Em sua estreia no comando técnico do Fluminense, Roger Machado mostrou “estrela” e começou com o pé direito. Vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo, com direito a golaço de Igor Julião, deslocado da lateral para o meio pelo treinador.
Em entrevista coletiva logo após a partida, Roger analisou a atuação do Time de Guerreiros, projetou o futuro e comentou também sobre a possibilidade da contratação de mais reforços para o clube verde, branco e grená.
Confira, na íntegra:
Profissionais x time de garotos
– Muito embora o Fluminense fosse uma equipe com jogadores mais experientes, de mais rodagem, eles também precisam de maior entrosamento para que consiga render bem. Embora esse time fosse mais experiente, nós tivemos quatro dias de treinamento para colocar em prática no jogo contra uma equipe mais jovem, é verdade, mas muito bem treinada, com seus mecanismos muito bem estabelecidos. A prova é de que eles conseguiram, inúmeras vezes, quando entraram no nosso campo, nos pressionar mais alto, chegar em jogadas dentro da características de linha de fundo.
Resultado injusto?
– No futebol sabemos que não existe resultado injusto. Vence aquele que consegue, dentro dos 90 minutos, finalizar as oportunidades que criou. A gente finalizou com um belo chute de longa distância do Igor (Julião), em uma posição que ele também consegue fazer mais à frente. Foi importante vencer na estreia. Jogo tenso também para o treinador que está chegando e fazendo suas observações para que a gente consiga ajustar as questões todas para o andamento do campeonato.
Experimentos
– Preciso conhecer os atletas dentro do campo nas principais virtudes e características. Optei como estratégia desse jogo buscar uma equipe equilibrada, mas que pudesse ter velocidade nos contra-ataques. O fato de não ter conseguido encaixar o timing da marcação, sobretudo no primeiro tempo, com as amplitudes do Flamengo, que é uma equipe muito bem treinada pelo Maurício, fizeram com que a gente, quando retomasse a bola, não conseguisse conectar os jogadores de mais velocidade à frente, com a figura do Ganso fazendo essa conexão com os atacantes. Sofremos com o volume de jogo do Flamengo, porém, dentro da área conseguimos defender bem a nossa meta.
Jogos com Ailton
– Os dois primeiros jogos foram distintos. No primeiro, embora tenhamos saído derrotados, tivemos um volume de jogo muito grande, criamos muitas oportunidades, mas quem conclui e finaliza as oportunidades criadas é que vence a partida. No segundo jogo, de um nível mais baixo tecnicamente, em que a juventude dos atletas e a pouca experiência acabam fazendo a diferença. A ideia de trazer um time mais experiente não é para deixar de usar os meninos, mas que eles possam, assim como hoje, entrar no decorrer da partida, se for o caso, e definir a nosso favor.
Uso da base
– Porque aqueles que começaram jogando construíram e seguraram o zero no placar, sofreram quando precisou sofrer. E quando as trocas aconteceram, pelas características de jogadores mais leves que coloquei nas beiradas, trocando o Igor para a trinca de meio e colocando o Kennedy para frente, a gente conseguiu, depois de bastante tempo defendendo um pouco mais baixo, subir um pouco a marcação. Foi quando conseguimos o nosso gol.
– Essas experiências feitas e a utilização dos jogadores mais jovens vai acontecer. O que eu tenho dito para os meninos é que eles confiem na evolução porque em alguns momentos eles vão estar jogando de início, e em outros momentos vão entrar, como foi agora. Para que gradativamente se solidifiquem no profissional, possam prestar muitos serviços em favor do clube e conquistar títulos.
Volta dos titulares
– A gente vem conversando bastante a respeito disso. Quarta-feira os jogadores se reapresentam. Houve uma programação distinta que eu ainda não tinha participado, que era ter que esperar uma decisão de Copa do Brasil para trazer os jogadores na iminência de que talvez tivesse que jogar Pré-Libertadores. Trouxe os jogadores, eles trabalharam quatro ou cinco dias e novamente houve o recesso de mais 10. Na reapresentação a gente vai se deparar com as reais condições desse retorno.
– Dez dias pode ser pouco, mas era importante para que os atletas esvaziassem tudo, principalmente do ponto de vista emocional e físico. Isso a gente vai debater ainda. É certo que na reapresentação a gente avalia. O importante era que hoje, nesse momento, depois de dois resultados negativos, a gente conseguisse a vitória para não deixar o Campeonato Estadual para trás porque ele é importante para a gente. Também serve de preparação para os jogos da Libertadores, que serão no próximo mês.
Posições para buscar reforços
– A gente vem trabalhando bastante as posições com base nas características. Por exemplo, jogadores de beiradas que nós temos são jogadores hábeis e rápidos na condução de bola. Imagino que a gente precise de um jogador que tenha a velocidade como virtude para que em alguns momentos que você precisa empurrar a linha defensiva para trás e criar espaço num jogo que você está defendendo mais do que o necessário, muitas vezes por estratégia, outras pela imposição do jogo do adversário.
– Eu não gostaria de falar em outras posições porque ainda estou fazendo essas avaliações do elenco e dos meninos. Se a gente somar os elencos do principal e do sub-23, estamos perto de 50 jogadores. A partir desse número a gente vai filtrando e conversando com a diretoria para reforçar. Se não agora, em médio e longo prazo. Time grande está sempre à procura de reforços. O que eu digo para os atletas é: “A bola demora três segundos para entrar no gol. Quando eu der cinco minutos me compra mais cinco que coloco em campo novamente.” Assim vou avaliando o grupo e vendo onde precisa reforçar.
Carioca como laboratório
– Não vejo o Carioca como laboratório, vejo como um campeonato muito importante que queremos também vencê-lo e como importante estágio para as competições que a gente tem no ano. E a mais imediata delas é a Libertadores. Então não é um laboratório para mim, mas sim um campo de observação. Todas as observações feitas no dia do jogo e nos treinamentos vão me ajudar a tomar algumas definições em relação à elenco.
Preparado para críticas?
– Faz parte da profissão, não imagino passar o período que eu passe no clube sem ser questionado com relação à resultados e atuações, isso faz parte. Não tenho receio nenhum. Também tenho minhas histórias em outros lugares e isso não me fez abrir mão de trabalhar como treinador pensando nas críticas que viriam com os insucessos. Faz parte. Assim como eu serei muito elogiado, também serei cobrado pelo peso de ter feito história no clube.
Jogadores pediram para voltar antes?
– Pode ser que o dia mais quente, o recesso que tinha tido anteriormente junto com a semana de treinos possa ter carregado um pouco mais a questão física porque a semana foi forte. Mas não foi só isso. Do ponto de vista tático a gente não conseguia encontrar o timing na marcação e o Flamengo conseguiu jogar. Sobre a programação atípica que tivemos que fazer, voltando de quatro dias de recesso porque estava na iminência de disputar a Pré-Libertadores, alguns atletas tinham manifestado para mim o desejo de permanecer para jogar o Estadual se fosse necessário.
– Nosso planejamento foi feito para que a gente jogasse os primeiros três jogos com o time Sub-23 comandado pelo Aílton. Porém, os resultados que não foram que a gente esperava ocasionou a necessidade de a gente fazer essa alteração. Houve uma convocação partindo também de alguns atletas que manifestaram interesse em poder jogar mais minutos já que haviam jogado menos no ano anterior. Isso veio a calhar justamente porque a gente precisava dar uma reforçada para ter os meninos como opção, como aconteceu. E eu pude fazer minhas análises com relação ao meu grupo também.
Igor Julião no meio
– Como no primeiro tempo a gente não tinha conseguido encaixar tendo um 4-4-2 à frente, e o meio campo não conseguiu organizar o mecanismo de marcação da frente para trás, abrindo o tripé eu consigo preencher meu meio e começo a atacar o adversário do meu campo para o campo do adversário, em vez de ser do ataque para a defesa. Isso deu um equilíbrio e preenchimento de meio melhor, e a gente conseguiu controlar melhor aquele setor. E a ideia de trazer o Igor para dentro é justamente por ele ter essa destreza em um campo mais congestionado, e a gente conseguir ainda, com a força de encurtamento e de pressão do meio para as beiradas, aumentar a pressão naqueles 20 minutos finais de jogo. Funcionou bem.
– É um pouco de sorte de principiante também (risos) porque a gente teve pouco tempo para treinar, mas a experiência como treinador vai nos dando alguma capacidade de entender algumas coisas que mesmo com pouco treino, determinado jogador tem características que possam ser usadas naquela função. Não sei se isso vai se repetir outras vezes, mas o certo é que funcionou bem. Hoje funcionou, tem dias que não vai funcionar porque o adversário vai conseguir encontrar outras soluções na partida.