Em sua última passagem pelo Fluminense, o técnico Abel Braga passou por um trauma que nenhum pai gostaria de passar: a perda de um filho. Na ocasião, após o acidente, o Tricolor deu todo o apoio ao seu treinador, bem como os atletas do elenco. Em entrevista, o ex-comandante do Time de Guerreiros lembrou a postura do clube e se emocionou ao recordar das homenagens que recebeu.

– Se eu tivesse outra carreira, eu não sei se ia segurar a onda. Eu lembro muito bem. Teria uma festa de 15 anos no salão nobre do Fluminense, e o presidente Pedro Abad cancelou para que o corpo fosse velado lá. Sou grato até hoje por isso. No dia seguinte, dia do enterro, ele me falou: “Não se preocupa com treino, jogo, nada. Vai lá quando puder, quando quiser.” Eu falei: “Não, presidente, vou lá amanhã.” Ali eu não iria fazer nada pelo futebol: o futebol iria fazer por mim. Quando aconteceu, fazia 49 anos que eu estava no futebol. Houve uma corrente no meio do campo na hora do treinamento. Os caras foram impecáveis. Falou o Gum, falou o Henrique. E aquilo… Eu falei: “O Pedro está aqui.” A saudade não sai nunca mais. Mas aqueles caras amenizaram alguma coisa. No dia seguinte, voltei a dar treino, mas não viajei com a equipe pro Recife. Viajei no dia do jogo. Sempre fui ao Recife jogar contra o Sport, trabalhei duas vezes no Santa Cruz, fomos bicampeões pernambucanos, e a torcida do Sport não gosta de mim de jeito nenhum. E, cara, aqueles caras me prestaram uma homenagem… O Luxemburgo era o treinador. Levantou do banco, veio, me tirou do meu banco, nos postamos juntos no hino nacional, e o que a torcida fez foi fantástico. A coisa mais incrível que vi na vida foi aquele minuto de silêncio da torcida do Fluminense. E, para coroar, ainda houve aquele abraço coletivo dos jogadores do Santos. A dor não diminuiu e não vai diminuir nunca – desabafou ele.