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Quem fundou o Fluminense Football Club? Oscar Cox, certamente. Mas, além dele, havia todo um grupo de tricolores ilustres – que nenhum de nós é capaz de listar de cabeça. Quem sabe o nome do dirigente que decidiu mudar o uniforme de cinza e branco para o tricolor? Alguém se arrisca? Qual presidente construiu a sede das Laranjeiras? Quem lembra? No Fla x Flu da Lagoa, quem comandava o clube? Quem era o técnico? Tínhamos diretor de futebol? Como se chamava a criatura? Qual dirigente recebeu a Taça Olímpica instituída pelo barão Pierre de Coubertin? E quem fechou acordo para jogarmos no Maracanã, após a Copa de 1950? Quem foram os famigerados responsáveis por nossos sucessivos rebaixamentos no final dos anos 90? Qual era o nome do vice de futebol que montou o time da Taça de Prata de 1970? Quem foi o responsável pela montagem do time do Brasileiro de 1984? E o de 2010? E o de 2012?

 
 
 

Se o amigo tricolor souber as respostas para todas as perguntas acima, pode enviar o currículo para o clube, pois é forte candidato a trabalhar no Flu Memória, nosso departamento histórico. Nós não sabemos as respostas para essas perguntas e isso não nos torna menos tricolores ou ingratos. Na verdade, é bom mesmo que não saibamos os nomes desses cartolas. Isso mostra que nos preocupamos com o que é realmente importante. Conhecemos a história do Fluminense através dos nossos grandes feitos dentro de campo e das grandes conquistas fora dele. Sabemos que a sede das Laranjeiras, com sua clássica arquitetura, é uma joia da cidade. Sabemos que o herói do Fla x Flu da Lagoa foi o goleiro Batatais, que atuou com a clavícula quebrada, da mesma forma que sabemos que Didi, então jogador do Fluminense, fez o primeiro gol da história do Maracanã. Sabemos ainda que só o Fluminense, entre todos os clubes do mundo, possui a Taça Olímpica. E qualquer criança tricolor sabe que Mickey decidiu o Brasileiro de 1970, que Romerito, Assis e Washington eram as estrelas de 1984, que Conca foi o craque do Brasileirão 2010 e que Fred foi craque e artilheiro da nossa gloriosa campanha de 2012.

O Fluminense é isso. O Fluminense são esses ídolos, essas conquistas, essas glórias. É por isso que lamento muito quando – especialmente em anos de eleição no clube – vejo pessoas se digladiando vaidosamente pela propriedade de conquistas que deveriam ser sempre do clube, jamais de um indivíduo em particular. Quem montou o time que hoje briga por vaga na Libertadores? Quem desmontou o time que poderia estar brigando pelo título nacional? Quem é o pai do CT? Quem é a mãe do CT? Quem é o herdeiro da pedra fundamental do estádio, que aliás sequer foi instalada, pois ainda não somos donos de terreno algum? Honestamente, eu desprezo essa ególatra disputa de autoria ou propriedade de sonhos que deveriam ser de toda a torcida tricolor, independente de grupelhos de poder e lideranças momentâneas.

Nelson Rodrigues – que foi mais tricolor do que todos os que hoje batem no peito para desfilar suas formidáveis realizações pelo clube – disse certa vez com grande sabedoria: “O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade. Tudo passará. Só o Tricolor não passará jamais”. Pois esses homens que hoje posam como sendo a personificação do Fluminense, como se fossem ungidos como a reencarnação de Oscar Cox ou a versão em carne e osso do clube das três cores que traduzem tradição, todos esses passarão. Em vinte anos, quase ninguém se lembrará deles. Famosidades tão passageiras quanto tolas. Poder absolutamente momentâneo, insignificância, notas de rodapé na história de um clube eterno. No entanto, permanecerão na história, como sempre ocorreu, os ídolos esportivos, os troféus, as conquistas, as grandes obras.

Ficarão as defesas de Marcos Carneiro de Mendonça, as folhas-secas de Didi, os rushes de Ademir, os lançamentos de Rivelino, os gols de Waldo, Doval, Ézio e Fred. As conquistas inesquecíveis, as vitórias impossíveis e até mesmo as derrotas mais amargas. Ficarão também o nosso necessário Centro de Treinamento e, se Deus permitir, um novo e incrível estádio. Essas são as coisas fundamentais. Isso é o sal da terra. Esses ídolos, eventos e patrimônios representam o espírito do Fluminense – que nunca teve e nunca terá dono, seja ele um presidente ou mesmo um grupo raivoso e intolerante de sócios. Quem compreende verdadeiramente o que é o Fluminense jamais tentará se apresentar como dono de seus ativos, sejam eles físicos ou morais. O verdadeiro tricolor não está preocupado com a sua história ou com o seu legado – mas com a história e o legado do Fluminense Football Club.

Portanto, amigos torcedores, se vocês têm o privilégio de votar nas próximas eleições do clube, não deixem de exercer seu direito – que deveria ser de todos os torcedores, diga-se de passagem. Mas votem no melhor candidato, no mais preparado, no mais competente, no mais corajoso, no que tem maior espírito de liderança, no que melhor compreende a essência desse clube imenso e centenário, verdadeiro farol para as instituições esportivas mundo afora. Não votem naqueles que pretendem posar de donos de um patrimônio físico e espiritual que pertence a todos. Não votem nos que buscam no clube uma escada para o próprio ego. Não votem nos intolerantes que se acham mais tricolores do que vocês. Não votem em quem não sabe o que é torcer numa arquibancada. Não votem em quem está tentando receber milhões do clube na justiça em prol de uma empresa da qual é parte interessada.

Há outras opções além de um Eurico Miranda falido e um preposto sem carisma que se esconde atrás de um grupo com atitudes fundamentalistas e odiosas.

Escolham o melhor candidato, independente de promessas de realizações que ainda estão por vir, como um novo estádio. O melhor presidente para o Fluminense será aquele que tiver maior capacidade de gerir a obra do novo estádio – que certamente virá! – e, mais importante, tiver a audácia de colocar grandes craques para jogar nele. Porque somos um clube de futebol e gigantes de alma são aqueles que ambicionam grandes títulos antes das grandes obras, embora um novo estádio seja indiscutivelmente uma conquista muito ansiada e relevante. O melhor presidente para o Fluminense não é um desconhecido papagaio de pirata que aparece ao lado de um PowerPoint qualquer, vendendo sonhos que serão colocados de pé com ou sem ele. E muito menos o mecenas que acena com um dinheiro que nunca foi seu e que se evaporou por má gestão.

Os dirigentes nunca foram e nunca serão mais importantes do que o Fluminense. Mas desconfiem, amigos – e muito –, daqueles que agem como se fossem.

Que venham logo um novo estádio, um novo presidente e um novo sentido de grandeza para o clube que amamos imensamente.