Em primeiro lugar, quero pedir desculpas aos meus dois leitores e meio por este período de abstinência. Confesso que minha inspiração para escrever sobre este Fluminense está no mesmo nível da inspiração do presidente para administrar o clube. Cheguei a ensaiar um texto depois da vitória em Montevidéu, mas tomei a decisão de não publicar. Podia parecer açodamento. E era.
Torcer pelo Fluminense sempre foi um prazer. Nas vitórias ou nas derrotas; nos bons e maus momentos. Ainda vou contar aqui algumas aventuras da época em que o time estava na Série C do Brasileiro, mas isso é papo para o fim da temporada. O fato é que está cada vez mais difícil encontrar algo de positivo para escrever sobre isso em que transformaram o Fluminense. E também não vale a pena ficar repetindo o que todos estão cansados de saber.
O Fluminense de hoje tem muito pouco do verdadeiro Fluminense. Apenas a camisa e a torcida. Discutir a qualidade técnica do elenco é chover no molhado. E nem é isso o que mais incomoda. Certamente houve outros times no passado tão limitados quanto este. O que incomoda de verdade é a falta de perspectiva. Se o clube estivesse passando por uma fase de cinto apertado para corrigir os erros de gestões anteriores, talvez fosse mais fácil aceitar. Mas não é isso que está acontecendo. A situação continua se deteriorando em progressão geométrica. Abad e seus discípulos reduziram a folha de pagamento e sucatearam o elenco com a proposta de honrar os compromissos e não passar pelo mesmo sufoco do ano passado.
Balela. Não conseguem criar novas receitas, a torcida foge dos estádios e os salários continuam atrasados, com jogadores fazendo cobranças em público. Para piorar, o presidente sugere aos aliados uma “vaquinha” para pagar parte da dívida com o elenco, como se administrasse um clube amador. Não quero parecer o profeta do apocalipse, mas me digam uma (apenas uma) medida acertada dessa diretoria. Em quase dois anos, Abad apenas potencializou a nefasta administração Peter Siemsem, que aliás foi o seu tutor, não custa lembrar.
Culpar o técnico e xingar os jogadores me parece um tanto cruel. Marcelo Oliveira, como todos os outros técnicos, comete erros e acertos. Mas não deve ser fácil ter que fazer opções com o material humano que ele tem disponível. Entra Júnior Dutra, sai Cabezas; entra Cabezas, sai Mateus Alessandro; entra Mateus Alessandro, sai Everaldo; entra Everaldo, sai Marcos Júnior; entra Marcos Júnior, sai Kayke… E nada muda. Não me parece questão de treinamento, de organização tática, de falta de empenho ou de vergonha. Apenas falta de qualidade técnica. Há jogadores no elenco que chutam de tornozelo, de canela, de joelho. Que passam rodadas e rodadas sem conseguir acertar um chute na direção do gol adversário. Há jogadores que não sabem fazer um passe de um metro. Não fossem os gols salvadores de Pedro lá no início, a realidade seria muito mais assustadora.
Apesar de tudo, o empate com o Ceará deve ser suficiente para garantir a permanência na Série A. Sem mérito algum. Na verdade, pelo menos metade dos times que disputam este Brasileiro não merecem estar na primeira divisão. Como apenas quatro caem, pelo menos seis continuarão no ano que vem, sem merecer.
Mas não se iludam com aqueles surrados discursos de alívio e dever cumprido. O pesadelo deve continuar no ano que vem.