O mundo do futebol afirma que Sampaoli é um discípulo de Marcelo Bielsa, algo rechaçado por Bielsa que diz não gostar da palavra discípulo.

 
 
 

Bielsa completa afirmando que Sampaoli é melhor do que ele. E explica: “Uma das virtudes dos treinadores é a flexibilidade. Quer dizer, não se apaixonar pelas suas próprias idéias. Mas você precisa ser apaixonado por suas ideias para convencer seu grupo, então é preciso uma mescla entre humildade para não ser soberbo e jamais mudar sua ideia e uma necessidade de convicção para defender a ideia que você escolheu.”

Bielsa continua: “Eu não cedo nas minhas ideias, e eu não digo isso como uma virtude. É um defeito. Sampaoli, sim, cede nas suas ideias, porque tem um poder de adaptação que eu não tenho”.

Amigos, Flamengo e Fluminense jogam de forma muito parecida. Sim, o Fluminense troca mais passes, roda mais a bola e o Flamengo é um pouco mais direto. Mas reparem só:

Fla e Flu jogam com dois zagueiros e dois laterais com os primeiros volantes vindo fazer a saída de bola. Airton e Cuellar são os jogadores que mais passam a bola nos dois times.

Os dois laterais-direitos buscam mais o fundo que os dois laterais-esquerdos. Isso porque tanto Everton Ribeiro como Luciano, ambos canhotos, fazem papel de meia vindo para dentro e abrindo o corredor para a subida do lateral.

Do lado esquerdo, Everaldo e Bruno Henrique são caras que jogam aberto buscando a linha de fundo, o que faz com que Renê e Mascarenhas (ou Marlon) não subam tanto, fazendo ambos muito bem o papel defensivo e ajudando na criação, por vezes, vindo por dentro.

As coincidências não param aí. William Arão e Bruno Silva são jogadores de força e transição, invadem bem a área adversária, mas não são bons organizadores de jogo, grandes meio campistas.

Diego e Daniel idem. Bons passes, mobilidade, organizam o time, mas (apesar do último golaço do Diego) são meias que chegam pouco na área adversária, fazem poucos gols.

Na frente Yony e Gabriel também são atacantes que se mexem mais do que os centroavantes tradicionais, que jogam mais fixos.

Em resumo: São times espelho se compararmos as funções que cada um desempenha em campo.

Se as funções são muito parecidas, é notório que o lado de lado de lá, tecnicamente sobra em relação ao lado de cá. Cuellar, Arão, Diego, Everton, Gabriel e Bruno Henrique de um lado, Airton, Bruno Silva, Daniel, Luciano, Everaldo e Yony de outro.

Não dá pra sair de peito aberto, avançar as linhas e tentar fazer os jogos que o Fluminense vem fazendo, muito bem inclusive, contra times pequenos. Contra o Vasco, bem inferior ao Flamengo, já complicou.

Ontem (terça-feira) no Twitter passaram um vídeo do treino do Flamengo. Abel colocou um time saindo com a bola igual ao Fluminense, usando o goleiro e tudo e do outro lado, o adversário pressionava com muita força essa saída. Com toda certeza Abel espera um erro nosso, uma retomada no campo ofensivo pra encaminhar a classificação.

É aí que entra a adaptação. Se o Fla vier muito, sai com bolas longas. Faz o Yony colar no Rodrigo Caio e executa o pivô ali, Caio é um zagueiro fraco no corpo a corpo e na bola alta (outra arma, escanteio é em cima dele), Yony segura essa bola e pega o Flu todo vindo de frente.

Pode abrir também, no lançamento longo, essa bola nas laterais e tentar sair por ali. Num jogo desses a gente não entrega nada pro rival. Nada.

Outro dia no twitter fui questionado quando falei dessa flexibilidade, com um amigo perguntando se o carioca não era pra testar o modelo. A reflexão é boa e eu concordo com ela, mas o modelo durante o ano vai exigir adaptabilidade porque o Fluminense não vai jogar jogos pequenos. Enfrentaremos times grandes e muitas vezes não conseguiremos impor nosso jogo.

Lembrando que flexibilizar e adaptar não significa ficar todo encolhido atrás tomando sufoco e rezando por uma bola. É um jogo em que precisaremos também controlar espaços, que precisaremos ter paciência com a bola pra não ceder contra-ataque, é um jogo que o erro deve ser quase zero, é um jogo em que precisaremos saber jogar com e sem a bola.

O Fluminense do primeiro tempo contra o Vasco, por exemplo, não pode de forma nenhuma entrar em campo.

Quinta-feira é um dia de baixar um pouco as linhas de marcação, proteger nossos zagueiros contra o mano a mano, tirar, sem a bola, o espaço deles. Mais que tudo, amanhã é dia de correr muito. Se há uma diferença técnica, e ela é flagrante, o outro lado precisa tentar compensar isso com uma boa estratégia de jogo e muita vontade.

Temos um grande teste, contra um time que, de novo, deve brigar na parte de cima da tabela no Campeonato Brasileiro. Uma vitória dá uma moral imensa e uma confiança muito grande na continuidade do trabalho.

Até aqui o modelo funciona muito bem contra times pequenos. Mas a gente sabe. São times quase amadores, jogadores sem condição física, uma outra realidade. O Carioca, a primeira fase da Copa do Brasil não servem de parâmetro na avaliação do trabalho e de jogadores.

Continuamos apoiando a ideia. Ela é ótima, mas como diz o Bielsa no início do texto, não podem o treinador e nem a gente que analisa esse trabalho ser refém disso. A torcida está apaixonada pela ideia, mas ainda não houve muitos adversários para testá-la de verdade.

É necessário também que esse modelo, que apoiamos integralmente, nos traga grandes vitórias e competitividade. É disso que vive o Fluminense.

Saudações!