para o pagamento das dívidas é um custo do futebol de um clube de Série B e alguns da Série A. Ter a Unimed é fundamental. É um parceiro que está ao lado do Fluminense na derrota e na vitória, que já conhece o futebol, sabe lidar com o momento bom e com o ruim. Tem um projeto sui generis no futebol brasileiro e que pode ter muito sucesso, como aconteceu nos últimos anos. Prevejo uma Unimed ainda mais próxima do futebol para que o Fluminense continue o que começou nos últimos três anos: sua reestruturação e um circulo virtuoso em relação ao crescimento do clube. Com isso o Flu poderá contribuir muito mais com o projeto do futebol profissional e pode fortalecer esses laços. Não tenho dúvida da importância da Unimed para os próximos três anos e de que essa parceria tende a se consolidar ainda mais para trazer novas conquistas.
Dívidas
– É o grande calcanhar de aquiles do Fluminense, o desleixo do passado, a falta de cuidado que o impediu de fazer grandes investimentos em infraestrutura e crescer como clube e instituição. Por isso demos uma atenção muito especial a essa questão. Trabalhei duro para ela ser controlada. No último balanço, ela teve um crescimento de apenas 7%, valor inferior à correção atual. Trabalhamos para reduzir o déficit que era de R$ 42 milhões. No ano passado, ele foi fechado em R$ 3 milhões, e a previsão é que seja superavitário em 2013. Um caminho importante para chegar a esse estágio foi a decisão que tomei de fazer do Fluminense novamente um clube pagador, que honra seus compromissos. Reconquistamos a confiança do mercado. Pagamos mais de R$ 70 milhões em ações judiciais nesse período. Só de recolhimento de impostos e tributos correntes, foram mais R$ 26 milhões. Era algo que o clube não recolhia há anos. Mudamos essa cultura, mas ainda assim passamos por uma situação difícil na parte fiscal com relação à Procuradoria. Foi algo que criou muita dificuldade em 2013.
– Em compensação, fizemos um trabalho importante na área política com a ajuda na medida provisória que virou lei e regulamentou o processo de exclusão da Timemania, algo previsto desde 2006. No próximo dia 29, devemos ter uma reunião para assinar o acordo com a Advocacia Geral da União (AGU), que é a última instância da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Após o retorno para a Timemania, essa assinatura vai nos permitir alcançar 100% do equacionamento da dívida atual de R$ 442 milhões. Vamos ter um custo mensal de cerca de R$ 2,5 milhões pelos próximos cinco ou sete anos, um valor considerável. Isso se não forem criadas novas dívidas. Ter equacionado tudo em três anos vai possibilitar recursos para investimentos considerados fundamentais para o Fluminense. Um dado curioso: quando assumi, a dívida era parecida com a do Botafogo. Eram as duas maiores do Brasil. Pelos balanços divulgados no fim do ano passado, a dívida do Botafogo já está R$ 200 milhões maior do que a nossa. É um parâmetro importante de comparação. Essa história de dívida impagável não existe. É claro que afeta a nossa capacidade de investimento em relação aos clubes com problemas financeiros menores. Ainda vamos ter que construir nosso CT. Coisas que o atual campeão Cruzeiro já tem. O importante é que a dívida é pagável, sim, e que está dentro do nosso planejamento.
Futebol profissional
– Ainda estamos focados no resultado do Brasileiro. Queremos terminar o ano com tranquilidade para então pensar em 2014. Vários jogadores jovens foram incorporados e estão em fase de adaptação, de amadurecimento. Parte deles vai poder contribuir para a formação do elenco na próxima temporada. Ainda temos jogadores referências que se machucaram, casos de Fred e Carlinhos, e com quem contamos. Trabalhamos com a espinha dorsal que já existia no futebol profissional e procurei dar as melhores condições de trabalho à equipe. Como por exemplo a estabilidade no comando técnico, com o Abel (Braga) ficando por mais de dois anos e meio no clube. Tentamos melhorar também a questão financeira. Acho que os resultados não foram ruins. Tivemos bons resultados em 2011, ganhamos títulos em 2012 e na atual temporada apostamos na manutenção do elenco para brigarmos pelo título da Libertadores. Terminamos como o segundo melhor brasileiro do torneio. Não tivemos o sucesso que gostaríamos no primeiro semestre e enfrentamos situações complicadas de contusões. Sem falar nos jogadores que saíram no meio do ano. Por isso enfrentamos um Brasileirão difícil, mas temos confiança de que vamos nos sair bem no final. Aí poderemos dar uma rearrumada no elenco.
Xerém
– Encontrei Xerém em um estágio muito grave. Temos tudo documentado em fotografias. A situação era gravíssima. Obviamente que a divisão de base sempre é um projeto de longo prazo, que colhemos com o tempo. Hoje temos uma estrutura muito melhor, com cinco campos novos, sendo um de grama sintética. Reformamos toda a hotelaria, construímos um vestiário novo, criamos sistemas de monitoramento. Enfim, fizemos muita coisa de necessidade imediata. Para o futuro, pensamos na parte estrutural. Queremos construir um edifício de dois andares próximo ao campo para tirar a área técnica de cima do morro e melhorar a logística. Hoje ela não é a ideal. Estamos redigindo um manual de funcionamento técnico das divisões de base que será padrão do mirim ao sub-20. Já fazemos também um trabalho interessante de transição do futsal para o campo. Há cerca de um ano e meio, desenvolvemos o projeto das escolinhas chamado Guerrerinhos. É tudo integrado a Xerém. A metodologia utilizada é a mesma, e os professores passam por um treinamento técnico em Xerém antes de começarem a dar aula. Já temos 50 unidades funcionando, sendo algumas fora do Brasil, e mais de 6 mil alunos. Alguns atletas já passaram até a treinar com as categorias de base. Não é só um instrumento de marketing e de formação de cidadãos. Tem se mostrado também uma ferramenta de valor para fornecer atletas.
Maracanã e CT
– O acordo com o Maracanã protege muito o Fluminense em relação ao prejuízo. Não jogamos mais lá com prejuízo. Mesmo se for pouca gente, não temos prejuízo. Se for muita, levamos uma receita considerável para o clube. Certamente foi muito pensado esse contrato nesse aspecto. Com isso, mantém o controle e o viés de redução da dívida. Hoje já estamos com a sexta média de público do Brasil em um campeonato nacional em que o time não foi bem. Acho que tem muito valor o fator de ter voltado para o Maracanã. O contrato do ponto de vista financeiro é muito bom. Não investimos nada na construção/reforma do estádio e jogamos basicamente sem risco de prejuízo. Se tiver um jogo com demanda muito grande, temos uma capacidade de renda para o Fluminense muito grande também. Estamos ainda em um processo de adaptação à tecnologia utilizada no estádio, o que é natural, já que o estádio foi modificado para a Copa do Mundo. As catracas não têm ainda a linguagem que o Fluminense usava no Engenhão. Esperamos fazer as alterações após o Mundial para que o clube volte a estar integrado 100% com o estádio. Estamos planejando uma maior integração nas ativações do Maracanã, como o telão por exemplo. É um processo que leva tempo, mas estamos muito satisfeitos. Assim como estamos felizes pelo fato de o Fluminense ter agora um lado fixo no estádio, uma questão até que a Federação do Rio trabalhou contra. Nos preocupamos muito com a torcida. E em sendo o Maracanã a nossa casa, nada mais justo do que isso. Vamos ter uma loja no Maracanã pós-Copa, já temos o vestiário exclusivo. Não nego que um dia o sonho de ter um estádio próprio nunca deve ser abandonado. Mas o Fluminense não poder ter isso como prioridade hoje, em vista do alto custo imobiliário do Rio, do custo de construção no Brasil. Seria bom incrementar a relação com o Maracanã para cada vez mais o torcedor se sentir em casa.
– Sobre o CT, a preparação do terreno já está em curso. Vai ser tudo feito em etapas. Estamos esperando a abertura da rua de acesso, o que está perto de acontecer, para dar início. Já nos reunimos várias vezes, e o pedaço da rua é muito pequeno. Temos avançado um acordo para o fornecimento de areia, já que serão precisos muitos metros cúbicos. Vai ser preciso um depósito, muitos caminhões. Será necessário fazer o estaqueamento do solo, passar por um processo de secagem, acomodação da terra, aterramento com areia. Só para esse processo serão precisos nove meses. O projeto está em fase final de alterações. Quando avaliamos o custo do estaqueamento do solo, vimos que seria mais barato para edificar para cima do que para a horizontal. Por isso vamos estaquear a área necessária para a construção de um prédio de cinco andares. Por outro lado, esse prédio mais vertical vai nos permitir a construção de três campos, e não dois como no projeto inicial.
Esportes olímpicos
– Fizemos o maior investimento dos esportes olímpicos do clube dos últimos 30 anos com uma reforma profunda no complexo de piscina. Talvez seja hoje o mais moderno do Rio. Corrigimos um erro histórico nos 11cm na piscina que não permitiam a homologação de recordes no Fluminense. Além da economia na conta de água, já que existia um vazamento contínuo por causa das rachaduras. Houve também um investimento nas instalações elétricas. Construímos uma área de tiro indoor. Era uma demanda antiga que permite agora novas modalidades no clube. Quando sofremos o problema fiscal, sofreu o clube como um todo. Não privilegiamos ninguém. Acredito que para o futuro o que vamos fazer de excepcional é a obtenção das Certidões Negativas de Débito com a assinatura do acordo com a AGU. Percebo ainda que a infraestrutura do futebol e dos esportes olímpicos tem características muito distintas. Não dá para fazer a gestão conjunta, não dá para ter um caixa único, um marketing atendendo os dois. É muito importante a separação organizacional dos departamentos. Que cada área tenha sua estrutura de funcionamento, seu planejamento de orçamento. Com a dívida equacionada, vamos trabalhar com o planejamento do orçamento. Assim os esportes olímpicos vão saber exatamente os seus recursos, assim como o futebol.
Sede social e sócio futebol
– Estamos para assinar a renovação antecipada de contrato com o fornecedor de material esportivo. Nesse acordo vai haver um segundo contrato para uma rede de 25 lojas. Isso vai permitir a construção de uma loja modelo no Fluminense. A ideia junto a isso é fazer um novo investimento no parquinho, para que seja de alto nível e temático. Os pais vão à loja, ao bar temático, à piscina e ainda levam os filhos a um parque onde tudo será do Fluminense. Ídolos como referência, o novo mascote cartola guerreirinho. O Fluminense precisa de um campo de grama sintética para seus sócios. Já temos um projeto para o campo e outro para duas quadras cobertas de tênis. O tênis perderia uma quadra para dar lugar ao campo de grama sintética, mas ganharia duas novas cobertas. É importante dar uma melhorada no ginásio. E vejo outros dois investimentos importantes: o aumento do estacionamento e a construção de uma piscina social. Temos um nível de atividade aquática grande, e às vezes existe uma certa ocupação conflituosa com os sócios em dias de sol.
– Sobre o Sócio Futebol, é um projeto que implementamos e que muda totalmente o cenário das eleições a partir de 2016. Passará a ser discutido fora do clube e não mais nos corredores. Por isso a separação organizacional é importante, e precisamos avaliar o melhor formato. A eleição vai na direção do tamanho da marca. Vai ter que ser falada fora, em um espaço de visão externa, para discutir o futuro e o presente do clube.
Metas para o triênio
– Ir atrás do objetivo de 100 mil sócios, construir um CT de alto nível para o time profissional, implementar a separação das organizações de futebol e esportes olímpicos. Hoje existem diferenças importantes nas cotas de televisão do futebol, e o Fluminense só pode superar essas questões pagando a dívida, investindo em infraestrutura. Temos que nos basear em dois pontos: supereficiência na gestão do futebol e fortalecimento da relação e do projeto com a Unimed.
Erros e acertos da gestão Peter
– Prefiro fazer uma avaliação do conjunto da obra. O Fluminense que eu conheci mudou completamente a sua mentalidade, acabou com privilégios, com o espírito clientelista que existia na política do clube, com gratuidade de estacionamento, com farra de ingressos. Tivemos 61 jogadores contratados na Série B, perda de atletas por falta de recolhimento de impostos algumas vezes, demos jogador para pagar salários atrasados. Essa cultura de empurrar com a barriga o futuro e não construir infraestrutura nova, ser um clube fechado socialmente, acabou. Quando eu assumi, eram quatro mil sócios pagantes e três mil não pagantes. Estava quase igual. Como você presta um serviço no qual metade dos seus clientes não pagam? Como você gerencia esse custo? Hoje, temos 12 mil sócios efetivos, totalizando 27 mil sócios. São os mesmos três mil não pagantes e outros 24 mil pagantes. A receita das mensalidades cresceu cinco vezes, o que está nos permitindo criar o futuro, pagar dívidas, acreditar que o Fluminense tem um futuro muito grande. Isso nós fizemos com muito pouco recurso investido em divulgação.
– Com mais capacidade de investimento, vamos poder lutar pelos 100 mil sócios, o que vai representar uma grande autonomia do ponto de vista financeiro. O futebol do Fluminense dá um enorme valor à marca que o clube tem hoje. Por isso é fundamental a participação dos torcedores como sócios, cobrando e votando. O maior legado desses três anos é a mudança de postura, de respeito, ter enfrentado a situação difícil com a procuradoria com dignidade e postura, e estar hoje obtendo o resultado disso. Ter enfrentado as dificuldades da negociação com o Maracanã, e depois a própria imprensa e a torcida terem percebido a qualidade do contrato assinado. A diminuição do déficit. Agora vemos futuro, vemos que o Fluminense está crescendo. Com mais três anos eu não tenho dúvida de que vamos turbinar esse crescimento e ao lado da Unimed vamos trabalhar duro para ter resultados. Temos hoje 21 jogadores emprestados pelo mundo entre 18 e 23 anos, alguns já com propostas. Não desperdiçamos jogadores. Em 2012, faturamos R$ 51 milhões com vendas. Nos pontos negativos, eu diria que enfrentamos dificuldades que foram impostas no passado. Mas antes o clube era subserviente, não enfrentava as situações de cabeça erguida. Agora enfrentamos tudo sem medo de encarar e sem medo de superar. O ponto fraco é a dívida que nós herdamos, a falta de infraestrutura que recebemos. Esse foi o grande problema. Se tivéssemos recebido o Flu como hoje um presidente recebe um Cruzeiro, um Atlético-PR, com poucas dívidas e muita infraestrutura, digo que poderíamos ter feito infinitamente mais coisas. Seríamos um dos clubes mais modernos do Brasil e do mundo.
Por que o sócio deve votar em você?
– Acho que nesses três anos a gente fez muita coisa. O clube evoluiu, cresceu. Sonhos antigos como o Sócio Futebol nos passaram de 4 mil sócios pagantes para 24 mil sócios pagantes. Batalhamos tanto o terreno no novo coração do Rio de Janeiro, que é aquela área do autódromo, uma área supervalorizada de 40 mil metros que vai nos permitir a construção de um dos CTs mais modernos do Brasil. Investimos na infraestrutra do clube, evoluiu muito Xerém, o parque aquático, o tiro indoor, o parquinho foi reformado, a infra antiquada das Laranjeiras foi melhorada significativamente, a qualidade do ambiente de trabalho de todos. O Fluminense assumiu um lugar fixo na arquibancada do Maracanã, o lado é nosso, o estádio é a nossa casa de fato, temos um contrato importante, diminuímos o déficit de R$ 42 milhões para o superávit em 2013, e o Flu não pode parar. Temos que ser essa máquina de crescimento e tenho certeza de que em mais três anos o céu é o limite.