Arte: Art-Flu

Não nasci tricolor. O Flu me conquistou e  agora nossa história de amor será contada aqui. Estou me sentindo concentrada na elaboração de um discurso para ser dito junto com um “sim” no meio de um casamento. Do meu casamento, com quem vivi todas as emoções que se pode sentir, nos últimos 16 anos.

Fevereiro de 2000. Eu, uma guria sonhadora que aceitou o desafio de ser a única mulher a cobrir um clube por uma emissora de radio brasileira.  Recebi uma ligação de repente. Era um amigo que havia me indicado para ser a setorista do Fluminense e eu começaria no dia seguinte.  Ok. Nunca fui medrosa, mas naquele momento o Flu ja causou um frio na minha espinha.

 
 
 

Escutei e li cada vírgula sobre o time. Quando às 23h59, faltando um minuto para o começo do dia de minha estreia,  ouço o seguinte destaque: “Parreira não é mais técnico do Flu.  Espinosa é o nome mais cotado para substitui-lo ”  Oi????

Sim. Eu iniciei minha cobertura em clube de futebol em dia de mudança de treinador. Isso foi uma espécie de aviso para eu entender que lá dentro viveria sempre fortes emoções. Nada seria morno. Tudo seria muito. Como é até hoje. Como gosto de tudo o que movimento todos os músculos do meu ser, as cores do Fluminense foram desenhando caprichosamente minha história. Nas veias o grená. No coração o verde da esperança  e o branco da paz que é poder ser eu mesma, sem máscaras, nem defesas. Dizendo de mim com o Flu sem papas na língua e nem amarras nas mãos.

2Foi sob os olhares do Cristo redentor na aconchegante sede das Laranjeiras que dei meus primeiros largos passos profissionais. Que aprendi sobre o trabalho que hoje me dá a oportunidade de dar orgulho a minha família. Que me ensinaram como é o jogo da vida. Como rola a bola. Como atacar e aprender a me defender sem ser covarde.  Foi nesse lugar que aprendi a me apropriar do rótulo de guerreira. Vi torcida aplaudir time que perdeu, mas sem ser “derrotado”. Vi pai roubar filho jogador, vi craque pipocar e guri decidir campeonato.

Chorei tanto com o turbilhão de sentimentos provocados nessa mais de década e meia com a fidalguia tricolor no meio da falta de gentileza do dia a dia. Vi dirigente honesto ser injustiçado e gente de má fé ser ovacionada. Com a bola tricolor, conheci lugares e gente que jamais imaginei. Foi num jogo do Fluminense, atrás do gol à esquerda do Maracanã, que meu filho mexeu na minha barriga pela primeira vez. Impossível esconder dos meus ouvintes, telespectadores ou seguidores aquela paixão.

Nunca deixei de ser profissional. E agradeço também às torcidas de outros times que sempre reconheceram e respeitaram minha honestidade e profissionalismo. Ser tricolor nunca me tornou menos jornalista. E não admitir meu time explicitamente seria como esconder da mãe um amor. E é com esta transparência que pretendo estar, a partir de agora, aqui no NETFLU. Emocionada como sempre, por ser meu primeiro texto e muito, muito grata, por ter sido convidada. Mais uma vez, e para sempre, eu digo SIM aos guerreiros.  Bora fazer essa bola rolar com informação,  lealdade e profissionalismo, apesar da PAIXÃO.