Foto: Reprodução do Facebook

Mário Bittencourt foi entrevistado por Fágner Torres, responsável pelo blog Laranjeiras, hospedado na ESPN Brasil. O jornalista, que já interpelou Cacá Cardoso, também conversará com os outros candidatos à presidência do Fluminense, Pedro Abad e Celso Barros, e fará a divulgação ao longo desta semana. Veja na íntegra:

O Fluminense, embora tenha saído da UTI no tocante à parte financeira, ainda é um clube difícil de administrar. Sendo assim, porque pretende ser presidente? Qual será a diferença entre as gestões Mário Bittencourt e Peter Siemsen?

 
 
 

 

Mário Bittencourt – A principal diferença é o perfil. Nossa gestão será mais ousada, com mais defesa da instituição, com relacionamento maior com o torcedor e um marketing mais atuante.

 

Uma crítica da oposição à atual gestão é que ela não enxerga o clube com seu real tamanho. O senhor fez, por muito tempo, parte do núcleo duro da administração Peter Siemsen. E qual é o tamanho do Fluminense para Mário Bittencourt?

 

Como dizia Nelson Rodrigues: “Grandes são os outros, o Fluminense é enorme”.

 

Há algum tempo, a política do clube vive um clima bélico. Quem critica o desempenho é tachado de “anti-tricolor”. Quem concorda com tudo é ridicularizado. Se eleito, como o senhor pacificará o Fluminense em busca de objetivos ainda não alcançados?

 

Nosso objetivo é unir. Não defender lado A ou lado B. Estamos juntos pelo Fluminense. Então nós vamos contar com todas as pessoas dispostas a ajudar. Após o dia 26, o clube volta a ser um só. Desde que apresentamos nossa chapa, deixamos claro que estamos em busca de um Fluminense mais vencedor, sem revanchismos ou picuinhas políticas. Todos os avanços já conquistados pelo clube serão mantidos, aprimorados. Sempre pensando num futuro onde seremos o mais organizado e bem-sucedido clube brasileiro.

 

Parte da política tricolor relaciona a sua imagem a negócios envolvendo transferências de jogadores no período em que esteve à frente da VP de Futebol. As críticas são, sobretudo, nos casos da saída de Biro Biro para a China e da chegada de Wellington Paulista. O que o senhor tem a dizer sobre essas acusações?

 

A questão do Biro Biro foi explicada numa nota divulgada em nosso site. Ele foi vendido pelo presidente Peter, como todo jogador do Fluminense. Nenhum jogador é vendido sem a assinatura do presidente. Então essa pergunta deveria ser feita a ele, e não a mim. Não participei da venda, muito pelo contrário. Eu era contra a saída do jogador naquele momento, assim como a comissão técnica, mas o presidente Peter tinha um acordo com o Nova Iguaçu, em razão da compra do Biro Biro e de mais dois jogadores.

 

O Fluminense comprou o Biro Biro em 2012, quando eu não era o VP de Futebol, e também dois jogadores da base, em 2014. O clube devia esse pagamento ao Nova Iguaçu. Então houve um acordo entre os presidentes dos dois clubes em que, caso tivesse uma proposta pelo Biro Biro que cobrisse essa dívida, o Fluminense seria obrigado a vender. Naquele momento, o Peter fez o que era o melhor para manter a parceria. Ele deu uma entrevista na época, em que confirma que vendeu e que conseguiu manter a parceria, inclusive pegando outro jogador da base do Nova Iguaçu, chamado Samuel.

 

Sobre o Wellington Paulista, o trouxemos naquele momento porque tínhamos a situação da punição do Michael e precisávamos de um centroavante mais forte, com características parecidas. A comissão técnica, o setor de scout, todos entenderam que ele era o nome mais viável financeiramente. Ele teve passagens por Inter, Botafogo e Cruzeiro de muito sucesso. É um jogador que tem mercado, está na Ponte Preta. Não tenho nenhuma relação profissional com ele. Na época, o seu empresário só tinha ele no elenco do Flu. Não vejo nenhum tipo de conflito ou problema. Toda contratação que as pessoas não gostam, ou dá errado, elas acabam criticando. É normal, estamos no cargo e temos que saber lidar com as críticas. Elas são normais, o torcedor é apaixonado e temos que saber entender isso.

 

Entre fazer o Fluminense crescer estruturalmente, o que também é necessário, e investir no campo, de modo que o time não perca competitividade, qual a sua prioridade?

 

Minha gestão planeja equilíbrio financeiro com equilíbrio desportivo. Esse é o principal desafio. A gente tem que tentar encontrar esse caminho porque o Fluminense não tem as maiores receitas do futebol brasileiro e é um clube gigantesco. Hoje nossa folha talvez seja a nona ou décima do futebol brasileiro. Eu acho que temos que manter o que está bom e tentar melhorar o desempenho do futebol, que deveu muito.

 

Falo porque fui VP de Futebol na época, após a saída de um patrocinador que botava R$ 70, R$ 80 milhões por ano no futebol e isso não existe mais. Pelo menos, nos próximos anos, posso te garantir que não vai acontecer. O São Paulo, por exemplo, acabou de fechar um patrocínio master de um ano por R$ 13 milhões. Então é irreal qualquer promessa nesse sentido.

 

Xerém ainda é criticado por produzir poucos jogadores extra-classe em comparação a outras bases. O último foi Marcelo, um lateral, há dez anos. Não acha que investimos muito em resultados e marketing e pouco na formação de craques?

 

O Fluminense sempre foi um clube formador. O nível dos jogadores formados em Xerém é bem alto. O torcedor deve se orgulhar do trabalho da base, sim. Mas isso não significa que não teremos trabalho. Pelo contrário, acredito que o Fluminense precisa investir mais em suas categorias de base, e vou fazer com que a venda de qualquer atleta do clube reverta um percentual para a formação de novos talentos. Ou seja, quando um atleta que não foi formado em Xerém for vendido, uma porcentagem será repassada para a base. Quando um atleta que foi formado em Xerém for vendido, a base vai receber duas vezes essa porcentagem.

Precisamos garantir um ciclo virtuoso, reinvestindo em nossa base sempre. Nosso plano é modernizar o Vale das Laranjeiras, equiparando com o que vamos ter no CT profissional, na Barra. E vamos buscar investimentos na Lei de Incentivo ao Esporte.

 

Além disso, queremos dar uma independência operacional para Xerém, mantendo os profissionais que lá estão e são extremamente capacitados. Vamos criar a VP do Futebol de Base, investir mais no setor de captação de talentos e propormos uma maior integração com o Futsal, por exemplo. Nossa intenção é a de fazer um Fluminense ainda mais forte, e não só para os próximos três anos.

 

Nos últimos anos, o Fluminense dependeu muito de empresários, com investimentos em jogadores questionáveis que não deram o retorno esperado. Muitos deles foram contratados no período em que o senhor foi VP de Futebol. Qual o caminho para o clube não ser refém e não errar tanto nas contratações?

 

Todos os clubes têm jogador de empresário, não só o Fluminense. Os jogadores que contratamos no início de 2015 foram com contratos curtos, com valores de salário muito baixo. Quando não agradaram, foram embora. Esses mesmos empresários continuam colocando jogadores no Fluminense, mesmo após a minha saída. E vão continuar colocando, porque a maioria dos jogadores está nas mãos de cinco ou seis empresários do futebol brasileiro. Se fizer uma busca, talvez possa ver que cada empresário tem quatro, cinco ou seis jogadores em cada clube. E talvez o Fluminense tenha sido durante minha gestão o clube com mais pulverização de atletas de empresários diferentes. Talvez tivéssemos 7% ou 8% de atletas do mesmo empresário.

 

Sobre o Marketing, recentemente o clube firmou contratos pontuais com a Caixa e com a TCL. Como ser mais agressivo, de modo a alavancar receita e formar times campeões num cenário de crise econômica? O senhor já tem planos para apresentar à torcida?

 

Quanto ao patrocinador master, a busca tem que ser incessante para que a gente possa ter um time forte e alguém colocando dinheiro. Eu iniciei a relação com a Caixa Econômica Federal em meados de 2015. Era para ser anual, agora parece que ela vai ser pontual. A gente reabre essa negociação se ganhar a eleição. Nós temos um grupo de empresários que apoia a nossa candidatura e, dentre esses empresários, a maioria é do Rio de Janeiro, muito bem colocados em grandes empresas e já estão em busca de patrocínio.

 

Como vê a relação entre clube e DryWorld? Há reclamação principalmente quanto ao fornecimento. O senhor crê que a aposta foi equivocada, por mais que tenhamos lucrado no valor do contrato?

 

Pelo que eu ouvi falar, a DryWorld não pagou mais de três meses da relação até agora. É um contrato que a gente tem que avaliar, inclusive, se não tem que ser rescindido quando a gente assumir, e com ressarcimento para o Fluminense. Precisamos avaliar, não conheço o contrato. Acho que a saída da Adidas foi complicada, porque você trocou uma marca sólida e com uma história enorme por outra recém-chegada ao mercado. Trocou por valores, mas não está recebendo porque a marca não conseguiu comportar a demanda.

 

Em relação ao Sócio Futebol, não acha pouco que a atuação interna deste segmento se limite ao voto? O senhor possui planos para este público? 

 

Eu acho que o Sócio Futebol do Fluminense está muito vinculado apenas ao resultado de campo e à possibilidade de ter um estádio. Como nós ainda não temos, precisamos ter um modelo que fidelize o torcedor, crie particularidade e que possa estar sempre próximo do clube. Vários outros clubes do Brasil têm esse modelo já muito mais avançado, com sistema de fidelização, de pontuação. E isso não invalidaria o fato de ir ao jogo. Muito pelo contrário. Ir ao jogo traria muitos pontos ao torcedor para que ele pudesse trocar por outros produtos, por outras ações de marketing. Seria um sistema que se retroalimentaria.

 

Pensamos em dar mais privilégios aos sócios de fora do Rio. A ideia é adquirir franquias do Fluminense nos lugares onde temos muitos torcedores, onde as pessoas se reúnem em bares para ver jogos. Por exemplo, no Espírito Santo e Brasília. São dois locais excelentes, com grande presença da nossa torcida, onde podemos fazer bares temáticos.

 

O Fluminense pode ajudar nessa relação, mandar prêmios para sorteios. Na verdade, o torcedor entrou como Sócio Futebol para exercer a cidadania dele, ficou três anos pagando e não vai ter condição de vir votar porque é distante. Teria que gastar mais com a passagem de avião. Um dos nossos projetos é esse, é fazer com que o torcedor possa – na próxima eleição – votar via internet e exercer sua cidadania mesmo não estando no Rio de Janeiro.

 

Se eleito, o senhor herdará o futebol fora das Laranjeiras, mas com o CT ainda precisando de obras. Sabemos que o projeto é tocado solitariamente pelo Pedro Antônio. Como é a sua relação com ele? Pretendem seguir juntos?

 

Com certeza contamos com o Pedro Antônio. Como disse anteriormente, queremos todos aqueles que queiram ajudar o Fluminense e ele é uma pessoa com uma participação importantíssima na história recente do clube. Primeiramente, precisamos saber a real situação entre Fluminense e Pedro Antônio. O que foi acordado entre a atual gestão e o dirigente, para podermos pensar em aperfeiçoar essa relação. Independentemente disso, estive em contato com ele recentemente, que me disse que caso vençamos a eleição, gostaria de ver nossas propostas para ver como poderia ajudar.

 

Sobre as Laranjeiras, qual o destino que o senhor buscará para a ociosidade do espaço após a mudança em definitivo para o CT?

 

Inicialmente, temos um plano para levar para as Laranjeiras jogos das divisões de base. Primeiro temos que assumir a gestão e ver o que pode ser feito, fazer um estudo, mas não vou ficar fazendo campanha e levando o torcedor a acreditar em algo que ainda não tive oportunidade de me aprofundar. Pretendo fazer um museu acoplado ao estádio, para que o torcedor possa conhecer melhor a história do Fluminense. Eles poderiam ir conhecer nossos novos atletas, da base, e passar um dia no clube, conhecendo a história, vendo os troféus. Além disso, queremos implantar os treinos do time profissional na véspera de jogos importantes. Achamos fundamental ter esse apoio da torcida.

Recentemente, o senhor apresentou planos de construir um estádio próprio, de menor porte. Pode dar detalhes deste projeto, tendo em vista as dificuldades que o Fluminense enfrenta para ser viável no dia a dia? Por que abrir mão do Maracanã?

 

Não podemos ser levianos. Qualquer candidato que se propõe a fazer um estádio e quer ser eleito como presidente do Fluminense precisa falar a realidade para o torcedor. Não é simples, não é fácil. Quando lançamos o projeto, também apresentamos um estudo de viabilidade. É viável, mas há necessidade de que a gente busque investidores para que isso aconteça. É óbvio que queremos manter nossos direitos sobre o Maracanã, porque a gente não vai ter um estádio próprio em pouco tempo. Precisamos passar por um processo ainda, que envolve desde a captação de parceiros, investidores até a construção.

 

Não vamos abrir mão do Maracanã. Vamos buscar o melhor contrato possível para o Fluminense. Parece que o Consórcio está entregando o contrato para o Estado. A partir daí, caso aconteça mesmo, tentaremos fazer o melhor contrato possível para o clube. Desta maneira, podemos estar vinculados ao Maracanã e ter o nosso estádio, onde jogaríamos 80, 90% das partidas. Até porque nenhum investidor vai aceitar colocar dinheiro em um lugar onde você joga pouco.

 

Em relação ao Flu-Samorin: qual é a análise que o senhor faz dessa parceria?

 

É um projeto bem interessante, que tem como finalidade a internacionalização da marca e a formação tática e educacional dos nossos atletas. Alocamos alguns jogadores nossos lá para que eles tenham um banho de cultura europeia. Gostaríamos de estender o projeto aos jogadores que jogam no Fluminense, não apenas para os que estão lá. Queremos que os que estão aqui se aproveitem desse modelo e possam crescer taticamente, intelectualmente e culturalmente. Acho que essa relação com o futebol europeu pode dar isso ao Fluminense.

 

Como enxerga a posição do presidente Peter em medidas tomadas contra a Ferj? É possível o diálogo ou a tendência é abarcar cada vez mais clubes alinhados com uma postura moderna, esvaziando os estaduais?

 

O Fluminense adota uma postura de enfrentamento publicamente, mas acaba indo “no mais do mesmo”. E quando você vai “no mais do mesmo”, você acaba sendo desrespeitado. Eu acho que a gente tem que definir a nossa posição. A questão não é se você é A ou B. O que não pode é ser A e B.

 

O Fluminense escolheu um lado e brigou cinco anos com a Ferj para fazer um acordo no último ano. Então por qual motivo brigou cinco anos? Ficou reclamando que nós fomos extremamente prejudicados em 2015. No Campeonato Carioca, expulsaram o Fred com 19 minutos no Fla-Flu, perdemos o jogo de 3 a 0, depois o puniram no tribunal e covardemente o tiraram do jogo contra o Botafogo na semifinal. Fomos eliminados, ficamos gritando feito loucos, depois fomos lá e fizemos um acordo com a federação. Ou a gente é contra ou a favor.

 

No entanto, em relação à CBF e Globo, o presidente se mostrou conservador e foi a favor da manutenção do status quo. Como Mário Bittencourt se posiciona frente às mudanças necessárias?

 

Sempre buscando o melhor para o Fluminense. A minha postura como presidente do Fluminense vai ser uma postura de defesa de direitos do clube a qualquer preço. E as pessoas entendem isso como enfrentamento. Eu não. Entendo isso como uma postura firme, dura, ética, de que o Fluminense deva lutar pelos seus direitos e deixar de ser achincalhado como vem sendo. Como foi no jogo contra o Corinthians na Copa do Brasil, como foi no último Fla-Flu.

 

Na Alemanha, cuja Liga tem a maior média de público do mundo, as torcidas organizadas são tratadas como uma espécie de patrimônio, diferente da criminalização que ocorre aqui. No Fluminense, as organizadas não são nem sombra do que foram, muito menos ativas nas decisões e fazendo a diferença nos jogos. O senhor é favorável ao fomento das TOs?

 

As torcidas organizadas existem, fazem parte da história da arquibancada e você não pode segregar nenhum nicho de torcedores do Fluminense. Já tive reunião com torcedores. Ouvimos mais de 600 torcedores ao longo dos últimos seis meses, para lançar um projeto de gestão com as propostas que nos trouxeram. O que eu disse a eles é que, se eleitos, não teremos nenhuma relação de doação de valores ou ingressos, isso não vai existir. Vai existir um projeto onde eles possam ser parceiros do Fluminense.

 

Por exemplo, serem credenciados pelo clube para vender o Sócio Futebol na arquibancada, ter um projeto de franquia para que eles tenham um bar temático e possam ser revendedores do Fluminense. Desde que com um documento assinado e pautado no Código de Ética. A conduta vai pautar essa relação. Qualquer conduta fora da linha, o Fluminense encerra essa parceria.

 

Por fim, qual a mensagem final que o senhor deseja deixar aos tricolores?

 

Gostaria de agradecer pelo espaço e dizer que Tenório e eu somos os dois candidatos mais experientes, com mais tempo de casa. Tenho 18 anos de trabalho no Fluminense, mais de 20 anos como sócio. O Ricardo, 40 anos como sócio e VP de Futebol duas vezes.

 

Nós temos uma história vinculada à instituição, de ajudar nos momentos de dificuldade. Fomos chamados em 2009, na fuga épica do rebaixamento, e em 2014, na transição da saída da Unimed. Agora queremos uma oportunidade. A gente acha que merece pegar o Fluminense com 100% de chance de ser campeão, começando do zero. É isso que gostaríamos de ter do nosso torcedor.