É árdua a expiação da cretinice. Muitos descem do patíbulo pela conversão que lhes exige sacrifício e obstinação. Outros rendem-se impotentes ao véu obscuro que lhes cobre sem que por eles seja percebido, e desfilam sua cretinice por toda uma vida e ainda por todas as vidas que a sucederem sua vida oca entre crenças e mitos.
I. Um cretino e um convertido saem para almoçar juntos. O cardápio é arroz, feijão e bife acebolado. Almoço encerrado, os dois esbarram com alguém que lhes indaga sobre o que comeram: -“ E aí, como é que foi?”.
O cretino: “Arroz, feijão e bife”.
O convertido: “Rapaz, você não imagina. O arroz, cara, o arroz tava soltinho, caindo da colher, nem duro nem mole. No ponto. Alho e sal certinhos, sem exageros; deu vontade de comer só o arroz. Mas aí chegou o feijão. Nem grosso nem aguento. Tenro, daqueles que dá pra mastigar. Alhinho queimado, cheirinho de louro. Dos céus, cara, dos céus. Eu nunca vi um feijãozinho como aquele. E ainda levava uma carninha seca um tanto dissimulada, um jabá da melhor cepa. O feijão era tudo. Quando derramei o feijão sobre o arroz, nada foi além do certo. O feijão ficou ali, se esparramando lentamente pelo arroz soltinho, que só faltou agradecer pelo feijão tê-lo coberto assim, daquele jeito. E o bife? E… ooo…….bife, meu Deus! Moreninho por fora, vermelhinho por dentro. No ponto, nem mais nem menos. Frito na chapa, com um pouquinho de manteiga só para dar a cor. Perfeito! Que bife! Eu não precisei mastigar nem um pouquinho além da conta. E a cebola, a cebola! Nem mole, nem crua, certinha, certinha. O caldo da cebola frita que sobrou do bife o arroz chupou, misturando o caldo com o feijão que já tava perfeito. Que almoço, cara! Que almoço
II. Brasileirão correndo tenso, e dois torcedores, um cretino e um convertido, conversam sobre o desempenho do time que torcem.
O convertido: “Cara, ando preocupado com o Fluminense, a gente anda ali, costeando a cerca do Z4, é um insulto à nossa história. Pô, não dá nem pra estender uma alegriazinha para além de um ou dois jogos, que merda que fizeram conosco. Somos a história, o Fluminense, porra! E ainda recentemente ganhamos três títulos brasileiros em cinco anos, entrávamos favoritos em todas as competições, agora é esse ramerrão de meio de tabela. Nas eleições era um mar de promessas, agora é um laguinho de realidades”.
O cretino: “Você reclama demais, o Fluminense está falido há 85 anos, e agora as finanças estão em ordem, tudo sob a batuta segura da Ernst & Young & Heart & Old & Suckers. Para de fazer política, entra de sócio e forma chapa!”.