Fernando Diniz é o atual comandante do Fluminense (Foto: Lucas Merçon - FFC)

O segundo gol do Atlético botou gasolina numa discussão que tende a ser interminável dentro de nossa torcida. Aspas para o que entendo ser um bom resumo do imaginário de nosso torcedor: “O Fluminense vai pro buraco se continuar insistindo nesse modelo”.

Ok. Mas que modelo? Do que estamos falando?

 
 
 

Nós temos a tendência de escolher imagens, reduções, para vaticinar alguma coisa. É o famoso “assim não vai dar”. Acho um erro. E acho que é nosso dever ampliar as análises para além de frames das transmissões.

A verdade – amparada pelos fatos – é que o Fluminense sofreu pouquíssimos gols em razão de tentar deter a posse da bola que é, em síntese, o jeito Diniz de pensar futebol. É para ter a bola que ele escala um meio com três jogadores que a tratam bem, é para ter a bola que ele opta por não escalar botinudos distribuindo pontapés na entrada da nossa área. E para ter a bola ele prefere tentar construir as jogadas desde o campo de defesa, assumindo os riscos das naturais marcações altas que enfrentamos.

Tomar gols eventualmente por conta de erros como o do Nenê me parece estar no pacote. Ações corajosas ensejam riscos maiores.

A questão é tentar sair da primeira análise, sair da imagem óbvia.

Temos a bola, mantemos a bola, mas isso está valendo a pena?

Não. Não está. E não é pelo aspecto defensivo. É natural que o Fluminense tome mais gols jogando assim. A questão é que não estamos sendo incisivos com ela.

O Fluminense do Diniz parece um pouco aquele vendedor que te encanta meia hora mas que não consegue fechar a venda porque na hora de negociar o preço mantém a cintura dura.

O Fluminense do Diniz tem uma proposta clara de jogo, mas que cada vez se materializa menos porque a cada dia mostra menos variações.

Nosso ataque ainda é extremamente estático para quem tem que se movimentar para receber a bola que quase sempre está na posse do time.

Nosso meio é paciente, gira o jogo, volta, vira pro outro lado, para depois virar de novo. Pouco infiltra, pouco se apresenta na área, pouco arrisca de longe.

Nossa defesa carece de jogadores de melhor nível e não dá para esperar da zaga e dos laterais jogadas insinuantes com o uso de elementos surpresa, o que caberia como uma luva no modo de jogar da equipe.

Eu quero a bola. Prefiro que ela esteja comigo. É um futebol bem bacana e acho que nosso treinador está certo nisso. Cai Diniz e vamos nós de Celsos Roths da vida, naquele bundalelê por uma bola jogo sim, jogo também.

Mas já passou da hora do Diniz entender que pra ficar com a moça mais bonita da festa às vezes não basta manter o bom papo a noite toda.

Ok. Precisamos de variações. Quais? Quem tem que responder é o treinador. É pago para isso. Mas alguns pitacos a gente pode dar.

Mais gente no meio de campo me parece uma estratégia interessante. Povoar a meiuca faria com que perdêssemos menos a bola e atrapalhássemos mais a marcação dos adversários, confortáveis com dois caras abertos e um centroavante de referência. Os sistemas defensivos dos adversários precisam ser confundidos. Ninguém passa, ninguém ultrapassa, ninguém flutua ou muda de posição nesse nosso Fluminense.

Trazer o Marcos Paulo para a ponta de lança talvez seja algo interessante. Tem penetração, sabe carregar a bola de trás e tem a vitalidade para finalizar que falta ao Ganso e ao Daniel. Aliás, sobre o Ganso, com um time com mais ultrapassagens dos laterais (algo que só ocorre com movimentação e troca de posições ofensivas) ele teria mais condições de acertar os passes e de tentar verticalizar as jogadas, ponto que chega a irritar nesse Fluminense de toques pro lado.

Mas o mais importante – mais importante até mesmo que mudanças de ordem tática – é a flexibilização do modelo. E por dois motivos:

Primeiro porque qualquer rigidez é facilmente diagnosticada e neutralizada. O Fluminense está manjado.

Segundo porque mais bacana do que ter um esquema de jogo encantador é ter a faculdade de usar um esquema encantador quando for necessário. Essa é a sacada que eu acho que o Diniz ainda não teve na carreira. Vai ter jogo que o futebol envolvente não vai entrar. Não há só o Fluminense de time grande. Do outro lado às vezes tem um gigante cheio de recursos. Em outras palavras: é muita pretensão, num futebol como o brasileiro, achar que o esquema vai sempre ser decisivo. Não vai. Há nivelamento na maioria das vezes e há times com muito mais recursos técnicos em alguns momentos.

Dá para jogar diferente sem ser sempre pela segunda bola? Dá para montar estratégia de posse de bola consciente mais vertical? Dá para eventualmente montar o time para sair com rapidez em contra ataques?

Acho que vocês podem responder.

Nosso elenco é meio de tabela para cima. Sou fã da coragem do Diniz e quero pra cacete que ele siga no comando do clube.

Mas a torcida tá pedindo pra discutir a relação. “DR” da qual não vai ter como ele fugir.

Diniz vai aprender com o tempo que a beleza do jogo está em usar os conceitos mais corajosos quando eles fizerem sentido. Na vida é mais ou menos assim, né?

A insistência meio cega não funciona quase nunca, em quase nada.

Torço para que ele reflita sobre sua própria carreira ainda no comando do Fluminense. Dá para conciliar beleza e pragmatismo; coragem e eficiência.

Abraços tricolores!

CURTA

– Dois meses de Mário no comando. Qualquer análise, pro bem ou pro mal, é precipitada. Chegou com outro pulso, bancou situações que eram para ser bancadas e, na outra mão, repetiu velhas práticas que nos causam apreensão. Se por um lado é importante que a gente dê tempo para que ele possa driblar as mazelas dos anos de chumbo da Flusócio, por outro é importante que ele saiba que o tempo no Fluminense corre diferente. Estou ansioso para ver se suas promessas sobre a relação com a torcida vão se materializar. São tão fundamentais quanto o que acontece dentro de campo. Nossa arquibancada ainda está em estado de abandono. Vamos esperar. E cobrar.

– Sequência fundamental pro Fluminense no Brasileiro. Tem que pontuar forte. Mas minha cabeça está no título da Sul-Americana. Estarei lá em São Paulo, como estive em Montevidéu. Que o Diniz jogue com inteligência – INTELIGÊNCIA! – na arena. O time dos caras é mais acertado que o nosso, mas podemos passar porque podemos bater de frente e decidir em casa.