Não teve medo. O Fluminense entrou em campo, na última quinta-feira, diante do favorito River Plate (ARG), sem temer. Respeitando o adversário, a equipe se impôs, no segundo tempo, e por muito pouco não conseguiu a virada. A partida, que terminou em 1 a 1, foi analisada pelo comentarista e jornalista do GE, Carlos Eduardo Mansur.
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Há oito anos, o Fluminense que jogava a Libertadores era o campeão brasileiro, com um elenco caro sustentado por uma patrocinadora agressiva no mercado. Hoje, de volta ao torneio, a realidade é outra. Diante dela, estrear contra um dos times mais bem-sucedidos na história recente do futebol sul-americano era uma chance de o tricolor medir a si próprio, entender seu atual estágio. Saiu do Maracanã com um ponto e com a estimulante sensação de que será possível competir num grupo difícil nesta etapa do torneio.
Se jogar bem é executar sua ideia com correção e eficácia, os últimos 30 minutos de jogo foram o período em que as coisas correram exatamente como o Fluminense queria. E, neste período, o time teve chances mais claras do que o River, ainda que os argentinos tivessem controlado o jogo por mais tempo, embora sem finalizar tanto. O 1 a 1 pareceu fiel à história da partida, mas o nítido é que o tricolor esteve à altura do jogo.
O que não impede notar que Roger e o Fluminense saem do Maracanã com um dever de casa por fazer. Não é pecado algum ter planos mais conservadores em jogos desafiadores como o de quinta-feira. Mas, em especial quando a ideia é marcar com eficiência para buscar o contragolpe, apostando em dois homens que combinam juventude e velocidade pelos lados, talvez a formação inicial torne a execução bem difícil. O Fluminense segue convivendo com o desafio de ser um time equilibrado entre ataque e defesa.
Com Fred e Nenê à frente e defendendo-se num 4-4-2, o tricolor tem dificuldades de pressionar mais à frente. Além disso, a pouca participação dos dois em ações defensivas provoca um efeito dominó: o time passa a marcar muito perto de sua área e depende demais da recomposição de Kayky e Luiz Henrique pelos lados, justamente os dois jovens capazes de levar o time à frente. Quando retoma a bola, ambos têm campo demais para correr e o resultado é um Fluminense que demora a conseguir sair de trás. Ou seja, o esforço defensivo minava a capacidade de agredir do outro lado do campo. Ainda assim, Luiz Henrique foi o destaque na primeira etapa.
Diante do River Plate, para piorar, a facilidade oferecida para os argentinos saírem jogando fazia Yago e, principalmente Martinelli, se adiantarem para pressionar. O time se descoordenava e oferecia muitos espaços entre as linhas para Borré e De la Cruz. Por cerca de 60 minutos, o River Plate controlava a bola e ganhava quase todos os rebotes sempre que tentava passes mais longos, mais profundos. O jogo passava tempo demais nas imediações da área tricolor, ainda que o River usasse a bola mais como instrumento de controle do que como meio para criar muitas chances. O mérito da linha defensiva do Fluminense era impedia o rival, que chegava à área com poucos homens, de finalizar. Ainda assim, o jogo era mais conveniente para os visitantes, que haviam construído uma vantagem graças ao pênalti tolo de Marcos Felipe.
A situação muda com as substituições de Roger após 57 minutos. Cazares é talentoso, embora sua carreira seja marcada pelo eterno duelo entre a técnica e a mente, entre o potencial e a falta de regularidade. O fato é que substituiu um Nenê que, em jogos como este, dá pouca opção para ligar contragolpes. Além de mais móvel, Cazares faz a bola andar mais rapidamente. Deu o passe para o gol de Fred, outro para Lucca ser derrubado na área e, acima de tudo, posicionava-se bem para o contra-ataque, preocupando um River Plate que mudara de sistema tático e já não recuperava a bola com tanta facilidade após perdê-la no campo de ataque.