É evidente que a escolha do Marcão para comandar o frágil time do Fluminense foi uma decisão de alto risco. Justificada pela ausência de bons nomes no mercado e situação financeira calamitosa? Talvez tenha gente que diga que sim. Eu acho que o maior risco que corremos é ter que lidar com a praticamente irreversível realidade de queda.
Amigos, o futebol mudou. E muda todo dia em projeção geométrica. Os canalhas que pensam a divisão dos investimentos entre os clubes do futebol brasileiro querem saber de tudo, menos do equilíbrio entre as equipes. Morre a competitividade e com ela o espírito esportivo que embalou gerações de torcedores Brasil afora.
Poucos jogos foram tão sintomáticos – e tristes – quanto o Fla x Flu jogado no último domingo.
Nasci na década de 70 e cansei de ver meu Fluminense competir de igual pra igual contra qualquer adversário. Flamengo, Corinthians, Real Madrid, Boca e qualquer outro gigante em que pensarmos. Mas e hoje? Hoje, amigos, nossa realidade é de sobrevivência. Respiramos por aparelhos, perdidos na selva densa da falta de alternativas. Vendemos o almoço para pagar o jantar. Jovens são formados e vendidos a preço de banana para pegar salários de atletas medíocres que usam nossa camisa como vitrine. Dívidas e mais dívidas se amontoam na contabilidade das Laranjeiras, em geral tratadas por profissionais com contratos absurdamente caros pro que entregam. Anos de inação, de incompetência, de barbárie administrativa cometidas com nosso outrora clube exemplo de gestão.
O torcedor do Fluminense parece ter atravessado em sua garganta uma farpa que impede a respiração. Fazemos um esforço tremendo para puxar o ar, mas logo ele nos falta e ficamos naquela constante sensação de que não dá para seguir assim. Muitos já desistiram, outros ainda resistem, mas a verdade é que o cenário de uma cama de UTI é desolador.
Não caiam na esparrela de que somos um gigante, que, num átimo daremos a volta por cima na força de nossa camisa. Isso já valeu, hoje não vale mais. Lutamos contra o sistema, e o sistema quer asfixiar os clubes que não foram escolhidos num perverso jogo de espanholização que visa a beneficiar os clubes de massa, como se futebol fosse a hegemonia das pesquisas de opinião. Não é. Ao menos em conceito não é. Mas está se encaminhando para isso. Pasteurizado, degolado em sua essência, provavelmente seguirá a nova era na qual o mercado importa mais que o gol. É projeto.
Ou o Fluminense dá um cavalo de pau ou as gerações de nossos filhos serão obrigadas a ouvir nossas histórias fumegando de saudosismo.
Essa guinada pressupõe aceitarmos necessárias ações fatiadas no tempo. Há o longo prazo, há o médio prazo, o curto prazo e o agora.
Nosso Fluminense agoniza enquanto sua política paroquial manda e desmanda no Salão Nobre. A quantidade de vagabundos e mal intencionados só não é maior que o número de incompetentes que conseguiram se imiscuir na vida do clube, ora para ter uma pequena benesse aqui, ora para manter um emprego ali, ora para acarinhar egos de despreparados que orgulham-se de títulos e posições para “ajudar” o clube a se perder de sua história.
Dizem que a Flusócio foi um câncer no clube. Eu não sei se foi. Câncer às vezes tem cura e eu, honestamente, não sei se nós temos. Na minha visão a Flusócio foi um caminhão cegonha vindo a 140 por hora e pegando nossa história de frente. Mas não foi só ela e não é justo culpá-la por todos os males. Horcades antes, grupelhos políticos recheados de ineptos desde sempre, sujeitos despreparados que jamais empreenderam nada na vida (e que nunca vestirão as carapuças porque não se reconhecem limitados) insistiram, insistem e insistirão na tese de que o toma lá da cá da política canhestra é suficiente para colocar as coisas em ordem.
Há pouco mais de três meses temos um novo presidente. Seria de uma canalhice sem precedentes julgá-lo neste período, tendo assumido um clube já no coma profundo. Precisamos aguardar que Mário teremos quando – e se! – sairmos dessa situação de risco de rebaixamento. Mas honestamente não vejo ações consistentes de longo e médio prazo em curso. Talvez ele não as tenha, talvez as tenha e não possa sequer divulgá-las. No olho do furacão a gente só pensa em sobreviver.
Agora, as ações imediatas precisam ser mais bem planejadas. E aí eu volto ao Marcão.
A verdade é que o Fluminense pontuou bastante com o Marcão. Mas muito mais que merecia. O jogo contra o Cruzeiro resultou num total de ZERO chute a gol, o contra o Bahia foi extremamente enganoso e a partida contra o Flamengo foi de fazer qualquer tricolor pedir a ajuda de Deus.
Faltam 11 rodadas para o fim do campeonato. Estamos na rabeira. Nossa tabela é difícil pra cacete (vocês já viram?). O Fluminense precisa de organização, de modelo, ainda que seja elaborado às pressas. Só na base da camaradagem, da motivação, aí meus amigos, não vai dar, não.
Marcão ficou o jogo todo na beira do campo passando – ou tentando passar – entusiasmo aos jogadores. Legal? Legal. Mas absolutamente insuficiente.
Essa porcaria de time precisa ter raça (tem tido), mas precisa saber o que fazer dentro de campo.
Marcão sabe armar um time? Honestamente, você acha que sim? O Mário acha que sim?
O Flamengo parecia jogar com as mãos enquanto o Fluminense parecia jogar vendado. Pela primeira vez na vida senti alívio por perder de pouco. Isso não é nem razoável, nem aceitável.
É uma vergonha.
A visão tática de nosso “treinador” é nenhuma. Talvez pressionado por uma parcela idiotizada de nossa torcida, barrou um menino talentoso para colocar o Nem que, noves fora ser tricolor, já é um ex-jogador: não dribla, não marca e quando finaliza não acerta uma no gol.
Ganso e Nenê. Será que o Marcão será o homem a barrar um dos dois? Tem estofo pra isso? É possível um time jogar com Ganso, Nenê e Nem e ser competitivo?
Vou receber um caminhão de pedras na testa, mas não barraria o Ganso. Como treinador eu tentaria viabilizar sua melhor participação nas partidas. Mas, meu Deus, como falso 9? Contra o melhor time da América do Sul no momento? Que bizarrice é essa?
O Fluminense de hoje não pode prescindir de duas coisas: competitividade e uso dos poucos talentos que tem. Para isso, tem que entender que não pode dar espaços como vem dando e que precisa urgentemente tomar opções corretas quando tem a bola.
Nada disso está acontecendo. Ganso pega a pelota e não dá para trás porque quer. Ou é maluco? Nenê pega a bola e como não tem condições de passá-la espera a falta em praticamente todo lance. Nas poucas vezes que os laterais conseguem se projetar no fundo, não tem ninguém para finalizar as jogadas.
E não basta o treinador ficar batendo palmas como uma foca amestrada na beirada do campo.
Ou dá?
Ou enlouqueci e perdi a aula sobre os benefícios do “vamo lá” para um time na beira do precipício?
Se o papo for esse vamos chamar o Lair Ribeiro e cancelar os treinos no CT. Alugamos uma sala de hotel e enfiamos esses coaches pilantras dizendo que o Lucão tem que mirar nas estrelas.
O Lucão. Vou parar.
O papo é o seguinte: vencer o time da Chapecoense. Dar mais uma respirada antes da farpa inviabilizar a próxima. Que merda, mas é isso.
Muriel; Gilberto, Frazan (nada de Digão), Nino e Caio Henrique; Allan, Daniel (neste jogo, nos mais difíceis Yuri), Ganso e Marcos Paulo (como meia, enganche), Colômbia e João Pedro.
Isso dentro de campo. Fora dele, cabe ao Mário investir tudo para que o torcedor apoie essa galera.
O Botafogo na última partida liberou entrada gratuita para as mulheres em todos os setores. Cabem setenta mil no Maracanã. Já passou da hora de ser mais agressivo.
A segunda divisão seria nossa morte cerebral.
Qualquer coisa fora disso, perdoem-me pelo azedume, me soa como devaneio, quase loucura.
Até sábado. Temos que ir. Temos que ir. Temos que ir.
Se morrermos enquanto torcida o Fluminense morre à reboque.
Pensem nisso, por favor.