Atacante Leonardo fez quadro da camisa usada na decisão de 1995. Foto: Globoesporte.com
Atacante Leonardo fez quadro da camisa usada na decisão de 1995. Foto: Globoesporte.com

O título estadual de 1995, conquistado pelo Fluminense, completará 20 anos nesta quinta-feira e a grande imprensa já prepara uma série de reportagens especiais. O site Globoesporte.com entrevistou Aílton e Leonardo, protagonistas do Fla-Flu antológico e eles recordam histórias importantes daquele campeonato. Confira abaixo na íntegra:

 

 
 
 

VAMOS PARA O CHOQUE

O Fla-Flu do gol de barriga ficou famoso por ter representado o título tricolor. Porém, antes, os times tinham se enfrentado outras três vezes. Em todas, o Flamengo era o favorito, mas não conseguiu vencer. Após um 0 a 0 no primeiro, o Flu se impôs e triunfou por 3 a 1 e 4 a 3. A tática para isso era clara: chegar junto. O campo encharcado na decisão por conta da forte chuva veio a calhar.

 

Ailton – Contra o Flamengo, aprendemos o jeito de jogar. Na época, o Joel, com sua sabedoria, falou: “Vamos para o choque. O Flamengo não gosta de contato”. Então vamos para o choque com eles. O time cumpria rigorosamente, tinha que dar certo.

Leonardo – Nosso time tinha mais força física. O do Flamengo era mais leve… Romário, Sávio… Aprendemos a jogar contra eles pressionando. Sabíamos que íamos ganhar a primeira bola nas divididas. Na final, choveu muito. Tivemos o domínio do jogo decisivo. No primeiro tempo, o Flamengo não jogou.

Ailton – Era para ser uma goleada. Até os 20 do segundo tempo mandamos.

Leonardo – Até a falta cobrada pelo Branco que foi no travessão. Aí foi que o Flamengo jogou.

Leonardo – Depois do gol de barriga, a gente não tinha nem zagueiro mais. Só tínhamos o Ronald e o Márcio Costa. Lima, Sorlei e Lira tinham sido expulsos. Depois do gol, era dedicação total. Não podia acontecer mais nada. O próprio Joel pediu para fechar. Ali coroava o trabalho de seis meses.

 

O DRAMA DE RENATO

 

Ailton – Contra o Flamengo, aprendemos o jeito de jogar. Na época, o Joel, com sua sabedoria, falou: “Vamos para o choque. O Flamengo não gosta de contato”. Então vamos para o choque com eles. O time cumpria rigorosamente, tinha que dar certo.

Leonardo – Nosso time tinha mais força física. O do Flamengo era mais leve… Romário, Sávio… Aprendemos a jogar contra eles pressionando. Sabíamos que íamos ganhar a primeira bola nas divididas. Na final, choveu muito. Tivemos o domínio do jogo decisivo. No primeiro tempo, o Flamengo não jogou.

Ailton – Era para ser uma goleada. Até os 20 do segundo tempo mandamos.

Leonardo – Até a falta cobrada pelo Branco que foi no travessão. Aí foi que o Flamengo jogou.

Leonardo – Depois do gol de barriga, a gente não tinha nem zagueiro mais. Só tínhamos o Ronald e o Márcio Costa. Lima, Sorlei e Lira tinham sido expulsos. Depois do gol, era dedicação total. Não podia acontecer mais nada. O próprio Joel pediu para fechar. Ali coroava o trabalho de seis meses.

 

JOGADA ENSAIADA

 

Os dois cortes secos em Charles Guerreiro antes do chute cruzado que pegou na barriga de Renato Gaúcho fizeram Ailton entrar para a história do Fluminense. A jogada começou a ser ensaiada em um coletivo na semana decisiva.

Ailton – O único drible que eu tinha era aquele (risos). Por ter muita força, facilitava. Teve um gol assim no treinamento da semana da decisão, se não me engano no gol do lado da piscina, nas Laranjeiras. Não lembro quem levou os dribles, só sei que não foi o Charles Guerreiro (risos).

O Charles é meu amigo, estamos sempre conversando. Jogamos contra em Belém. Não merecia ter sido com ele o lance. Ralava muito. Cobriu o Branco na jogada. Quando vi, eu estava dentro da área e pensei: “Vou tentar”. Quando fui chutar ele marcou, quando fui de novo ele marcou novamente. Aí eu já não tinha mais perna. Bati e aconteceu o gol. Foi milagre de Deus. Fomos corados com o título.

 

FOGO INIMIGO

 

O Fluminense passou todo o Campeonato Carioca se concentrando em um hotel na Rua Gustavo Sampaio, no Leme. No entanto, a rotina foi quebrada na véspera da decisão. O técnico Joel Santana foi alertado sobre os planos de torcedores do Flamengo de fazer uma grande foguetório na madrugada, para perturbar o sono tricolor. A delegação fingiu sair para o cinema, mas foi para um hotel em São Conrado.

Ailton – Um rapaz ali do Leme, onde estávamos concentrados almoçando, disse para o Joel que iam soltar fogos para atrapalhar nosso sono às 2h. Aí contaram que a gente ia para o cinema e mudamos de hotel. Realmente dizem que o foguetório foi brabo.

Leonardo – Parece que teve um hóspede que fraturou o braço porque levou um susto e caiu. Teve que ir para o hospital.

Ailton – E a gente tranquilinho dormindo (risos). Saímos na frente.

 

A PRANCHETA DO JOEL

 

Joel Santana foi um dos grandes nomes do título tricolor. O treinador fez de um time pouco badalado campeão. Para Ailton, o técnico conquistou o elenco logo após a derrota por 1 a 0 para o Madureira, em Conselheiro Galvão, na estreia do Carioca.

Ailton – A gente estreou perdendo para o Madureira. O que me motivou foi que o Joel, depois dessa derrota, nos reuniu e disse que quem não acreditasse poderia ir embora. Comentei com minha mulher que gostei muito daquilo. Ele foi muito positivo, acreditou que poderíamos ser campeões.

Leonardo – Ele sabia trabalhar muito bem com todos os jogadores, até mesmo os que não estavam sendo aproveitados. Fazia com que o jogador a qualquer momento pudesse ser utilizado. Isso fazia o pessoal se dedicar mais.

Ailton – Era um cara que sabia levar bem o grupo. A parte tática era muito bem executada. Brincava muito, mas sempre com respeito, com a distância certa. As ideias dele, as mudanças… a pranchetinha, que ele não anotava nada mas sempre saía algo dali (risos). Ele foi fundamental. Ele me ganhou naquele início. Eu sempre entro para vencer, por isso que não jogo nem mais pelada contra porque me conheço. Ninguém me segura. Quando ele falou aquilo lá no início, falei com minha esposa que íamos chegar. Esse é o Joel.

 

 

AMIGO É O QUE CHEGA NA VOADORA

Na quarta rodada do octogonal final, o Fluminense foi enfrentar o Volta Redonda fora de casa. No segundo turno, o Voltaço havia derrotado o Flu no Raulino de Oliveira. O jogo foi difícil, com jogadas ríspidas. Na segunda etapa, o Flu vencia por 2 a 1, quando Leonardo parou na frente do goleiro Sandro e cuspiu. Recebeu um chute, caiu e o pênalti foi marcado. Ainda no chão, viu o goleiro vindo em sua direção. Ailton chegou antes e acertou um soco no arqueiro, iniciando uma confusão generalizada. O Tricolor venceu por 3 a 1 (Lira perdeu ainda o pênalti da confusão).

 

Ailton – Fui expulso por causa dele, né. O cara ia chutar ele no chão, aí dei no goleiro, no Sandro.

Leonardo – Disseram que eu dei uma cusparada, mas eu só ameacei. Aí o goleiro me chutou e o juiz deu o pênalti. No que eu caí, ele já ia para cima de mim.

Ailton – Quando eu vi, eu fui e dei nele (risos). Aí depois veio aquela zagueirada grande pra cima de mim (risos).

Leonardo – Acabou que fiquei três jogos suspenso.

Ailton – Eu peguei um só (risos). Hoje, o Sandro é meu amigo. Quando fui trabalhar no Volta Redonda, fiquei com medo. Achei que ele ia me meter a pancada (risos). Mas é um cara manso demais. Pedi desculpas a ele, que me disse que era coisa de jogo.

 

SUPER ÉZIO ETERNO

 

Ézio foi um dos grande ídolo do Fluminense nos anos 1990. Chegou ao clube em 1991 e o último jogo que disputou foi o Fla-Flu decisivo. Na reta final da competição, perdeu a posição para Leonardo e entrou em campo na decisão após o Flamengo empatar. Participou do início da jogada do gol de barriga. O centroavante, que fez 118 gols pelo clube, é o décimo maior artilheiro da história tricolor. Morreu em 2011, vítima de câncer de pâncreas.

Leonardo – O Ézio era um exemplo. Tinha uma importância enorme, era o ídolo da torcida, mas era o mais humilde. Não era de conversar muito, mas tudo que falava com ele, era de uma dignidade grande. Quando comecei a jogar, ele nunca se manifestou contra. Nunca fez pressão para tentar voltar. Fui buscando meu espaço, mas sempre dentro de um respeito muito grande a ele, um dos maiores goleadores da história do Fluminense.

Ailton – Era um cara sensacional, humilde, gente boa demais…

Leonardo – Eu nunca tinha o ouvido falar que ia sair após o Carioca. Acho que foi justamente depois do título que surgiu o Atlético-MG.

 

REI DO RIO

 

Após o fim do último treinamento antes da decisão, Renato reuniu o elenco no centro do gramado das Laranjeiras. Chorou copiosamente. Talvez lembrando todas as dificuldades pelas quais o elenco passou até chegar o momento de decidir o título.

Ailton – Uma coisa que foi bem marcante para mim antes da final foi o que aconteceu após o recreativo da véspera. Renato reuniu todo mundo no meio do campo em uma roda e foi para o meio. Começou a chorar. Todos se emocionaram e pensamos: “Não tem como, tem que ser nosso”. Esses detalhes só nos fortaleceram. Por isso que digo que não podíamos colocar o dinheiro como meta principal.

Eu o conhecia bem o Renato e sabia que ele só precisava entrar em forma. Não foi importante só a situação de campo, mas o que o Renato representava. É um ídolo, e nós precisávamos de uma referência. Ele foi essa referência. Foi o tempo todo. Passamos sufoco na parte financeira, com três meses de salários atrasados, e o Renato pagou a conta de muita gente. Acho até que nem recebeu depois de ninguém. Nessa parte ele também ajudou muito. Dentro de campo ele também foi fundamental para a equipe. Digo que aquele foi um dos melhores times que joguei na parte tática. Era perfeito. Isso que fez a diferença. E nossa amizade era muito grande. Abrimos mão do dinheiro, que sabíamos que ganharíamos se fôssemos campeões. Conseguimos deixar de lado, o que é difícil. Concentramos só no título. Não tinha como dar errado.

 

O CARRASCO DA COLINA

 

Um dos jogos mais importantes da campanha tricolor foi a vitória por 3 a 2 diante do Vasco na terceira rodada do octogonal. O Flu chegou no clássico com apenas um ponto, conquistado em empate diante do America. Havia perdido para o Botafogo na sequência. Após estar atrás duas vezes no placar, virou contra o Vasco. Leonardo marcou duas vezes no time que o dispensou em 1993.

Leonardo – Fiz dois gols naquele jogo contra o Vasco. Entrei no intervalo, aí marquei o gol do 2 a 2 e o da virada. Foi a arrancada para ganhar o título.

– Sabíamos que precisávamos vencer de qualquer jeito aquele jogo, senão estávamos fora. Nós vencemos e, a partir dali, colocamos na cabeça que tínhamos tudo para sermos campeões. Fomos. E porque merecemos. Criamos uma amizade muito grande, todos se cobravam.

Claro que o gol da final é marcante, mas estes dois contra o Vasco também. Eu tinha saído de lá dois anos antes sem ter tido muitas oportunidades. Foi bom para mostrar o meu valor para algumas pessoas também, que não me consideraram. Me marcou muito.


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