(Foto: Mailson Santana - FFC)

A evolução do Fluminense do 2° tempo da partida contra o Internacional até 19:14h de ontem era clara. Fazendo muitas alterações que boa parte da torcida/analistas pedia desde a retomada do futebol, o tricolor das Laranjeiras vinha conseguindo, pela primeira vez no ano, aliar bons resultados com atuações satisfatórias contra oponentes de bom nível em sequência.

Com Yuri suspenso após tomar um cartão amarelo contra o Vasco, Odair tinha que provar que estava vendo o mesmo jogo que a maioria da torcida. Desconsiderando opções mais arrojadas como a entrada de Ganso ou do jovem André, o treinador tricolor tinha duas opções: optar pela manutenção do sistema de jogo (Yago) ou voltar para a sua ideia do início do ano (Hudson).

 
 
 

Independentemente da qualidade técnica, é inegável que Hudson é o volante do elenco tricolor com menos mobilidade e condição física para se encaixar no (bom) futebol praticado pelo Fluminense nas últimas 3 partidas. Mesmo estando longe de ser um craque, Yago tem mais capacidade de atacar espaços, realizar o jogo associativo e recompor do que o camisa 25 do elenco tricolor.

Hellmann apostou suas fichas em Hudson. Em menos de 40 minutos o volante tomou um cartão vermelho. Sejamos justos: além da trágica atuação do capitão escolhido por Odair, Nino foi co-autor do desastre com uma péssima atuação no 1° tempo, especialmente na jogada que antecedeu a expulsão.

Além dos dois pontos jogados no lixo, o que veio a seguir expulsou toda a confiança da torcida em ver um Fluminense praticando um futebol minimamente diferente da média desse fraco Brasileirão.

Os últimos 5 minutos do 1° tempo, já com um atleta a menos, mostraram que o Atlético-GO iria tentar assumir o controle do jogo, com linhas altas e pressionando o Fluminense nas jogadas de bola alta. Sendo assim, Odair novamente teria que escolher entre duas opções: ser pressionado e tentar simplesmente resistir a pressão ou então continuar tentando jogar, recompondo o meio e apostando nos espaços que o rubro-negro iria deixar.

A entrada de Yago seria a coisa mais óbvia a se fazer para recompor o meio. Para agregar força ofensiva e capacidade de contra-ataque Luiz Henrique e Fernando Pacheco seriam opções aceitáveis. A dúvida da torcida durante os 15 minutos do intervalo era: quem vai sair? Marcos Paulo ou Nenê? Os dois?

Como vemos na imagem acima, a decisão do treinador tricolor foi em aceitar completamente o domínio do Atlético-GO. Dentre todos os times que já tiveram um atleta expulso neste Brasileirão, o Fluminense foi a segunda equipe que mais abdicou da bola enquanto esteve com um a menos, perdendo apenas para o próprio rival goiano, que teve pífias 19% de posse de bola contra o Sport, na segunda rodada.

Com a saída de Marcos Paulo e a manutenção de Nenê na equipe, Odair optou por um 4-4-1, colocando o camisa 77 aberto na direita (de novo) e deslocando Michel Araújo, um dos melhores do 1° tempo, para a esquerda.

Com as linhas muito baixas e com essa formação o Fluminense se deparou com um de seus grandes defeitos, até mesmo durante a fase de evolução: a transição lenta. Sem nenhum escape de velocidade, a equipe de Odair se viu encurralada pelo Atlético-GO que, mesmo sem criar inúmeras chances, não deixava o Fluminense sequer flertar com uma posse de bola em zona mais avançada do campo.

Apesar de estar vivendo boa fase e tendo sido importante no 1° tempo com uma (bela) assistência, era notório que Nenê agregaria muito pouco em uma partida onde o Fluminense teria um a menos e iria se entrincheirar na entrada da área de defesa. Com nenhuma velocidade e sem nenhum jogador ofensivo para dialogar no lado direito, o veterano se limitou a receber a bola de costas e tentar cavar faltas, sem sucesso.

Além da ausência quase que total de uma saída em velocidade, o Fluminense cometeu mais um erro capital: abusar dos chutões para Evanilson brigar pelo alto com os zagueiros. Mesmo sendo um jovem de muito potencial e com muita qualidade para jogar fora da área, o camisa 99 tem como principal defeito o jogo aéreo. Até a partida de ontem, o centroavante tricolor tinha ganho apenas 3 das 32 disputas pelo alto que teve em todo o Brasileirão, um terrível aproveitamento de 9%.

Para efeitos de comparação: Michel Araújo, que já chegou a atuar no comando do ataque no Racing do Uruguai, tem um aproveitamento de 45% nas disputas pelo alto em 2020. Uma vez que iria apelar para essa estratégia arcaica, certamente seria melhor buscar o uruguaio nessas esticadas pelo alto.

Defensivamente, o excesso de jogo aéreo do Atlético-GO colocou o jovem Calegari em apuros com a dupla de centroavantes altos do adversário goiano. Com apenas 1,71m e longe de ser um especialista nas disputas pelo alto, o jovem de Xerém permitiu duas vezes finalizações de cabeça em excelentes condições para os atacantes do rubro-negro. Uma no primeiro tempo foi para fora, a segunda morreu no fundo do gol de Marcos Felipe.

Após o gol, Odair trocou todo o sistema ofensivo do Fluminense e mostrou para todos o óbvio: era sim possível ter o mínimo de ofensividade mesmo com a expulsão. Nos 10 minutos finais da partida, já com o empate no placar, o Fluminense visitou a área rival algumas vezes, ocasionando duas situações de perigo ao goleiro Jean, que fez boa intervenção em finalização de fora da área de Dodi.

Após esse banho de água fria na torcida todos voltam a se questionar: o Fluminense já atingiu o ápice da evolução com Odair? Até que ponto lesões como a de Hudson no início do Brasileirão “ajudaram” o treinador a fazer as mudanças?

Hoje ainda será difícil obter essas respostas. Vamos ver nas próximas rodadas, com todo o elenco a disposição e com mais uma sequência difícil, como Odair Hellmann vai reagir ao fracasso que foi esse embate contra o vice-lanterna do Brasileirão.

Um abraço a todos até semana que vem!