Velho conhecido da torcida tricolor, o ex-técnico Muricy Ramalho deixou sua história marcada no Fluminense. Campeão brasileiro em 2010, ele concedeu entrevista exclusiva ao portal NETFLU, onde falou acerca de sua passagem pelo clube da Laranjeiras.
Confira a entrevista completa:
De qual maneira influencia a parada do futebol para os clubes como o Fluminense, por exemplo?
- Não é bom para todos. Não só para time grande, de qualidade. É ruim para o futebol no geral, os grandes e pequenos. Os clubes da Série C e D ganham pouco e atletas quase não recebem. Essa pandemia afeta todo mundo nesse sentido.
Opinião sobre redução salarial, mesmo em casos de clubes que estão com salários atrasados de meses anteriores
- Claro que é uma coisa que virou rotina essa história de atrasos salariais. É uma rotina, mas não é correto, porque os jogadores de futebol são trabalhadores como outro qualquer. Têm seus compromissos para pagar, é claro que é ruim. O jogador não vem a público falar, mas eu sei que é ruim, o atleta não fica satisfeito de chegar no fim do mês e não ver seu salário lá. Em relação a redução de salário, acho que não dá pra reduzir se você tem salários para acertar. É isso que está pegando e acho que tem razão quem pedia para acertar o passado para depois reduzir. O importante é que tenha um bom senso, porque também parou a entrada de dinheiro. Os dois lados precisam analisar.
Você treinava o Fluminense nas Laranjeiras quando era treinador do clube. Como enxerga a chance do clube voltar a mandar alguns jogos lá durante a pandemia?
- Acho muito legal, porque vai voltar ao que era antigamente. Seria mesmo bacana. Tem razão que defende isso, porque o Maracanã já é caro com público. Sem público então é pior ainda. Parabéns a diretoria ou a quem está pensando nesta possibilidade.
Se arrepende de ter recusado a seleção quando comandava do Flu, já que não houve convite depois?
- Não. Eu fui criado de uma maneira que você tem que cumprir com os compromissos. Eu não tinha nada assinado com o Fluminense naquele momento do convite, mas tinha apalavrado que iria ficar dois anos. Seria muita irresponsabilidade se me contratam, o clube começa a atingir as primeiras colocações e no momento mais importante do campeonato, você sai. Eu queria que o Ricardo Teixeira (presidente da CBF na época) conversasse com o Fluminense, mas ele não conversou. Eu mantive a minha palavra ao patrocinador (Unimed), não foi mais do que minha obrigação de cumprir com o clube que me abriu as portas e para uma torcida que estava há 26 anos sem ver o time vencendo o Brasileiro. Era um sonho ir para a seleção, foi duro não ir, mas eu precisava ser correto.
Algumas pessoas dos bastidores disseram que na verdade você só não foi porque a CBF não quis pagar a multa do seu contrato. Isso é mentira?
- Qual multa? Não existia multa. Eu iria renovar o meu contrato ainda. O contrato era de três meses inicialmente, porque eu quis. Havia um acordo de palavra para eu ficar mais dois anos.
No ato da sua saída, teve uma coisa que ficou muito conhecida: a famosa história de que você disse que teriam ratos nas Laranjeiras. Qual foi o contexto disto?
- Foi uma grande bobagem. Eu reclamava era da estrutura do Fluminense, algo melhor do que tinha lá. Esse era o meu sonho, era real, tanto que agora o Fluminense hoje tem um CT. A gente tinha muita dificuldade para trabalhar. Agora o negócio do rato foi a imprensa que viu e filmou. Agora uma coisa que eu brigava muito era com relação a estrutura.
A queda do Alcides Antunes foi fundamental para a sua saída?
- Não só dele. De outros também. O presidente que estava entrando queria tirar todo mundo de lá, grandes trabalhadores, caras competentes. Eram pessoas da minha confiança. Isso aconteceu e isso foi um dos motivos sim da minha saída.
Como era a sua relação com presidente da Unimed e do Fluminense
- A relação era perfeita, porque os dois também se davam bem. A minha preocupação era o time. Eu não me importo com dirigente de futebol. Eu sabia separar bem as coisas. Para mim era fácil. Eu era técnico do time e eles resolviam as coisas extracampo.
Você acredita que saiu do Fluminense no momento certo, com a equipe quase eliminada da Libertadores?
- Eu não escolho o momento para sair ou não sair. Assim como falei não para a seleção, depois não gostei do que acontecia lá e resolvi sair. Tomo as minhas decisões sempre assim.
Na época, você conseguiu dar solidez defensiva ao time e transformar a dupla Gum e Leandro Euzébrio na menos vazada do Brasil. Como era trabalhar o lado coletivo e o individual?
- O futebol é coletivo. Não podia dar atenção só ao ataque. Esses dois zagueiros eram muito criticados, mas ajudaram demais o Fluminense. Era uma equipa taticamente bem postada dentro de campo, daí funciona todo mundo. E foi o que eu fiz.
Qual foi a importância de Fred e Conca?
- Foram fundamentais. Quem faz a diferença são os jogadores. O Conca jogou todos os jogos do campeonato, o Fred tinha faro de gol. Ainda tinha o Sheik, Washington. Todos jogaram bem porque estava felizes. Isso que fez a diferença de verdade.
Acredita no potencial da equipe desta temporada para beliscar, ao menos, uma vaga na Libertadores?
- Tudo pode acontecer. O problema é que parou. A gente não sabe como eles vão voltar. Tem bons jogadores, atletas experientes. Não podemos duvidar de um time gigante como o Fluminense. Mas a dúvida é com todos os clubes. A gente não sabe quando vai voltar a Copa do Brasil e o Brasileiro. O Flu tem camisa, jogadores experientes, não podemos duvidar disto.
É possível Nenê e Ganso juntos na equipe titular?
- Claro que sim. O que não é possível são dois jogadores ruins. O técnico que se vire de arrumar um lugar para ambos. O problema é quando é jogador fraco. Esses dois são muito bons. Mas é o treinador que precisa ajustar isso.
O que acha da possibilidade do retorno do Fred para o Flu?
- Isso é bom. O Fred é um ídolo. A torcida o adoro, ele é um goleador. Ele não tem mais tanta velocidade como antes, mas continua fazendo gols, dentro da área é perigosíssimo. Tem que armar um esquema para ele fazer o que sabe. Além disso é um grande profissional, um cara do bem. Eu estou torcendo por isso. Se o Flu trouxer o Fred será muito bom.
Um time com Ganso, Nenê e Fred entre os titulares não ficaria muito lento?
- Se você tem jogadores de lado e volantes com velocidade, não tem problema nenhum. Vai mesclar jogadores de velocidade com atletas mais cadenciados. Depende muito do treinador.
O Fluminense chegou a te procurar em algum momento para assumir algum cargo fora de campo?
- Nunca me procurou. Outros clubes me convidaram, mas o Fluminense nunca me convidou pra nada.
Mensagem para a torcida
- É sempre um prazer ver o Fluminense jogar. Torço pelos clubes em que trabalhei e não é diferente no Fluminense. É um clube que eu admiro, gosto e adoro ver jogar até hoje. Tomara que o Fluminense faça um bom ano.