Sobre coincidências e outros demônios

Amigos, eu confesso: sou irremediavelmente fascinado por coincidências. Já aconteceu comigo: estava preenchendo as cruzadinhas, encucado com a última palavra que faltava, quando um ator na TV, por milagre, a pronunciou, me fornecendo a cola definitiva. Escrevi “milagre”, e repito: coincidências parecem ser mesmo milagres, provas da existência de Deus, até.

 
 
 

A própria evolução da vida na Terra é fruto de uma sucessão de coincidências: a aparição de uma estrela com as exatas características do Sol, o surgimento de um planeta com as exatas características da Terra, o posicionamento preciso da Terra na órbita do Sol de modo a permitir a abundância de água em estado líquido, as sucessivas e aleatórias mutações celulares que fizeram surgir as diferentes espécies, et cetera, et cetera, et cetera.

Porém, nem sempre o que parece coincidência de fato é. O filósofo brasileiro Nelson Rodrigues escreveu certa vez, em mais uma de suas frases geniais, que “uma coincidência prevista deixa de ser, obviamente, coincidência”.

Estou escrevendo sobre o Campeonato Carioca, decidido no domingo 7, no eletrizante Fla-Flu que lotou o Novo Maracanã. Foi um jogo muito equilibrado, que caminhava para ser decidido, de maneira justa, em uma disputa de pênaltis (forma de desempate que eu abomino, mas isso é assunto para outro texto). Porém, quando faltava pouco tempo para o fim dos noventa minutos, aconteceu o lance fatídico: a dois ou três metros da jogada, o árbitro Wagner do Nascimento Magalhães ignorou falta escandalosamente clara de Réver em Henrique, e na sequência houve o gol de Paolo Guerrero, que praticamente definiu o título a favor do Flamengo.

Reparem que não foi um lance discutível ou polêmico: foi uma infração muito clara, observada de perto por três membros da equipe de arbitragem, que não viram ou fizeram que não viram o que aconteceu. Carlos Eugênio Simon, competente ex-árbitro e comentarista, foi taxativo: “A falta aconteceu e o árbitro influenciou o resultado do jogo”.

Neste mesmo Campeonato Carioca, já haviam ocorrido outras situações de prejuízo ao Fluminense pela arbitragem. Para ficar apenas nos casos mais notórios: na semifinal da Taça Rio, o Botafogo assinalou um gol com cinco atletas em impedimento, minutos após um pênalti não-marcado sobre Marcos Júnior, conforme noticiou o NETFLU; na semifinal do Campeonato Carioca, o meia Douglas Luiz, do Vasco, cometeu um pênalti claríssimo em Wellington Silva, simplesmente ignorado pela arbitragem. Antes, no dia 25 de fevereiro, um atleta do Madureira deu entrada criminosa em Gustavo Scarpa – que está até hoje se recuperando da lesão – e o Fluminense é que teve um atleta expulso na partida.

Será que todos estes erros, sempre contra o mesmo clube, são pura e simples coincidência? “Uma coincidência prevista deixa de ser, obviamente, coincidência”. E os prejuízos ao Fluminense não começaram neste ano, não. Em 2015, num Fla-Flu vencido pelo Flamengo, Fred foi claramente derrubado na entrada da área, a poucos metros do árbitro, que, além de não marcar a falta para o Fluminense, ainda expulsou Fred por simulação (o árbitro era o mesmo Wagner do Nascimento Magalhães que neste domingo voltou a operar o Tricolor). Foi logo após este absurdo que o centroavante fez sua famosa declaração: “o Campeonato Carioca tem que acabar”.

E se eu continuar a voltar no tempo, acreditem, este post se transformará em uma imensa enciclopédia de equívocos da arbitragem do Rio de Janeiro contra o Fluminense. “Uma coincidência prevista deixa de ser, obviamente, coincidência”.

Amigos, é coincidência demais para mim. Escrevi lá no começo que Deus está nas coincidências. Agora, me corrijo: ou Deus, ou o diabo. Para um tricolor, é realmente difícil acreditar nas boas intenções dos árbitros, quando se veem tantos erros seguidos, sempre contra o mesmo time, sempre contra o Fluminense.

Escrevo aqui, com todas as letras: eu acho que o Fluminense tem sido propositalmente roubado nas partidas do Campeonato Carioca. Respeito demais as histórias do Flamengo e dos nossos outros rivais, e até mesmo por eles me sinto triste quando as coisas se desenrolam dessa maneira. O Flamengo é grande, grande demais para precisar disso. Conquistas na bola são muito mais saborosas. Não espero que acreditem em mim, mas sinceramente fiquei tão triste pelo Fluminense quanto pelo Flamengo pelo desfecho do Campeonato Carioca.

Será que eles veem mesmo graça em vencer assim?