Vice de futebol do Fluminense em 2012 e 2013, o Sandro Lima utilizou sua conta no Facebook para desabafar sobre o atual momento político conturbado do clube, que tem refletido no futebol apresentado dentro de campo. Confira, na íntegra, o texto publicado pelo ex-dirigente tricolor:
“Confiança.
Nada nessa vida pode ser feito com plenitude sem confiança. Do abraço forte num ente querido a um aperto de mão num desconhecido, não adianta. Nada flui. Em meu ponto de vista o técnico e meu amigo Abel Braga se viu nessa tempestade. Foi escudo, guarda-chuva, deixou o ventania levá-lo, se expôs, por aquele clube que ele próprio diz que o formou, tentou fazer de tudo com o elenco que o deram, mas não adiantou. A base de tudo já estava rompida. Onde não há confiança, não há peito aberto que resolva o cenário.
O Fluminense atual não se explica apenas nos números pífios. O que mais irrita são as promessas não cumpridas desde as malfadadas eleições de 2016. O patrocínio não paga, o estádio não é nosso, o CT não termina, as Laranjeiras estão esquecidas, os ídolos foram embora e os postulantes a bons atletas não ficam tempo o bastante para criarem um vínculo com o torcedor. O Fluminense de hoje é o retrato do Pedro Abad nas fotos que correm pela imprensa: sem carisma, sem brilho, sem graça e perdedor.
Primeiro contratam a Ernst & Young sob o argumento de profissionalização. O tal relatório da empresa, no entanto, jamais foi apresentado, nem para àqueles que ajudaram na “vaquinha” para pagar pelo serviço. Depois, assumem o risco de fechar com um ex-dirigente do COB, sem experiência no futebol. Percebem tarde demais que fizeram uma cagada – ou esperavam que ele seria um novo Sandrão vindo dos EOs – ou não esperam tempo o suficiente para ver se o cara poderia fazer a diferença – e o limam como se dispensassem um carpinteiro contratado para fazer um armário, mas que ainda está no meio do desenho do projeto.
O temor se esconde nos corredores da nossa instituição. Antes, o medo era não ter poder. Agora, é perdê-lo. Para isso, amarram as mãos de quem pode fazer algo, Celso, Mário, Tenorio, Pedro Antônio, Torcida, entre outros, mas oferecem ameaça a quem está no topo. No fim, será que ligam realmente para o Fluminense ou continuarão nesse jogo de “amigos dos amigos”? Com a saída de Marcus Vinícius, Paulo Autuori pediu o boné. Sem ambos, Abel ficou solitário, absorvendo os golpes que eram dados nele pelos resultados em campo. Resultados esses evidenciados pela falta de uma estrutura básica de planejamento de futebol e governança.
Numa semana, Abad diz que vai resolver o problema de pagamentos, faz empréstimos e etc. Na outra, comenta que vai ter de vender fulano e cicrano. Porém, quando questionado se irá repor, não oferece um pingo de esperança quanto aos nomes. Até pode acontecer, mas nenhuma contratação terá o peso necessário para o clube dentro do atual cenário. Perdemos o último samurai, a esperança da torcida, apesar das escalações controversas, muitas vezes baseadas num contexto que não vinham à publico porque Abel dava a cara a tapa por ele e pelos outros eu o conheço e ele é assim.
Com premiações, direitos de imagem e salários atrasados, ainda culpam gestões anteriores pela incapacidade de recuperar a instituição. A Unimed saiu em 2015 e, desde então, o Fluminense virou um santuário de lamentações. O pai do filho feio jamais aparece. E muitas situações que deveriam ser explicadas de maneira transparente são colocadas de lado, esperando que o tempo se encarregue de fazer o torcedor se esquecer. Quem explica direito a liberação do Diego Souza? O gênio Marcelo Teixeira, Xerém hoje é a quarta força no Rio de Janeiro. A dívida da Vitton já foi toda paga? O processo contra a Dryworld já foi encerrado no Canadá? O terceiro campo do CT e o alojamento têm previsão para serem terminados? Pedro Antônio já recebeu o que era devido?
Falamos acima de um clube que produz muitas perguntas e poucas respostas. Um clube predestinado à eternidade, mas que flerta com a mediocridade de forma pontual nos últimos anos. A cúpula do Fluminense transformou o clube numa sombra de seus rivais nacionais. Não somos protagonistas há tempos! Nossas alegrias estão condicionadas ao passado, cada vez mais distante, ao passo que a verdade só parece verdade até o próximo documento, processo ou áudio vazado. Como apostar em algo assim? Por que sustentam o discurso de que tudo está bem? Por que cargas d’água não põem o rabo entre as pernas e sinalizam que precisam de ajuda de verdade? Desçam do salto!
Só resta àqueles que aspiram alguma coisa, torcer para o acaso nos abraçar de forma serena. O mercado, os atletas, os próprio membros dos grupos políticos que foram – ou ainda são – situação não creem mais na redenção de Abad/Flusócio.
A confiança precisa ser resgatada, doa a quem doer. Eu conheço o Abel e tantos outros que passaram e estão no clube. E conhecendo, sei que não dá pra se manter num barco onde o comandante confunde leste com oeste ou iceberg com ilha. Que a confiança seja recuperada o quanto antes, para o clube voltar a respirar sem aparelhos.
Fora Abad
Fora Flusócio.”