(Foto: Photocamera)

Campeão brasileiro em 2010 com o Fluminense como titular da equipe, Ricardo Berna marcou seu nome na história do Tricolor sendo o único atleta campeão nacional pelo clube três vezes (Copa do Brasil 2007 e Brasileirão 2012, esses como reserva, além do já citado Brasileirão 2010). Em entrevista exclusiva ao NETFLU, o ex-goleiro analisou a situação dos atuais da posição: Rodolfo, Agenor e Muriel e falou sobre o momento do clube no Brasileirão e na Copa Sul-Americana. Confira, na íntegra, a entrevista com o ex-atleta:

NF: O peso da camisa tricolor pode interferir no desempenho dos goleiros, que vem sendo criticado desde o início da temporada?

 
 
 

Berna: O Tricolor tem muita história debaixo das traves. Assim sendo, faz toda a diferença. O Fluminense teve grandes goleiros ao logo do tempo, que marcaram época. Teve até quem amputou o dedo, deu a carne literalmente pelo clube. Mas isso é pela história. O atleta tem que ser profissional, deixar isso de lado e viver o dia-a-dia, focado no trabalho tanto física como mentalmente.

NF: Por que, então, desde a saída de Júlio César, ninguém se firmou no gol do Fluminense?

Berna: Eu sei que a matéria é sobre goleiros, mas vou falar minha opinião particular. A questão do clube no momento eu não vejo como sendo os goleiros. Acho que os anseios dos torcedores estão desabafando devido a um histórico de contratações, que no passado eram de grandes nomes. Se pararmos para refletir, houve uma série de transformações para que o clube prosperasse no seu profissionalismo. Percebe-se que quando tem uma história dentro do Flu, a cultura dentro do clube pesa muita. Em 2006 a gente vivia um momento de transição, por exemplo. Eu cheguei em 2005 com Horcades presidente. Ele foi reeleito três anos depois. Depois veio Peter, ficou seis anos e o Abad, que não conseguiu desenvolver o trabalho como poderia. Acho que o momento que o clube está vivendo é inconstante, não só dos goleiros.

NF: Gostou da contratação de Muriel? As falhas do goleiro é devido ao ritmo de jogo?

Berna: Muriel veio da Europa, eu vi os jogos dele. Quando o Cavalieri veio da Europa, acabei ganhando a vaga dele porque ele também não estava na sua plenitude física, o que só aconteceu após os treinamentos constantes. Faz toda a diferença no emocional do atleta. Depois acabei sendo deposto para que o Cavalieri seguisse o fluxo natural, porque futebol também é negócio e o torcedor não entende isso. O gestor fica refém de atender a expectativa do torcedor. E vejo no Mário e no Celso a preocupação em não colocar essa expectativa. Eles têm sido muito sinceros quanto aos problemas. A Unimed mascarou muitos problemas do Fluminense. Tiveram muitas pessoas que prejudicaram também, como as exposição de mazelas por parte da oposição. Não temos patrocinador master como era na época da Unimed, mas temos pessoas que conhecem a história do clube e têm expertise. Tudo isso influi. Tivemos oportunidade contra o Cruzeiro de seguir adiante na Copa do Brasil, mas não aconteceu porque essa questão das eleições prejudicou bastante na minha visão. É uma mudança de estratégia. Tem que se ressaltar o trabalho que os jogadores fazem apesar das turbulências. Conheço o André, sei que é um trabalho de excelência, gosto do Muriel. Perceba que ele está em todas as bolas, mas ele ainda está buscando o condicionamento dele. O tipo de treinamento que acontece na Europa é diferente do que acontece aqui. Aqui se exige mais a parte física por conta da maratona de jogos e treinamentos. Precisa ter paciência com ele, porque é um grande goleiro. Da mesma forma que o Cavalieri veio naquela oportunidade, veio o Muriel. Tenho certeza que ele vai conseguir alcançar o espaço dele dentro do clube.

NF: Marcos Felipe, terceiro goleiro, nunca é utilizado apesar de toda a turbulência na posição. Como trabalhar o psicológico de um atleta como ele, uma vez que você viveu situação similar por um bom tempo?

Berna: Não é simples falar sobre isso. Espero um dia fazer um trabalho para o Fluminense nessa área, para desenvolver a consciência emocional dos jogadores. O atleta que não joga treina mais do que o que joga. Me especializei num programa nesse sentido – e isso se treina. O trabalho não é só para trabalhar a pessoa, mas é também para melhorar o desempenho de atletas de alto nível. Os resultados têm sido tremendos nessa sequência. O Marquinhos tem buscar os espaços dele no treino, mas o treinador pensa no jogo. Se tiver o Muriel como opção, ele vai no Muriel. Só vai pensar numa oportunidade caso seja necessário. Já disse que ele é um grande goleiro, merece ter chances, mas isso é uma cultura do nosso futebol. Se todos tiverem essa consciência de buscar fazer uma gestão, no mínimo, não temerária, onde as finanças seja equilibradas, as coisas melhoram. Espero que tenha competência emocional para superar a falta de espaço no time.

NF: Como você enxerga a situação de Rodolfo após o doping?

Berna: Ele precisa ser abraçado, principalmente pelas pessoas que o amam, que estão perto dele. Aí a situação já vem de um contexto maior, não é só o futebol. É a pessoa Rodolfo e só ele sabe o que aconteceu. É muito fácil apontar o defeito dos outros e isso eu aprendi com o Renato Gaúcho. Sobre o Rodolfo, desejo que Deus possa abençoar a vida dele e que ele consiga sair dessa situação de vício e que possa superar tudo com equilíbrio. Não o conheço pessoalmente, mas me coloco até à disposição para dar auxílio. Já dei palestra para dependentes químico, sou apaixonado por pessoas e posso tentar ajudar também.

NF: Agenor chegou ao Fluminense acima do peso no início da temporada. Perdeu peso, mas mesmo assim, visualmente falando, parece mais “cheínho” do que a maioria dos goleiros profissionais. Você acredita que isso atrapalhe no desempenho?

Berna: Isso nunca pode ser comparado dessa forma. O Marcão tem um biotipo similar ao do Agenor, e foi campeão com o Palmeiras e mundial pela seleção brasileira. Tem toda uma questão de disciplina alimentar, descanso. Isso é do atleta, vem da competência emocional dele utilizar isso em seu favor. São muitas variáveis coletivas e individuais. As características que o Agenor tem que são boas podem não ser tão boas em outros goleiros do Flu e vice e versa. Eu joguei contra o Walter (ex-Flu, que sempre teve problemas com a balança), que disse que gostava de biscoito recheado e ele era incrível. Hoje em dia, com o trabalho feito por fisiologia, essas questões podem ser trabalhadas, mas cada qual tem um estilo. Tem alguns que são bons saindo na bola, outros plantados, uns com mais reflexos, depende do jogador.

NF: Expectativas para o Brasileirão e a Sul-Americana

Berna: O clube não começou bem no Brasileiro, perdendo para o Goiás. Mas o momento era outro. Agora o presidente antigo saiu, a nova estratégia está sendo posta em prática. Vejo um time mais aguerrido. Esse desempenho não precisa acontecer só quando o cenário é favorável. Precisa ocorrer em momentos de revés também. Todos precisam saber seus papéis nesse contexto, para que os resultados sejam melhores analisados e mensurados. Acredito numa redenção do Fluminense no Brasileirão, então nada é impossível no futebol. De repente dá até para pensar em título, como o milagre que ocorreu na arrancada para fugir do rebaixamento em 2009. Na Sul-Americana, eu vejo um grande um desafio. Tem dois jogos contra o Corinthians muito importantes e o papel do goleiro vai ser muito importante para estar equilibrado. Vou torcer pelo Muriel, pelo time e pelo Fluminense.