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22

Beto Sales
 

1995. Ano do Centenário do Flamengo. A mídia esportiva em estado de excitação hormonal, o afetado Kléber Leite arrombando o cofre para montar um elenco estelar: Romário, Sávio, Edmundo, Branco, e outros bons coadjuvantes. Do outro lado, o indomável Fluminense, um rival castigado por dez anos de omissão e incúria, esforçando-se para recuperar sua imensa luz, sua sina de vencedor. Dez anos. Nunca jejuamos por tanto tempo. O Carioca era nossa capitania, reinamos nele por todo um século. Mas há inacreditáveis 10 anos não o ganhávamos. Aquele Carioca estava moldado sob medida para que a massa celebrasse, empurrada por uma mídia, a epifania de uma conquista épica. Tudo prontinho para que os fatos fizessem sua parte, mas os fatos têm humor próprio, são refratários a profecias de apressados. Principalmente quando os fatos precisam se sobrepor à aura de uma instituição única, cuja história foi marcada pela recusa ao impossível. O Fluminense começou o Carioca com sua expectativas resumidas a fazer um bom papel no campeonato. A contratação do ganhador recorrente de cariocas, Joel Santana, fazia dessa esperança algo tangível. Lembro-me bem de uma matéria-clichê com personalidades do Rio sobre previsões para o Carioca. O Bismarck, que à época brilhava no Japão, cravou a resposta antecedida por uma pergunta: “Qual é o time que será treinado pelo Joel Santana? O Fluminense? Então o favorito é ele”. Profético como as sete pragas. Mas o Fluminense, com suas contas combalidas, faria ainda um esforço adicional para tornar o time competitivo em um campeonato com as cartas marcadas: a contratação do cracaço Renato Gaúcho. Aos 33 anos, e muito questionado por sua capacidade de ainda jogar no nível que o consagrou, o grande Renato estava em Búzios, passando férias, quando recebeu a visita do Alcides Antunes. O Fluminense devia três meses de salários, tinha um elenco pouco competitivo, apresentar ao craque uma proposta era no mínimo uma ousadia. E talvez essa ousadia, essa coragem de ser o Fluminense histórico quando os fatos teimavam em nos diminuir, tenha sido vital para que o futuro Rei do Rio aceitasse o desafio. Era o Fluminense, e com o Fluminense não se brinca. Havia mais, havia ainda a rejeição do Joel, que se recusava a trabalhar com o craque, temendo seu falso histórico de desagregador. Joel cedeu, e nesse gesto se inscreveu para sempre em nossa história, que é a mesma história do futebol brasileiro. Chegamos à final desacreditados até pelos micos-leões de Silva Jardim. O adversário era obviamente o Flamengo, e não apenas o Flamengo das estrelas, era o Flamengo das estrelas precisando do empate. Nosso time, bem ajustadinho, era mediano. Uma defesa apenas razoável(Wellerson, Ronald, Lima, Sorley e Lira), onde o único destaque era o ótimo Lira. Um meio de campo que começava com um zagueiro limitado improvisado de volante, Marcio Costa; dois meias de bom nível, Djair e Aílton; e se completava com o bem mais-ou-menos Rogerinho, um Marquinho anos 90. Na frente, um esforçado Leonardo e…e…ele, o craque Renato Gaúcho. O resto é história. Ai, Jesus. 22 anos depois, 22 jogadores em campo, com o gol de barriga saindo depois de um placar 2×2, os 22 arcanos do tarot indicam que no próximo domingo o 22 regerá nosso destino, talvez aos 22 do segundo tempo. Fluminense Futebol Clube, por sinal, 22 letras. A quem, por excesso de confiança, me toma por maluco, sem problema: assino embaixo a carteirinha 22.            

Tricolor, engenheiro sem CREA, administrador, com especialização em marketing.
Vida seguindo, exerci várias funções públicas nas áreas de educação e cultura.
Tricolor, integrei conselho de empresas, projetos e ongs, o que não me impediu de ser professor universitário por tempo curto de tanto, nem de depois sentar praça em sociedades em empresas na área de marketing.
Tricolor, fui colaborador de alguns blogs e portais.
Tricolor, tenho dois livros, sete filhos tricolores, e plantei árvore na conta de mata. Hoje sou sócio de uma agência de comunicação estratégica e especialista em contemplação. Ah, e tricolor.

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