Chefe de reportagem e comentarista dos canais Sportv, Paulo César Vasconcellos lançou uma crítica a Botafogo e Fluminense. O jornalista entende que ambas administrações precisam pensar grande. Veja abaixo o texto na íntegra:

“Olá

 
 
 

Não temos nem um mês de temporada e as notícias para Botafogo e Fluminense não são animadoras. Clubes de tradição nacional, com histórias relevantes para o futebol do país e marcantes na vida e nas conquistas da seleção brasileira, caso do Botafogo, percebo que perderam a ambição. A crise financeira, que se abate sobre a maioria dos integrantes da Série A, os pegou de tal maneira que deixaram de olhar para o presente e o futuro de maneira grandiosa. Quando o pensamento é pequeno, a conta é alta. E no caso de Botafogo e Fluminense, pela importância que têm, o valor fica mais elevado.

Vejam o caso do Fluminense no primeiro turno da Taça Guanabara. Por duas vezes jogou em Los Larios, estádio com ares de sítio, e nas duas partidas não foram mais de 1.100 pessoas! Repito: 1.100 pessoas!!!! Não é público para um jogo do Fluminense, o que dirá para dois. E a partida teve transmissão dos canais SporTV e Premiere para todo o Brasil. Que imagem o Fluminense passou? A de um clube absolutamente indiferente para o número de pessoas que leva a um estádio; a de um clube que perdeu a noção do que representa e do seu tamanho, importância e alcance. Como sensibilizar uma marca neste país que engatinha com reumatismo para sair da recessão econômica a colocar seu nome no centenário uniforme jogando em um estádio (?) que mais parece campo de colônia de férias?

Antes desse público de escola de samba mirim, o Fluminense já esteve no noticiário mostrando inabilidade no trato com seus jogadores, com a palavra Diego Cavalieri, e inabilidade para negociar, com a palavra Gustavo Scarpa. Não há como esses tropeços deixarem de cair na conta do…….Fluminense. Quem sofre é o clube.

O Botafogo não chegou a atuar para público tão ofensivo à história de um clube, mas errou de Joana e João quando entendeu que Felipe Conceição era o nome ideal para substituir Jair Ventura. O pensamento pequeno, a miopia administrativa levaram a uma conclusão que nem simplista pode ser considerada. Se Jair Ventura veio das categorias de base, era auxiliar de Ricardo Gomes e deu certo como técnico da equipe principal, o mesmo se aplica a Felipe Conceição. Errado!

JV tem um sobrenome de peso e uma ambição em ser o melhor. Possui o olhar de quem está com fome e sabe os caminhos para conduzir a quem comanda. O talento para ver o jogo e enxergar o jogador, somados à capacidade de extrair o máximo de quem imagina ter dado tudo, o levou a colocar o Botafogo nas rodas de conversa sobre futebol. A ser novamente respeitado, visto e temido. Fez um trabalho impecável para o elenco que possuia.

Na reta final do Campeonato Brasileiro do ano passado, não fosse a falta de ambição de quem administra o Botafogo e o clube teria baixado o preço dos ingressos nas três partidas disputadas do Nílton Santos, contra Fluminense, Atlético-PR e Atlético-GO, em que dos nove pontos disputados, nenhum foi conseguido. Faltou dialogar com as cadeiras e arquibancadas. Mostrar para os jogadores que a torcida era uma aliada. Certamente o rendimento seria outro e hoje pelo segundo ano consecutivo, feito inédito, o Botafogo poderia estar novamente na Libertadores.

Quanto mais o mundo se sofistica mais a vaidade se acentua e a capacidade de reconhecer erros é terceirizada. A autocrítica, palavra em extinção, faz-se necessária. Se continuarem com o pensamento que cabe num cubículo sem janela e ventilador, Botafogo e Fluminense terão uma temporada de subalternos e coadjuvantes sem fala. Que entra mudo e sai calado numa cena na qual sequer foi filmado. Não se pode confundir austeridade financeira, mais do que necessária para a sobrevivência desses clubes, com pequenez. A limitação no orçamento não serve como justificativa para se perder a ambição. Exatamente na hora da escassez é que se torna fundamental pensar grande. Pois senão, Botafogo e Fluminense ficarão apenas reféns da história. E tem uma nova geração vindo aí que pede e precisa mais.

Indignação

Sempre peculiar, o brasileiro criou a indignação seletiva. Tá certo que o cardápio oferecido para se revoltar e protestar está cada vez mais farto. As páginas aumentam e não há notícias sobre uma possível entressafra. A implantação do árbitro de vídeo é uma questão de tempo. Assim como duas vezes ao dia os ponteiros se encontram, o uso de recursos eletrônicos no futebol para dirimir dúvidas é uma questão de tempo.

O que mais me incomodou na reunião dos clubes na sede da CBF foi a decisão de se vender os mandos de campo. Viu-se ali uma prática brasileira tão antiga quanto o carnaval. É uma ofensa ao torcedor, ao equilíbrio da competição, mas adoça a boca de quem construiu estádios bilionários a pretexto de sediar jogos da Copa do Mundo. Essa decisão não deixou tanta gente sem voz ou elevou a taxa de decepção do elenco verde e amarelo. Talvez pelo fato de que na verdade não surpreende. É assim e ponto”.