O Fluminense deu o total de zero chute a gol na partida da última quarta contra o Cruzeiro. Era o Fábio, mas – sei lá – se fosse o Horcades no gol, ele também sairia com o uniforme completamente limpo.

Então eu estou puto, chateado com o que vi? Acho normal que essa pergunta ocorra na cabeça do leitor. Não, ao contrário. Acabou a partida, coração ainda acelerado, e eu fui comemorar abrindo uma cerveja e acendendo um cigarro na varanda. Alívio em sua essência.

 
 
 

A busca é pela sobrevivência. Pelo coração continuar batendo. A busca é para continuar ali, no leito, acordado, sem voltar para o coma na UTI.

É pouco, quase nada, mas o Fluminense hoje é isso: um gigante que apenas sobrevive. E na boa? Se olharmos para trás, vamos perceber que já estamos nessa há vários anos. Na verdade, depois de 2012 e da participação do clube na Libertadores de 2013, tivemos apenas espasmos de grandeza, como se alguém entrasse no quarto do hospital e contasse uma história de quando éramos imbatíveis. Suspiramos, lembramos da história de glórias e, logo depois, nos damos conta de novo que a briga é sempre lá embaixo. Não pela glória, mas pela sobrevivência.

Anos de descalabro administrativo com pangarés travestidos de puro-sangue. Anos de idiotas assinando pelo clube e sendo aplaudidos pelo séquito de analfabetos funcionais que vociferavam pelas redes sociais e que hoje sequer têm coragem de frequentar os estádios.

Malditos.

Mário ainda não trouxe a virada. Oxalá que a traga. Pouco mais de três meses na frente do clube. Covardia cobrar, mas olhos atentos. Falta muito. Uma estratosfera separa o Fluminense de hoje do Fluminense que bate em nossos peitos.

Eu dizia que o time não deu um chute no gol em mais de 100 minutos de futebol. E que comemorei. Eu estou louco, flanando pelas ruas da cidade pensando na pontuação para chegar na Sul-Americana do ano que vem. O Fluminense altera meu curso cognitivo. Zero chute a gol.

No banco um não treinador que tem acertado mais que os treinadores anteriores. Marcão faz da beira do campo o que fazia quando jogava: o fácil. Passe pro lado e recomposição para roubar a próxima bola. Erra pouco e mantém o time compacto.

Num futebol no qual quase metade dos times estão na ala crônica do mesmo hospital, não errar é um puta acerto. Cervejas e cigarros. Mais um dia. Que o coma acometa os outros.

Zero chute a gol.

Dodi entrou bem. Talvez tenha sido o melhor em campo nos minutos que jogou. Mel está comendo urso.

Nenê não encaixou um bom passe. Ganso – meu Deus, que desperdício – não tentou aprofundar uma jogada. Os laterais não ultrapassaram uma vez. E os meias não chegaram, não encostaram nos atacantes.

O Fluminense sobrevive com os caras mordendo ali atrás, dando susto atrás de susto em algumas saídas de bola e bicudas no estilo “salve-se quem puder” quando o troço aperta.

São 11 Marcãos dentro do campo.

É melhor que 11 Oswaldos? É. Mas e daí? Grande merda.

Zero chute a gol e nosso maior rival a ponto de abrir oito pontos de vantagem no campeonato e a um jogo da final da Libertadores.

Não tem nada a ver?

Se você realmente acha isso, amigo, está na hora de pensar em desligar os aparelhos.

O Fluminense que bate em nosso peito é o maior do mundo. Não está entre os maiores. É o maior.

Qualquer coisa que não seja voltar a ganhar campeonatos, ganhar a América e depois o mundo não nos interessa.

Zero chute a gol. E eu feliz da vida ao final da partida.

Estamos respirando. Ufa!

Zero chute a gol e alegria no apito final.

Tem muita coisa fora da ordem.

Respira. Inspira. Solta. Respira. Pelo nariz. Isso.

Volta, Fluminense! Nunca te pedi nada.