O gerente de Arenas do Fluminense, Carlos Eduardo Moura, esclareceu dúvidas quanto ao acordo com o Consórcio Maracanã. O dirigente falou também sobre a logísitca de ingressos, planejamento e muito mais em entrevista ao site “Fim de Jogo”. Confira na íntegra:
Sabemos que muitos itens do contrato entre Fluminense e Consórcio Maracanã são confidenciais, mas quais os que estão ligados diretamente à torcida podem ser esclarecidos à torcida?
Carlos Eduardo Moura: O contrato de parceria foi montado baseado numa premissa de que não existem lados. Fluminense e Consórcio Maracanã S/A se comprometem mutuamente a transformar esse contrato num verdadeiro casamento – e todos estão se adaptando: nós (Fluminense), por não ter mais o papel braçal de operar as vendas e os acessos ao estádio, apenas supervisionar, gerar relatório e discutir mudanças para o progresso operacional da parceria.
Buscamos cláusulas que gerassem fidelização a um espaço do estádio e, a longo prazo, unificar um padrão de atendimento/hospitalidade destes torcedores, independente de setor que ocupa ou classe social. Tematizar o vestiário, o campo de jogo, buscar conteúdo de engajamento para os telões e ativações comerciais e de marketing no estádio, são todas medidas neste sentido.
Ter o poder de definir o valor dos ingressos nas arquibancadas, ter uma margem de proteção de mercado com relação aos setores mais caros (laterais) prevista em contrato e, o mais importante, uma cláusula de equilíbrio econômico caso surja um modelo de parceria melhor que o que estabelecemos (o que não acredito, baseado no atual perfil de presença nos estádios e nas projeções feitas com os dados históricos do Flu, jogando no Maracanã nos últimos quatro anos antes do fechamento para obras).
Isso tudo é importante para engajamento de torcedores para serem cidadãos do Fluminense (como sócios), ou como visitante mesmo que ocasional dos jogos no estádio.
Depois da confusão que ocorreu na bilheteria no jogo de quarta-feira, o Consórcio enviou comunicado à imprensa sobre o problema. Quem é responsável pela organização e equipe de trabalho dentro das bilheterias?
Carlos Eduardo Moura: Pelo contrato, esta tarefa cabe ao Consórcio Maracanã S/A. Mas o Fluminense não se exime de sua obrigação legal como mandante da partida, discutindo, participando e supervisionando este trabalho nas reuniões antes e após os jogos, e durante a operação (1h antes de abrir os portões até 1h após o fim da partida).
O Fluminense acompanhou o problema nas bilheterias no jogo. O que estava ao alcance do clube? Até onde pode ir para agir? Até onde vai a decisão do Fluminense e começa a do Consórcio?
Carlos Eduardo Moura: O clube acompanhou e se posicionou assim que a partida se encerrou, via nota oficial. Na hora da confusão, não tinha mais o que fazer além do que fizemos – tomamos a iniciativa de desfalcar nossos stands de captação de sócios e designar a maioria de nossos atendentes para as bilheterias de retirada de ingressos para sócios, para eliminar um foco, e deixar o Consórcio focar nas vendas gerais.
Mas acredito que a falta de estrutura de venda de ingressos nas bilheterias do estádio hoje colaborou muito para a confusão, pois é um estádio formatado para a realidade européia no plano de vendas (onde a maioria da venda é feita antecipadamente, o que ainda não é a realidade brasileira), com limitações teconológicas que obrigou a ser realizado um trabalho 100% manual nas vendas e retiradas, e não se mostrou suficiente para atender milhares de torcedores num curto espaço de tempo, como foi o caso em tela (comum nos jogos marcados para as 19:30h).
Por parte do clube com seus sócios, para o resto de jogos no mês de agosto, preferimos aumentar a antecipação das vendas e retiradas de ingressos, em horário além do comercial, além de montar pontos de retirada antecipados no Maracanã e no Engenhão também. E estamos trabalhando na divulgação do jogo da próxima quarta também, num conceito do sócio ir apenas uma vez para retirar ingressos de jogos diferentes de uma vez, tentando dar uma minima comodidade se comparada com o uso da carteira de sócio no acesso ao estádio, que deve estrear no estádio no primeiro jogo a ser realizado em setembro.
Por que as gratuidades são apenas nos setores onde o Fluminense tem faturamento? Se isso não é verdade, qual, então, é o setor que aceita gratuidade?
Carlos Eduardo Moura: A lei da gratuidade existe para ser cumprida, mas não acreditamos que a abrangência da lei seja razoável num jogo de futebol. Estamos voltando a entregar as gratuidades apenas no acesso ao estádio, e investiremos para fiscalizar isso com rigor domingo com nossos funcionários, mesmo não sendo nossa obrigação contratual, pois o modelo de retirada antecipada nos PDVs, na nossa ótica, não funcionou e só colaborou com o mercado negro.
Não há eficácia no atendimento se não houver controle rígido da documentação comprovatória desse benefício no acesso ao estádio.
Achamos por exemplo que, se alguém utiliza o ingresso de gratuidade de terceiros ao entrar no estádio, como se beneficiário fosse, deveria ser preso em flagrante, por não ser a pessoa identificada no ingresso, por falsidade ideológica. Esta lógica deveria valer também para falsificação e uso de documentação de terceiros beneficiários de meia-entrada também. Se a moralização não acompanhar a modernidade dos estádios, nada vai adiantar, e é um trabalho árduo que estamos montando junto com nossos parceiros do Consórcio, sempre dialogando e definindo em conjunto.
Já nos setores onde há arrecadação sob responsabilidade do Consórcio, sempre foi comunicado que havia disponibilidade de ingressos de gratuidade em setores que não envolvam serviço de buffet incluido.
As decisões sobre preços dos ingressos é feita de forma independente?
Carlos Eduardo Moura: Não. Definimos em conjunto, buscando sempre o consenso. Por um motivo simples: a lógica de preços num evento precisa ser única, a divisão só deve ocorrer na apuração das receitas. Cada lado entrou na parceria com uma filosofia de preços em mente, e a realidade vem indicando o sucesso da nossa linha de preços adotada há dois anos, e o Consórcio Maracanã S/A vem agora compondo mais com nosso pensamento nesta seara.
Acredito que a tendência é melhorarmos ainda mais neste sentido em médio e longo prazo, quando alcançarmos uma comunicação centralizada e única de vendas, ações e padrão de atendimento e CRM. Para isso, é fundamental que implementem o espaço de trabalho de nosso departamento de arenas no estádio, junto e interagindo constantemente com o Consórcio.
Existem reuniões entre o Fluminense e Consórcio para decisão de valores de ingressos e dinâmica de venda?
Carlos Eduardo Moura: Sim, sempre. Por exemplo, já nos reunimos, visando a operação nos jogos do dia 11 e 14. No inicio da semana que vem, a tendência é fecharmos o jogo de ida da Copa do Brasil, e assim vai.
A partir de tudo o que está acontecendo, de que forma o Fluminense está lidando com a questão?
Carlos Eduardo Moura: Muito bem. Nossa atual gestão, que se encerra no fim deste ano, sempre primou por empreender uma lógica de bom atendimento e engajamento nos estádios, seja no RJ ou fora, seja como mandante ou visitante, e com a busca de inovações nas formas de venda de ingressos, mesmo com a limitação de não termos um estádio nosso pros jogos do Flu em 2011, 2012 e inicio de 2013.
Com a parceria com o Consórcio para o Maracanã ser a nossa casa nos próximos 35 anos, a tendência é evoluirmos ainda mais com o tempo, e no fim do ano ou seguirmos o projeto com a reeleição do presidente, ou deixar o melhor legado possível nesta área, criada e incentivada pelo presidente desde o primeiro dia de mandato, para possíveis sucessores, independente da corrente política.