Nobres tricolores,

 
 
 

nasci no final de 1985. Naquele fatídico ano, o Fluminense conquistava o tricampeonato carioca quando o Estadual ainda era uma competição de respeito. Havíamos vencido o Brasileiro em 84 e demoramos dez anos para gritar é campeão novamente, com a legendária barriga do Renato.

Vivi o pior momento de um torcedor de grande clube brasileiro e não vou me prolongar porque você sabe do que estou falando. Até que um tricolor fanático, presidente de uma empresa, resolve fazer grandes investimentos, que resultaram em conquistas nacionais, respeito internacional e a fomentação de novos torcedores.

Mas nos meus quase 33 anos de vida, nunca vi um Fluminense tão covarde quanto o dessa quarta-feira, 24 de outubro de 2018. Técnica e tática é papo pra depois. Estou falando de postura, de atitude. Isso, claro, passa por quem comanda, até quem fica à beira do campo, chegando em quem, de fato, resolve a nossa vida na grama.

O Fluminense recebeu no Engenhão um gigante sul-americano, que não tem assustado ninguém no continente há algum tempo, mas que fez uma partida digna. Quem esperava (eu), um Nacional praticando o anti-jogo, com entradas ríspidas e catimba, se surpreendeu positivamente. O adversário é inferior. Sabe disso e fez o que lhe era possível.

O limitado Flu achou o gol do Gum e entendeu que tocar a bola 4.658 vezes para os zagueiros era suficiente para levar a vantagem mínima para o caldeirão do Parque Central. O Nacional perdia por 1 a 0 e chamava o Tricolor para o seu campo. O mandante, porém, se recusava a atacar. O medo de tomar o empate era maior do que o de liquidar a parada.

E o símbolo desta exiguidade estava do lado do campo. Marcelo Oliveira não pôs o Flu no 3-5-2. Inventou um bizarro 3-4-3, com Sornoza como atacante pela direita. O resultado era óbvio: não tínhamos meio-campo. A quantidade de lançamentos que Digão, Gum e Ibañez fizeram foi coisa de maluco. A maioria, claro, errados.

Escrevi antes da partida, no twitter e aqui, que o Fluminense, por falta de qualidade e por insistência no sistema com três zagueiros, não consegue propor o jogo, pressionar ninguém. E a invenção do Marcelo cooperou para a inoperância ofensiva. Mas como dito, a técnica e a tática ficaram em segundo plano na medida em que uma equipe se recusa a liquidar o adversário.

Você conhece algum campeão covarde? Talvez se recorde do Once Caldas, de 2004. Time bem fraco, que ganhou a Libertadores na base dos empates, vencendo nos pênaltis. São raras a exceções no futebol mundial. Nesta melancólica noite de quarta-feira, o Fluminense, deliberadamente, praticou o anti-jogo.

Claro que Marcelo Oliveira abusou nas substituições. Era necessária a escalação de três zagueiros diante de um rival que não atacava? Quando Gum se lesionou, era mesmo primordial a entrada de outro defensor? Jádson fez má partida, mas Airton, que não joga há tempos, era o mais indicado para controlar o meio-campo? Com 45 minutos ainda por jogar era o momento de cadenciar quando o adversário mal atacava, mesmo perdendo? Sornoza aberto pela direita? Daniel, depois, também aberto pela direita?

O Nacional não melhorou com as mexidas do técnico tricolor, mas castigou a covardia. O Fluminense era o mandante. Tinham 20 mil malucos lá que resolveram sair de casa na chuva, num horário ruim, pra acompanhar esse time que não inspira confiança nem na criança mais pura e ingênua. Vinte mil que não esperavam bom futebol. São conscientes, que esse time, desculpe o termo, mas não encontro outro adjetivo mais apropriado, É UMA MERDA! Só esperavam o mínimo: atitude de vencedor.

O Fluminense tem um presidente medíocre, que está satisfeito em chegar às semifinais e finais do Carioquinha e avisou: de tanto chegar, uma hora vence. Fogos! E também deixou claro que 2019 será da mesma forma que 18. O Fluminense é administrado por um grupo que te culpa, torcedor, porque não se associa mesmo a gestão não lhe dando o mínimo: um time confiável para poder se divertir.

Muito provavelmente esse foi o último jogo de 2018 que me dispus a deixar esposa e filho recém-nascido em casa. Eles não merecem a ausência do marido e pai, que, por algumas horas, os troca pelas dezenas de passes errados do Richard, pela indolência do Luciano, pelo péssimo tempo de bola do Ibañez, pela falta de massa encefálica do Ayrton Lucas, pela irregularidade do Jádson, pelos sumiços constantes do Sornoza e, porque não, pela lucidez do Everaldo. Ah, claro, da pequenez do treinador.

Faltam seis pontos e só isso que espero, mesmo sabendo que a classificação no Uruguai é plenamente exequível. Mas já deu, né? Quantas vezes achamos que “agora vai” e no final tomamos uma bordoada? Chega de ilusão.

 

– Não demorará, a bola vai processar o Richard por maus tratos. Me disponho a ser testemunha.

– E na fila do processo, é bom o Ibañez abrir os olhos.

– Marcelo Oliveira é mais do mesmo. Ou seja, grandes chances de continuar em 2019.

– Time alternativo contra o Santos? Melhor o W.O. Pelo menos nos dá um sossego fim de semana.

 

Um grande abraço e saudações!

 

Siga-me no twitter: @LeandroDiasNF